Liturgia: no caminho para a volta ¨¤s fontes
Jackson Erpen ¨C Cidade do Vaticano
Em nosso Espaço Memória Histórica ¨C 50 anos do Concílio Vaticano, vamos continuar a falar no programa de hoje sobre Liturgia, abordando o tema ¡°No caminho para a volta às fontes¡±.
Temos tratado nos últimos programas, sobre a importância da formação litúrgica de seminaristas, sacerdotes e do povo de Deus, visto a Liturgia ter a força de ¡°tornar possível o impossível, tornar visível o invisível¡±. Os símbolos usados ¨C de fato - como o pão, o vinho, a água, o óleo, as palavras, nossos gestos, devem remeter ao invisível. Por isso o cuidado no seu estudo, preparação. O bispo também tem este papel de ¡°guardião da liturgia¡±, pois por ela é o primeiro responsável, moderador, coordenador.
A liturgia como a vivemos hoje, é fruto da reforma ¡°¡± ¨C como disse o Papa Francisco - trazida pelo Concílio Vaticano II. E suas fontes encontram-se já nos movimentos litúrgicos dos anos 20 e 30. Padre Gerson Schmidt, no programa de hoje, nos fala sobre o tema ¡°No caminho para a volta às fontes¡±:
A geração dos movimentos litúrgicos dos anos 20 e 30 é que tem encontrado suas expressões na Constituição conciliar e de maneira particular as ideias de Romano Guardini e de Pius Parsch. Um era um pensador sutil na investigação das leis internas do culto divino e o outro, o zeloso pastor de almas que queria adentrar o povo de Deus nos tesouros do Missal Romano e na oração das horas eclesiásticas, a Liturgia das Horas. Porém, nem um nem outro, eram investigadores, propriamente ditos, no caminho da história litúrgica, na busca da volta à fontes, tão querida e desejada na renovação trazida pelo Concílio, sobretudo na intenção de Paulo VI. Sobretudo faltava para os pesquisadores ter tido contato com a liturgia da Igreja do Oriente. Nem se fala na liturgia oriental, a riqueza das variadas e expressivas anáforas ¨C as mais belas preces eucarísticas que hoje também temos disponíveis na Liturgia Romana.
Os esforços de Pius Parsch em favor de uma liturgia popular, durante os anos 30, é criticado por alguns como uma supervalorização da participação ativa dos fiéis na missa, associada a ideias históricas a respeito da missa na Igreja primitiva. Por influência de Pius Parsch a língua vernácula fez sua entrada na liturgia romana, ainda que por vezes como uma ¡°via paralela¡± ao lado do latim do sacerdote celebrante principal.
Durante os anos em que se desenvolveu o movimento litúrgico, depois da primeira guerra mundial, as ciências litúrgicas se encontravam em seus princípios. Considerava-se o estudo da liturgia mais como o estudo das rubricas, constituindo, neste sentido, uma parte da pastoral. Os poucos investigadores que se dedicavam à história do culto divino, como os beneditinos G. Morin, C. Mohlberg ou A. Dold, entre outros nomes, não tinham muita formação. Sua esfera de influência estava limitada. Em todo caso, a pastoral apenas beneficiava o resultado de suas investigações.
O movimento litúrgico, pouco a pouco, como ciência litúrgica começou a se ocupar do que se tinha descuidado no passado. Restaurou-se com uma busca sistemática das fontes do culto divino; e os ricos tesouros das liturgias orientais não foram precisamente os últimos em ser mais e mais explorados. Ao mesmo tempo, foi reconhecida a necessidade da arqueologia cristã para a história da liturgia ¹.
Um dos pesquisadores, nesse caminho da busca das fontes, foi Mons. Klaus Gamber, que não se pode dizer que tenha sido um ¡°rato de biblioteca¡±, fechado em seus resmungos, mais um grande pesquisador histórico, enaltecido e reconhecido pelos liturgistas e teólogos. Herdeiro dos grandes liturgistas do começo do século, esforçou-se em considerar a liturgia como fonte primordial e indispensável do verdadeiro espírito cristão, segundo as palavras de São Pio X.
E é sob ângulo arqueológico que estudou as reformas do pós-Concílio. Os estudos científicos de Mons. Klaus Gamber são hoje uma riqueza de primeira importância. Sua última obra ¡°Fragen in die Zeit¡± (que do alemão significa ¡°perguntem no tempo¡±), onde adota uma posição crítica com relação a todos os temas litúrgico de nossos dias, parece um testamento dirigido a toda a Igreja. A bibliografia que se encontra em suas obras compreende 361 títulos. O primordial da obra de Klaus Gamber é ter mostrado que a árvore da vida litúrgica da Igreja, plantada desde sempre, desde sua origem, somente poderá vicejar se afundar cada vez mais profundamente suas raízes no húmus da grande tradição eclesial. O Cardeal Ratzinger, falando dele, declarava recentemente que era ¡°o único sábio, frente a um exército de pseudo-liturgistas, cujo pensamento brotava verdadeiramente do coração da Igreja¡±.
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¹ cf. introdução de Monsenhor Klaus Gamber, Reforma da Liturgia Romana, disponível em http://www.unavocesevilla.info/reformaliturgia.pdf
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