Retiro espiritual: a ora??o sincera ¨¦ arma poderosa para o advento do Reino
Cidade do Vaticano
¡°Combate e oração¡± parece quase o título de um filme. As prementes histórias bíblicas que o sacerdote jesuíta Pietro Bovati traçou, na manhã desta quinta-feira (05/03), na sétima meditação dos Exercícios espirituais para a Cúria Romana em Ariccia, têm realmente sabor cinematográfico.
Com uma chave de leitura: a Igreja encontra-se sob violento ataque, abertamente e sorrateiramente, mas a resposta está precisamente na conjunção entre testemunho concreto e oração autêntica. Sem cessar, sem resignar-se e jamais sozinhos, e além disso, com uma arma secreta: aquela fé que sim, realmente, move as montanhas.
O dom da graça
A quinta-feira foi ¡°dedicada a meditar sobre o compromisso pessoal que o Senhor pede a cada um de nós, em função da vocação recebida, do dom de graça, com os deveres relacionados a essa graça¡±, evidenciou o pregador, recordando que ¡°toda forma de negligência, de preguiça, equivale a maldade e desprezo em relação a Deus¡±.
Sem dúvida, afirmou o secretário da Pontifícia Comissão Bíblica, ¡°hoje, numa sociedade doente, ferida, abandonada, diante de necessidades urgentes e dolorosas, o sacerdote é solicitado a prestações múltiplas. Todavia, isso não deve levar a perder de vista o essencial¡±.
Serviço essencial do sacerdote: a oração
Padre Bovati indicou sobretudo ¡°a oração¡± que, ¡°além de ser a condição da escuta de Deus que torna possível a pregação como autêntico testemunho, ela mesma é autêntico ministério apostólico na sua natureza de acolhimento, reconhecimento da graça¡±.
E ¡°a Escritura nos oferece um modelo deste ministério permanente de intercessão no Livro do Êxodo ¨C explicou o pregador ¨C propriamente com a figura de Moisés, mediador não somente da Palavra de Deus, mas também mediador da graça para um povo em constante perigo de perder-se¡±. Moisés ¡°reza continuamente e a sua oração é eficaz e salvífica¡±.
Atualizando ¡°o ministério orante de Moisés¡±, como é apresentado ¡°na narração do capítulo 17 do Êxodo, num contexto de perigo¡±, padre Bovati sugeriu como linha da meditação, exatamente, a expressão ¡°combate e oração¡±.
Encontramo-nos diante de ¡°um episódio incomum para o Êxodo: o apresentar-se de um combate que deve repelir um povo inimigo, Amalec¡±. O texto, observou o pregador, deve ser lido ¡°em seu valor parabólico, de modo a obter um ensinamento sobre como aquele que na comunidade é sacerdote e guia deve agir ao enfrentar o inimigo, aquele que ameaça a vida do povo de Deus¡±.
Moisés tem diante de si ¡°um adversário astuto que agride os mais fracos da caravana, aqueles que ficam na retaguarda porque cansados, um inimigo que aproveita de um povo exausto¡±.
Mas nós ¡°como vivemos hoje a relação com Amalec e quem é Amalec hoje?¡± ¨C é a questão concreta proposta pelo pregador dos Exercícios espirituais. ¡°A Igreja cristã, desde seus primeiros momentos, sofreu ataques, perseguições, ostracismos e violências mortais¡±.
A rocha sobre a qual a Igreja é edificada resistirá ao mal
Na história ¡°o inimigo da Igreja assumiu diferentes aparências, por vezes a do poder político e judiciário, por vezes a dos falsos profetas que semearam ódio e menosprezo contra as convicções e o modo de viver dos cristãos. E isso continua em nossos dias, sob formas persecutórias¡± mais ou menos evidentes.
Uma perseguição, denunciou, que tem notas de ¡°virulência inaudita também em nosso mundo, no intento de demolir a estrutura completa da Igreja, atacando quem é mais fraco na fé, escassamente preparado do ponto de vista espiritual para aceitar o embate, o desprezo, e a marginalização¡±.
Eis que, afirmou o religioso jesuíta, ¡°o nosso Amalec tem forma atraentes para muitos e ataca sorrateiramente quem não está preparado. Enormes forças ideológicas e financeiras, coalizadas para favorecer interesses de parte, tornaram-se ameaçadoras e usam todos os meios, da informação distorcida a retaliações econômicas para destruir aquilo que Cristo fundou¡±.
É claro, relançou padre Bovati, ¡°a rocha sobre a qual a Igreja é edificada resistirá ao mal, não porém sem a nossa participação ativa de fé e a oração¡±.
Formação humana e espiritual, prioridade apostólica
¡°Metáfora à parte e pensando aquilo que hoje nos é exigido para combater o bom combate do Reino de Deus ¨C afirmou o pregador, apresentando a figura de Josué que desce ao campo de batalha ¨C, devemos interrogar-nos com quais instrumentos enfrentamos quem, com o engano e a violência, dificulta o bem.¡±
Além disso, ¡°as instituições tradicionais consideradas úteis talvez requeiram mudanças corajosas¡±. Por isso, reconheceu, ¡°a formação humana e espiritual dos clérigos e dos leigos se mostra hoje uma prioridade apostólica¡±.
Imersão em Deus, condição indispensável
Com eficácia, padre Bovati delineou o perfil de Moisés em oração, com ¡°o olhar voltado para Deus, não porque se desinteresse da batalha, mas porque quer endereçá-la à mais completa vitória. Moisés no monte representa a força secreta que conduz o exército ao triunfo: a imersão em Deus é a condição indispensável para que o combate na terra tenha bom êxito¡±.
Sim, ¡°a vitória se alcança com os braços elevados, com o gesto tradicional do orante: o êxito da guerra não está nas mãos do guerreiro, Josué, mas nas mãos de Moisés que invoca Deus¡±.
Com uma observação sobre o ¡°aspecto da fadiga de quem está com as mãos elevadas, uma exaustão diferente da dos combatentes, e no entanto real. E é com ¡°humildade que para realizar a sua missão Moisés se deixa ajudar pelos sacerdotes, Aarão e Cur, que sustentam os braços do homem de Deus¡±.
Em suma, ¡°cada um é indispensável, mas é na comunhão, expressão orante da aliança entre irmãos e com Deus, que a oração é eficaz, também porque expressa o amor, a solidariedade, a unidade, no idêntico serviço para todo o povo de Deus¡±. Por conseguinte, a sugestão é não pensar no desdobramento entre oração e contemplação de um lado e combate e ação de outro¡±.
A passagem do Evangelho de Mateus (17, 14-21) ¡°fala de combate com satanás¡±, prosseguiu padre Bovati, indicando a figura do ¡°jovem às presas com pulsões que não sabe controlar e é o símbolo da pessoa sofredora e indefesa, em grave perigo porque desprovida daqueles recursos que lhe permitiriam aderir ao bem¡±.
Apelo à força divina
A seu lado ¡°está o pai, testemunha do sofrimento do filho¡±: para salvá-lo se dirige aos discípulos ¡°que o Senhor havia dotado do poder de expulsar os demônios e de curar toda forma de mal¡±.
No entanto, nesse episódio, observou o pregador, ¡°os discípulos do Senhor não conseguem nada, a atividade deles é ineficaz, a intervenção deles é desprovida daquela força espiritual para combater o espírito do mal¡±.
E esse é ¡°o enigma da narração: por que falta a eficácia? Porque o poder, mesmo tendo sido dado, não dá resultado? Jesus fala da falta de fé, de ¡°geração incrédula e perversa¡±.
Padre Bovati explicou que não falta ¡°somente a oração¡±. A questão, efetivamente, é se os discípulos ¡°têm ao menos um pingo de f顱.
De resto, concluiu convidando à leitura do Salmo 121, ¡°a oração não é simples recitação, não consiste na formalidade dos lábios: se o coração não adere ao mistério de Deus a oração é vã. Porém, uma oração mesmo fraca, sincera e humilde, se é apelo àquela força divina que pode existir somente no Senhor, é a arma poderosa que nos é dada para colaborar para o advento do Reino¡±.
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