Quaresma: fazer o bem como se nossas m?os fossem m?os de Deus
Adriana Masotti ¨C Cidade do Vaticano
Na narração do Êxodo, o deserto é o lugar da providência. O lugar onde o Senhor ¡°se revela como o Deus da aliança com Israel, o Deus bom e fiel, e ao mesmo tempo, como o soberano onipotente ao qual estão submetidas todas as forças cósmicas¡±. Padre Pietro Bovati prossegue a sua reflexão quaresmal, que chega na sua sexta etapa, citando uma passagem bíblica que por um lado mostra o Senhor ¡°como artífice da história da salvação¡±, e de outro ¡°não sublinha suficientemente um outro aspecto importante, ou seja, a livre expressão dos homens, seu consenso ou a sua rebeldia para com Deus. Porém, sem a atividade humana ¨C observa o teólogo jesuíta ¨C a história assume uma imagem deformada ¡°na qual Deus atua, sim, admiravelmente¡±, mas o homem corre o risco de ser reduzido ¡°a puro objeto passivo¡±. ¡°Portanto, paradoxalmente, para exaltar Deus na sua obra, chega-se a dizimar o próprio ápice da criação, formado pelo homem livre e artífice do seu destino, porque foi criado a imagem e semelhança de Deus¡±.
Os textos bíblicos são complexos e muitas vezes complementares, afirma padre Bovati, e muitos deles mostram que o Senhor no seu agir considera as resistências dos homens e deseja sempre suscitar uma resposta, não se impõe e deseja uma relação com a criatura ¡°mesmo de cooperação, de corajosa colaboração¡±, a ponto que do homem, em um certo sentido, depende a realização da ação salvífica de Deus nos acontecimentos humanos.
O deserto ¡°figura da vida¡±
Os 40 anos passados no deserto significam toda uma existência, o deserto é representação da nossa terra, onde o homem sofre, mas onde Deus se revela e o faz ¡°na própria ação dos seus servos¡±. Padre Bovati reitera um ponto fundamental: ¡°É preciso assumir com responsável obediência a tarefa de fazer o bem como se as nossas mãos fossem as mãos de Deus¡±. E isso se realiza quando o servo de Deus vive a dupla virtude da escuta: a escuta da voz de Deus e a escuta do grito do povo que lhe foi confiado.
O deserto, repete o pregador, ¡°é figura da vida¡±. É um tempo que pode se tornar tentação, ¡°é o nosso tempo, o tempo do homem¡±. Deus coloca o seu povo à prova para que amadureça na fé e ao mesmo tempo estimula os homens capazes de ajudar os que estão sob prova, como no caso de Moisés. Ele escuta o grito dos sofredores, mesmo se manifestado debilmente e se os pedidos da sua gente o colocam em dificuldade porque ele mesmo não sabe como responder. Mas escuta porque Deus faz assim. ¡°Mesmo as nossas orações, são sempre muito imperfeitas e principalmente, o grito do povo sofredor, muitas vezes é turbulento¡±. Então Moisés invoca com fé o Senhor na oração que vence a tentação e recebe resposta.
Ao amar, ensina-se amar
O pregador introduz um novo conceito: na narração bíblica se diz que ¡°naquele lugar o Senhor impôs ao povo uma lei e uma ordem¡±. ¡°Isso significa ¨C explica o pregador ¨C que no próprio ato do socorro, deve ser inculcada a relação obediente com o Senhor¡±. Portanto, ao amar ensina-se amar, ¡°na obra de misericórdia corporal se faz também a obra de misericórdia espiritual, alcança-se o coração das pessoas, colocando-os na condição de crer em Deus e de agir como Deus quer, ou seja no amor¡±.
Por fim padre Bovati fala sobre a passagem evangélica do juízo final. Todo o juízo está centralizado em uma só coisa: na ajuda ou na falta de ajuda para com os mais necessitados. Portanto há uma concretitude do fazer, que exige a dedicação a um corpo que sofre, mas também do coração do sofredor. Nos mais necessitados, diz o Evangelho, há Jesus mas, pergunta-se o pregador, ¡°como é possível ver que nós socorremos Deus quando nos dedicamos aos mais necessitados? Como os nossos olhos de carne podem realmente ver que é assim?¡±. Então conclui: ¡°É sem ver que nós amamos, sem glória, sem honra, no doar-se até morrer, há a plenitude do bem, há a bênção do Pai na vida¡±.
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