O desfecho do incêndio de Moria, na Ұé: crianças dormem ao relento, denuncia o Unicef
Marco Guerra, Andressa Collet - Pope
O Unicef, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, que sempre esteve na linha de frente de assistência aos menores, informa que, após os incêndios que devastaram o campo de refugiados de Moria na ilha de Lesbos na noite entre 8 e 9 de setembro, todas as 406 crianças desacompanhadas identificadas que viviam no local foram imediatamente recebidas num centro do Unicef e transferidas para a cidade grega de Salonica. Cerca de 13 mil migrantes ficaram desabrigados depois que as chamas praticamente devastaram o acampamento.
Em Atenas, o trabalho é justamente para tentar oferecer um acolhimento alternativo para os refugiados que ficaram sem um teto. Cerca de 800 pessoas que escaparam do incêndio foram transferidas para um novo acampamento temporário que está sendo instalado, também na ilha de Lesbos. Porém, a grande maioria ainda está dormindo na rua ou pelas calçadas, e estão sendo assistidas - de alguma forma - por organizações humanitárias.
Von der Leyen: uma nova gestão das migrações na UE
Em seu primeiro discurso sobre o estado da União em Bruxelas, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, anunciou "que o Regulamento de Dublin será abolido e substituído por um novo sistema de gestão da migração em nível europeu". Segundo ela, serão disponibilizadas estruturas comuns para asilos e repatriamentos" para viabilizar “um mecanismo de solidariedade muito forte e eficaz". Além disso, a comissão está trabalhando com a Grécia para um novo campo de refugiados na ilha de Lesbos.
3800 crianças ainda em Lesbos
O representante grego do Unicef, Luciano Calestini, comentou que os esforços por parte do governo da Grécia para criar uma nova estrutura temporária, a poucos quilômetros do Centro de Registro e Identificação de Moria, destruído, “são certamente consideráveis” para acolher “até 12 mil pessoas em poucos dias”. Entretanto, o órgão das Nações Unidas para a Infância lembra que, apesar desses esforços, 3.800 crianças permanecem em Lesbos, com suas famílias, e ainda não têm acomodação adequada e acesso a serviços básicos: "a esperança imediata é que esta nuvem negra tenha um lado positivo, que não só melhore drasticamente as condições para os refugiados, migrantes e requerentes de asilo, mas que esse trágico evento acelere uma solução duradoura para todos".
Educação e segurança para as crianças
O Unicef tem procurado garantir o acesso à educação nos acampamentos das ilhas gregas. "Em um acampamento que abriga o dobro de crianças que poderia acolher, elas precisam de tudo. Tendas foram fornecidas após o incêndio, cuidamos da parte educativa e fazemos prevenção contra a violência e os abusos que possam sofrem. Ainda está sendo feito um trabalho logístico a favor daqueles que não conseguem encontrar os próprios pais", comenta o porta-voz italiano, Andrea Iacomini.
5 migrantes suspeitos pelo incêndio foram presos
Enquanto a Alemanha anunciou que deve acolher mais de 1500 migrantes provenientes de 5 ilhas gregas, a polícia grega prendeu 5 migrantes e deteve outras 13 pessoas no âmbito das investigações sobre as causas do incêndio. Segundo o ministro grego da Proteção Civil, essas prisões retiram “a hipótese de que um grupo de extremistas tenha ateado o fogo". De acordo com fontes policiais, os suspeitos são cidadãos afegãos cujos pedidos de asilo foram rejeitados.
O novo pacto da UE para as migrações
"A boa notícia é a transferência segura de mais de 400 crianças, mas ainda há muitas outras que enfrentam noites ao ar livre. Certamente a necessidade é que todas as crianças sejam transferidas para outras instalações”, comenta o representante do Unicef na Itália. Ele acredita, ainda, que o verdadeiro teste para uma Europa capaz de planejar uma abordagem comum a esse fenômeno será o "pacto sobre as migrações e asilo": "ali vamos entender se existe uma vontade real de mudar as coisas ou se encontraremos uma outra Moria diante dos nossos olhos".
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