S¨ªnodo, reflex?o sobre as mulheres e os leigos e o convite a ouvir os que se sentem exclu¨ªdos
Salvatore Cernuzio ¨C Pope
Com votos de feliz onomástico ao Papa e a todos aqueles que têm os nomes Francisco e Francisca, na manhã deste 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis, teve início a II Congregação Geral da Assembleia do Sínodo sobre a Sinodalidade. Na Sala Paulo VI estavam presentes 351 membros que ouviram os relatórios das Cinco Mesas em vários idiomas, dos quais emergiram perguntas em comum sobre o próprio conceito de sinodalidade, ¡°não como uma técnica, mas como um estilo¡±, e sobre questões como o papel das mulheres, a presença dos leigos, a escuta ¡°ativa¡± das ¡°pessoas que não se conformam com os ditames da Igreja¡±. A mesma Igreja que ¡°em um mundo de órfãos¡± pode representar ¡°a família daqueles que não têm família¡±, disseram os oradores dos Grupos, conforme relatado na coletiva de imprensa diária na Sala de Imprensa vaticana pelo Prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, e Sheila Pires, respectivamente presidente e secretária da Comissão para a Informação.
Nem todos os carismas devem ser ministérios
Em particular, referiram, esta manhã na Sala Paulo VI ¡°foi recordada várias vezes a imagem da Igreja como Corpo de Cristo, que, portanto, reúne muitos membros, ou seja, muitos ministérios e carismas, mas em um único corpo¡±. E, nesse sentido, foi analisado o tema do papel das mulheres e dos leigos. ¡°As distinções são necessárias¡±, foi dito, ¡®todos os carismas são importantes, mas nem todos precisam necessariamente ser ministérios¡¯.
Papel e contribuição das mulheres
Alguns grupos, destacaram os relatores, foram solicitados a refletir, sem ¡°abordagens ideológicas e preconceituosas¡±, sobre se certas questões ¡°são apresentadas por moda e ideologias ou por um verdadeiro discernimento eclesial¡±. Dentro dessa mesma estrutura, foi reiterado que ¡°a dignidade da mulher é conferida a todo crente no batismo¡±, enquanto que, sobre as ordens sagradas para as mulheres, foi solicitado ¡°aprofundar o estudo de certos ministérios, como o ¡®ministério da consolação¡¯¡± e ¡°não perder a ênfase sobre a contribuição das mulheres no passado e no presente¡±.
Houve uma forte demanda dos membros do Sínodo por uma ¡°igual dignidade e corresponsabilidade de todos os Batismos para a Igreja¡±. Com base nisso, a ¡°inclusão de mulheres, leigos e jovens nos processos decisórios da vida da Igreja¡± pode ser justificada. E ainda sobre o relacionamento homem-mulher, alguns grupos pediram para ¡°identificar os medos e receios por trás de certas posições, porque esses medos na Igreja levaram a atitudes de ignorância e desprezo em relação às mulheres¡±. Portanto, ¡°identificar para curar, para discernir¡±.
Leigos, linguagem, face dos pobres
Algumas Mesas linguísticas apontaram que, em alguns pontos do Instrumentum Laboris, os leigos são mencionados apenas algumas vezes, assim como a família ¡°Igreja doméstica¡±. A relação entre as igrejas locais e as culturas também precisa ser aprofundada, porque cada igreja local é ¡°forjada¡± por uma cultura enquanto permanece ela mesma. Nesse sentido, também foi mencionada a questão da linguagem, pedindo que ela seja ¡°simples¡± e que sejam mudadas ¡°algumas formulações que são fruto de uma perspectiva eurocêntrica e ocidental¡±. Por fim, como último ponto, o duplo convite para ¡°partir das experiências e realidades pastorais, porque a vida é mais importante do que a teoria¡± e para ¡°olhar para a face dos pobres dilaceradas pelas guerras, pela violência e pelos abusos¡±. ¡°Sua presença sutil e delicada, suas exigências, seu modo de vida podem nos levar a nos despojar daquilo que nos escraviza e nos distancia¡±.
Mais de 30 discursos livres
Após as cinco palestras, a congregação geral¡±, explicou Ruffini, ¡°foi dedicada aos discursos livres. Trinta e seis no total, que variaram desde a importância dos leigos, porque ¡°o futuro da Igreja e a Igreja do futuro¡± dependerão de sua ¡°vitalidade¡± (o que, foi reiterado, ¡°não diminui, é claro, a indispensabilidade do sacerdócio¡±), até a questão das mulheres, com um dos que tomaram a palavra descrevendo como ¡°uma lacuna¡± o fato de que ¡°as mulheres são vistas apenas como consoladoras e não como alguém que pode pregar ou o fato de que elas não podem ser a chefe de uma organização¡±. Na mesma linha, tomando o exemplo dos missionários, incluindo as mulheres leigas, que cuidam de comunidades inteiras em todo o mundo, foi repetido na assembleia ¡°que há mulheres que sentem o chamado de Deus e pedem para ser ordenadas¡±. E foi solicitado que ¡°haja uma participação feminina no Grupo de Estudos sobre Ministérios e Carismas e que o resultado do trabalho desse Grupo possa ser discutido em um espaço sinodal para dar conselhos e fazer discernimento¡±.
Diálogo e escuta
Reiterada nos discursos livres foi a importância de ¡°desenvolver uma espiritualidade sinodal de escuta ativa, proximidade, apoio sem preconceitos, mesmo daqueles que são diferentes, daqueles que não nos fazem sentir confortáveis¡±. ¡°Não se ouve os outros para ver se são inteligentes o suficiente ou se concordam comigo, mas se aqueles que estão falando têm elementos com os quais eu possa aprender¡±, disseram os padres e madres sinodais, alguns dos quais pediram mais diálogo com culturas, filosofias e religiões. ¡°Devemos respeitar e reconhecer o outro, porque isso une o povo de Deus¡±. Ainda sobre a questão da escuta, seguindo a sugestão do tema ¡°Ampliemos o espaço da tenda¡±, eles pediram para ¡°escutar mais profundamente aqueles em condições de pobreza e sofrimento e as pessoas que se sentem excluídas da sociedade e da Igreja¡±. Portanto, os divorciados, os marginalizados, a comunidade LGBTQ+.
¡°Ampliar o espaço¡± na liturgia
Houve também um aceno ao clericalismo, com a ênfase de que ¡°na Igreja não há um patrão, nem súditos. Há apenas um mestre e todos nós somos irmãos¡±. ¡°Interessante¡±, apontou Ruffini, foi também a referência ao tema ¡®repetido e aplaudido¡¯ da liturgia que pode se tornar ¡®um espelho da sinodalidade¡¯. ¡°O ministro preside, mas não é o único celebrante¡±, foi dito. Uma proposta foi que ¡°na próxima liturgia comum dos membros do Sínodo, o espaço da tenda poderia ser ¡®ampliado¡¯¡±.
Discursos dos palestrantes
Quatro convidados fizeram uso da palavra na mesa de oradores: cardeal Cristóbal López Romero, arcebispo de Rabat (Marrocos) e presidente da Cerna (Conferência Episcopal Regional do Norte da África); dom Antony Randazzo, presidente da Federação das Conferências Episcopais Católicas da Oceania (Fcbco) e o bispo de Nanterre (França), Matthieu Rougé, e a ¡°monja twitera¡± Xiskya Lucia Valladares Paguaga, da Nicarágua, especialista em mídia social e evangelização digital.
Experiência em dioceses, nações e continentes
Todos os quatro palestrantes relataram a experiência da sinodalidade em seus próprios ambientes: paróquias, dioceses, nações e continentes. Primeiro o cardeal Lopéz Romero, que relatou a experiência na África de ¡°uma única freira que criou um movimento de intercâmbio, de reflexão, de sinodalidade¡± e que ¡°sozinha fez mais do que muitas Conferências Episcopais¡±, e depois os vários encontros sinodais no Marrocos que permitiram aos próprios cristãos ¡°descobrir quem somos, poucos em número, mas pertencentes a mais de 100 países: uma riqueza extraordinária, mas também algumas dificuldades para viver a comunhão¡±.
Dom Rougé também falou de ¡°práticas sinodais¡± em Nanterre, mas, no entanto, queria se concentrar mais no grande Sínodo no Vaticano: ¡°Estamos muito felizes por nos encontrarmos novamente, isso está ligado à intensidade com que vivemos a primeira sessão. Todos chegaram com dúvidas e medos, mas depois, com o método da conversa do Espírito, tivemos uma profunda experiência espiritual que tentamos compartilhar em nossas dioceses¡±. Úteis foram as palavras do Papa: ¡°O Sínodo não é um parlamento¡±. ¡°No ano passado, ele disse isso duas vezes, este ano apenas uma vez, porque ele achava que nós tínhamos entendido¡±, sorriu o bispo.
A fragilidade dos países da Oceania
Do centro da Europa, dom Randazzo deslocou seu olhar para as grandes terras da Oceania, ¡°uma área enorme do planeta¡±, mas ¡°frágil¡±, considerando áreas como Papua Nova Guiné, recentemente visitada pelo Papa, as Ilhas Salomão, os vários arquipélagos do Pacífico que, às vezes, sofrem uma sensação de abandono. Foi uma ¡°grande alegria¡±, de fato, disse Randazzo, ¡°ver a felicidade nos rostos das pessoas¡± na chegada de Francisco a Port Moresby, ¡°ao perceber que o Papa havia encontrado tempo para vir de Roma e atravessar o mundo inteiro para chegar a uma das áreas mais frágeis da terra, mas tão rica em recursos naturais¡±. O bispo denunciou, a esse respeito, uma certa ¡°ganância¡± por parte das nações desenvolvidas que vêm e exigem acordos e compromissos com nações pobres e, portanto, vulneráveis, para obter metais, recursos preciosos e árvores.
É assim que os recursos naturais estão sendo destruídos, foi sua denúncia, e comunidades inteiras estão sofrendo. Pense também nos migrantes nos mares da Oceania que se dirigem a países mais estáveis ¡°porque têm que abandonar suas casas por causa da elevação dos mares, por causa do afundamento das ilhas¡±. ¡°Não devemos nos esquecer dos povos da Oceania no caminho sinodal¡±, insistiu dom Randazzo. Para eles, ¡°o conceito de sinodalidade não é algo estranho, mas, ao contrário, algo que eles conhecem e aplicam há milhares de anos: reunir-se e ouvir uns aos outros com respeito¡±. Eles falam sobre oceanos, florestas, pesca, mas também sobre fé. Infelizmente, porém, às vezes prevalecem os temas estabelecidos por ¡°pessoas ricas que decidem o que é importante¡± ou ¡°questões de nicho¡±.
Não a modelos corporativos na Igreja
Entre eles, o presidente da Fcbco - solicitado por jornalistas - apontou para a tendência da Igreja de seguir modelos corporativos. ¡°Não fico muito feliz quando ouço falar em rede... É uma linguagem de homens de negócios. Nossa linguagem é a comunhão, o estar juntos. Estamos tentando nos tornar tão sofisticados que corremos o risco de excluir as pessoas¡±.
O ¡°verdadeiro escândalo¡± é a exclusão das mulheres
Também na questão ligada à ordenação de mulheres ¡°que vai avante há anos¡±, Randazzo enfatizou, ¡°é uma pequena minoria com uma voz ocidental que está fixada nesse ponto¡±. O verdadeiro ¡°escândalo¡± é que ¡°as mulheres são frequentemente ignoradas na Igreja¡± ou, pior ainda, ¡°são colocadas à margem, vítimas de violência, até mesmo violência doméstica, excluídas dos ambientes de trabalho¡±: ¡°É um escândalo contra o Evangelho!
A importância da missão digital
Sobre o tema das mulheres, a Irmã Xiskya foi breve, enfatizando, em vez disso, a urgência de trabalhar na missão digital, que está mudando, pois, a missão ¡°física¡± em uma era de novas tecnologias e Inteligência Artificial. ¡°Sessenta e cinco por cento da população mundial frequenta as estradas digitais¡±, disse, ¡®a pobreza física também é encontrada no social¡¯. Desde o início do Sínodo, explicou a religiosa, estão sendo criados escritórios nas Conferências Episcopais, estão sendo organizadas reuniões com missionários também de 67 países, e estão sendo compartilhadas as experiências dos missionários digitais - mais numerosos na América Latina do que na Europa - que tentam acompanhar e ficar perto dos ¡°distantes que buscam a verdade e caminham feridos no mundo, também por causa de más experiências com a Igreja¡±.
¡°³§²¹³¾²¹°ù¾±³Ù²¹²Ô±ð²¹°ù¡±
O endereço para esse trabalho, relatou a Irmã Xiskya, foi dado a ela pessoalmente pelo Papa com um neologismo: ¡°³§²¹³¾²¹°ù¾±³Ù²¹²Ô±ð²¹°ù¡±, ou seja, ser bons samaritanos que ¡°alcançam as pessoas que percorrem os caminhos digitais¡±, tanto aqueles que ¡°querem redescobrir os valores do Evangelho¡± quanto aqueles que ¡°nunca ouviram o nome de Jesus¡±. A sinodalidade nesse sentido é uma grande ¡°esperança¡±, considerando a ¡°polarização nas mídias sociais¡± e os ¡°relacionamentos tóxicos¡±.
Enfrentar os problemas
O cardeal Lopéz Romero também falou sobre a riqueza do itinerário do Sínodo: ¡°este Sínodo é extremamente enriquecedor. Nossa Igreja ainda é muito europeizada, ocidentalizada. Devemos viver essa caminhada ajudando uns aos outros, para que a Igreja saia mais católica, universal¡±. A esse respeito, ele citou o exemplo de um bispo africano de uma diocese com muitas vocações e muitos batismos: ¡°Ele censurou um bispo europeu por querer lhe dar uma lição quando suas igrejas estavam vazias¡±. É claro que ¡°nós, europeus, precisamos aprender a ser humildes, mas os africanos também não devem se vangloriar porque o sucesso não depende de números. Devemos ajudar uns aos outros a viver o Evangelho¡±, disse o cardeal. ¡°Haverá passos para frente, passos para trás, encontros, confrontos, mas devemos mostrar a maturidade para sermos pacientes, aqueles que vão mais rápido esperam por aqueles que vão mais devagar... É bom que haja problemas, eles devem ser abordados e não varridos para debaixo do tapete.¡±
Reações à Fiducia Supplicans
Para concluir, também foi mencionada a declaração doutrinária Fiducia Supplicans, que introduziu a bênção de pessoas do mesmo sexo, despertando reações contrárias na própria Igreja africana. Trata-se de um documento, ressaltou o cardeal do Marrocos, ¡°que deveria ter passado por um caminho sinodal, pois não veio do Sínodo, mas do Dicastério para a Doutrina da Fé. Minha Conferência Episcopal se pronunciou de forma diferente, não fomos consultados. O continente africano se pronunciou sem ter consultado toda a África¡±. O presidente da Secam, relatou Lopéz, ¡°de fato nos pediu desculpas¡±. Isso também é sinodalidade e aprendê-la, concluiu o cardeal, ¡°não é fácil¡±.
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