Em uma Igreja sinodal, o modo ¨¦ superior ao conte¨²do
Padre Modino - Vaticano
A história nos mostra que os essencialismos deixaram os modos de lado. Nessa perspectiva, pode-se dizer que o Concílio Vaticano II foi uma tentativa de recuperar a importância do modo. Paulo VI, um dos papas do Concílio, diz que ¡°o homem contemporâneo ouve mais as testemunhas do que os mestres ou, se ouve os mestres, o faz porque eles são testemunhas¡±. O modo como algo superior ao conteúdo, uma dinâmica que foi posteriormente relegada.
No atual pontificado, podemos dizer que Francisco deu um novo impulso à dinâmica conciliar. Ele o faz na Praedicate Evangelium, onde, no primeiro parágrafo, explicita ¡°a missão que o Senhor Jesus confiou aos seus discípulos¡±, que não é outra coisa, senão, ¡°anunciar o Evangelho do Filho de Deus, Cristo Senhor, e, através do mesmo, suscitar a obediência da fé em todos os povos¡±. Por isso, Francisco fala do caminho, não do conteúdo, e afirma: ¡°a Igreja cumpre o seu mandato, sobretudo quando testemunha, por palavras e por obras, a misericórdia que ela própria gratuitamente recebeu¡±.
Gestos e ações para se envolver na vida cotidiana
O fundamental é o exemplo, colocando no texto o que Jesus fez, ¡°lavou os pés aos seus discípulos e disse que seríamos felizes se assim fizéssemos também nós¡±. E, caso não tenha ficado claro, ele continua: ¡°deste modo, ¡®com obras e palavras, a comunidade missionária entra na vida diária dos outros, encurta as distâncias, abaixa-se ¨C se for necessário ¨C até à humilhação e assume a vida humana, tocando a carne sofredora de Cristo no povo¡¯¡±, explicando que, para anunciar o Evangelho, o Senhor ¡°instou-nos a cuidar dos irmãos e irmãs mais frágeis, doentes e atribulados¡±.
É assim que Francisco está orientando a Igreja a responder hoje aos sinais dos tempos, com modos, com testemunho, sem doutrinação. Na meditação antes do início dos trabalhos sobre o Módulo do Instrumentum Laboris que fala dos percursos, padre Radcliffe adverte sobre isso: ¡°muitas pessoas querem que este Sínodo dê um ¡°Sim¡± ou um ¡°Não¡± imediato sobre várias questões, mas não é assim que a Igreja avança no profundo mistério do Amor Divino! Não devemos nos esquivar de perguntas difíceis¡±.
A Igreja deve adotar modos
Um Sínodo, uma Igreja, que explica detalhadamente o que deve ser feito em cada momento, é uma Igreja do Levítico e não do Evangelho. É por isso que ainda existem aqueles que defendem a Igreja do conteúdo, da doutrina, a Igreja piramidal em que alguns dizem o que deve ser feito e outros obedecem sem reclamar. Com o Sínodo, Francisco quer nos levar a entender que a Igreja deve adotar modos e, quando isso for feito, o conteúdo virá em seguida.
A escuta, o diálogo, a conversa no Espírito, o discernimento comunitário são formas que ajudam a avançar o processo, um termo decisivo no Magistério do atual pontífice. Mas quando se trata de sinodalidade, parafraseando Georg Bätzing, bispo de Limburg e presidente da Conferência Episcopal alemã, ¡°é preciso muita paciência para aprendê-la¡±, vendo-a como ¡°exaustiva, às vezes árdua¡±, mas certamente o caminho para ¡°apreciar a diversidade na Igreja e promover a unidade¡±. Para isso, Bätzing também aponta o caminho: ¡°escutar uns aos outros e levar os outros a sério¡±.
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