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Assinatura da Bula de convocação do Concílio Vaticano II, em 25 de dezembro de 1961 Assinatura da Bula de convocação do Concílio Vaticano II, em 25 de dezembro de 1961 

Ratzinger e o Concílio Vaticano II

«A percepção desta perda do tempo presente por parte do cristianismo e da tarefa que disto derivava estava bem resumida pela palavra “aggiornamento”, actualização. O cristianismo deve estar no presente para poder dar forma ao futuro» (Bento XVI)

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

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Joseph Ratzinger, como teólogo, contribuiu para dar forma e acompanhar o Concílio Vaticano II. Trabalhou na sua preparação, foi membro de diversas comissões e ao final redigiu os comentários às Constituições  e  .

Mas voltemos um pouco ao contexto em que Ratzinger recebeu o anúncio do Concílio. E é ele mesmo que o descreve com as seguintes palavras: «João XXIII havia anunciado o Concílio Vaticano II, reavivando – em muitos até  a euforia – aquele sentimento de renascimento e esperança que, apesar da ameaça que a etapa nacional-socialista havia suposto, ainda estava vivo desde o final do Primeira Guerra Mundial».[1]

A teologia e a vida da Igreja na Alemanha, de fato, havia dado passos importantes no período entre guerras. Ratzinger assim resume essas contribuições. "Por um lado, o século em que vivemos foi chamado o século da Igreja; poderíamos também chamá-lo de século litúrgico e sacramental, visto que a redescoberta da Igreja, ocorrida durante as duas guerras mundias, reside na redescoberta da riqueza espiritual da liturgia primitiva cristã e o princípio sacramental». [2]

Ele também conclui, que "o movimento litúrgico, o movimento bíblico e ecumênico e, por fim, uma forte religiosidade mariana, configuraram um novo clima espiritual no qual floresceu também uma nova teologia que, no Concílio Vaticano II, deu frutos para toda Igreja».[3]

No contexto do recente falecimento do Papa Bento XVI, grande teólogo, padre Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão "Ratzinger e o Concílio Vaticano II":

 

"O cardeal Joseph Ratzinger, como teólogo, participou em medida relevante na gênese dos textos mais variados do Concilio Vaticano II, primeiro ao lado do arcebispo de Colônia, cardeal Joseph Frings, e mais tarde como membro autônomo de diversas comissões.

O cardeal e arcebispo emérito D. Gerhard Ludwig Müller, como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, fala assim da influência de Ratzinger no Concílio:

“Na fase da recepção, ele – Ratzinger - não se cansa de recordar que o Concílio deve ser avaliado e compreendido à luz da sua intenção autêntica. O Concílio é parte integrante da história da Igreja e, portanto, só o podemos compreender corretamente se considerarmos este contexto de dois mil anos. Graças aos seus trabalhos sobre o conceito de Igreja em Santo Agostinho e sobre o conceito de Revelação em são Boaventura, com os quais tinha obtido os graus académicos, Joseph Ratzinger era particularmente idôneo e preparado para enfrentar as questões centrais apresentadas à Igreja no século XX. Entre elas, depois das experiências da guerra e de uma sociedade em profunda transformação nos anos sessenta, estava a crescente perda de significado e de presença da Igreja no mundo. O Papa Bento XVI descreveu do seguinte modo a tarefa do concílio: «A percepção desta perda do tempo presente por parte do cristianismo e da tarefa que disto derivava estava bem resumida pela palavra “aggiornamento”, atualização. O cristianismo deve estar no presente para poder dar forma ao futuro».”[4]

No discurso à , que suscitou grande interesse, Bento XVI pôs em evidência «a hermenêutica da reforma na continuidade» face a uma «hermenêutica da descontinuidade e da ruptura». Joseph Ratzinger coloca-se assim no sulco das suas afirmações de 1966. Esta interpretação é a única possível segundo os princípios da teologia católica, ou seja, considerando o conjunto indissolúvel entre Sagrada Escritura, a Tradição completa e integral e o Magistério, cuja expressão mais alta é o concílio presidido pelo sucessor de são Pedro como cabeça da Igreja visível. Fora desta única interpretação ortodoxa infelizmente existe uma interpretação herética, ou seja, a hermenêutica da ruptura, quer na vertente progressista, quer na tradicionalista. Estas duas vertentes têm em comum a rejeição do concílio; os progressistas pretendendo deixá-lo para trás, como se fosse só uma estação que se deve abandonar para alcançar outra Igreja; os tradicionalistas não querendo alcançá-lo, como se fosse o Inverno da Catholica. [5]

A questão das polarizações e totalitarismos são percebidos também dentro da própria Igreja. Há quem diga que o Concílio Vaticano II já está ultrapassado; outros, como conservadores radicais, nem aceitam o Concílio como a proposta de renovação da Igreja para dentro e para fora. Consultado que foi para um novo Concílio nas Américas, o Papa Francisco respondeu que as conclusões do Concílio Vaticano II nem foram aplicadas ainda na Igreja.

Na dizia em tom claro sobre os radicalismos: “Quantas vezes se preferiu ser «adeptos do próprio grupo» em vez de servos de todos, ser progressistas e conservadores em vez de irmãos e irmãs, «de direita» ou «de esquerda» mais do que ser de Jesus; arvorar-se em «guardiões da verdade» ou em «solistas da novidade», em vez de se reconhecer como filhos humildes e agradecidos da santa Mãe Igreja. Todos, todos somos filhos de Deus, todos irmãos na Igreja, todos Igreja, todos”.

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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[1] Mi vida, Encuentro, Madrid 1997, pp. 97.
[2] Ser cristiano (1965), Sígueme, Salamanca 1967, p. 57
[3] Natura e compito della teologia. Il teologo nella disputa contemporanea: storia e dogma, Jaca Book, Milano 1993, p. 90.
[4] Arcebispo D. Gerhard Ludwig Müller,Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé - Reflexões sobre os escritos conciliares de Joseph           Ratzinger -
[5] Idem. 

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09 janeiro 2023, 09:13