A colabora??o de Ratzinger no Conc¨ªlio
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
, e . Além destas três Encíclicas, o Papa emérito Bento XVI, falecido na manhã do último sábado e considerado um dos maiores teólogos dos tempos modernos, também escreveu 4 Exortações Apostólicas pós-sinodais e 19 motu proprio, entre eles, o Summorum Pontificum sobre a liturgia.
Mas ainda nos anos 60, como teólogo, Joseph Ratzinger contribuiu para dar forma e acompanhar o Concílio Vaticano II em todas as suas fases. O cardeal Gerhard Ludwig Müller em suas "Reflexões sobre os escritos conciliares de Joseph Ratzinger", recorda que das atas conciliares resulta a sua colaboração em duas comissões: antes de tudo, era membro da subcomissão da comissão teológica que tinha a tarefa de elaborar os passos decisivos do esquema da De ecclesia. Ademais, contribuiu para as propostas de melhoramento do esquema De fontibus, e por isso diretamente na Constituição sobre a Revelação divina ."
Em segundo lugar, acrescenta o cardeal, "Ratzinger trabalhou eficazmente na redação do decreto Ad gentes, o qual relaciona de novo de modo forte a actividade missionária da Igreja com a missão do Filho no mundo, que tem na Igreja a sua continuação, tornando assim evidente que a missão pertence à própria natureza da Igreja."
Neste nosso espaço dedicado ao Concílio Vaticano II, padre Gerson Schmidt* nos propõe uma reflexão sobre a colaboração de Ratzinger no evento conciliar:
"BENTO XVI escreveu, em outubro passado, uma carta em inglês endereçada ao padre Dave Pivonka, presidente da Franciscan University of Steubenville, em Ohio (EUA), onde foi realizado o X Simpósio Internacional sobre a Eclesiologia de Joseph Ratzinger. Bento XVI recorda, nesta carta, a evolução do conceito de "Corpo de Cristo", cristalizado na . O Concílio Vaticano II dedicou a imagem da Igreja como corpo de Cristo no número 07 do capítulo I da Constituição Dogmática , que trata sobre o mistério da Igreja e sua missão. O conceito da Igreja como Corpo de Cristo é oferecida pelo Papa Pio XII na Encíclica Mystici Corporis em 1943 e depois também na de 1947, que apresenta, dentro da Encíclica sobre a Liturgia, a Igreja como Corpo Místico de Cristo.
O Concílio Vaticano I não assumiu essas novas perspectivas teológicas da visão da Igreja como um corpo, um organismo místico e orgânico. Negligenciou esse pensamento da Igreja como Corpo de Cristo, segundo o que haviam pretendido exponentes da Escola Romana[1]. A maioria dos Padres Conciliares do Concílio Vaticano I não viam em tal expressão mais que uma metáfora, não uma definição da Igreja e uma nova perspectiva teológica e, consequentemente, pastoral. No Concilio Vaticano I seguirá dominando o carácter corporativo, sobretudo hierárquico da Igreja. Será o Concílio Vaticano II que vai recuperar fortemente essa concepção da Igreja como corpo Místico de Cristo, já expressada e construída pelos teólogos da época, sobretudo pelo Papa Pio XII. Embora o Concílio eminentemente queira ser um concílio pastoral e de um agir pastoral, a Lumen Gentium é constituição que vai dar o norte, a doutrina, construindo a concepção da Igreja como um corpo, um corpo com diversos membros, não qualquer corpo, mas um Corpo Místico; mais: um Corpo Místico de Cristo, cabeça, onde todos os batizados são membros, enxertados, ligados a Cristo-cabeça.
O conceito figurado da Igreja como Corpo Místico de Cristo encontra-se nas epístolas de São Paulo, na 1ª Epístola aos Coríntios e na Epístola aos Romanos, bem como nas cartas aos efésios e na carta aos Colossenses. Nem no Antigo Testamento, nem no âmbito da tradição apostólica o apóstolo Paulo encontrou a imagem da Igreja como um organismo. É uma criação dele mesmo. Talvez a imagem da vinha como o Povo de Israel pudesse sugerir uma ligação entre os membros do povo de Deus. Mas foi o próprio Cristo que utilizou essa imagem bíblica da videira como um corpo orgânico, do qual nós somos os ramos, ele a videira; tal qual o corpo, onde somos os membros e ele a cabeça.
O Papa Bento XVI também cita sua dissertação sobre o Povo e Casa de Deus na doutrina agostiniana da Igreja, aprofundada no âmbito no Congresso Agostiniano em Paris em 1954. Ele recorda então a disputa sobre o significado de Civitas Dei (Cidade de Deus) que "parecia definitivamente resolvida" e a dissertação de Heinrich Scholz, que recebeu a aprovação da opinião pública "que atribuía à Igreja e à sua fé um belo lugar, mas também inócuo. "Qualquer um que ousasse destruir esse belo consenso só poderia ser considerado teimoso", escreve ele. E sublinha no texto que "o augustianismo medieval foi realmente um erro fatal, que hoje, felizmente, foi definitivamente superado", completou o Papa Bento na carta ao padre Dave Pivonka para o X Simpósio Internacional sobre a Eclesiologia de Joseph Ratzinger.
Joseph Ratzinger, como teólogo, contribuiu para dar forma e acompanhou o Concílio Vaticano II em todas as suas fases. A sua influência já se faz sentir na fase preparatória, antes da abertura oficial do concílio, a 11 de Outubro de 1962. Ele participou em medida relevante na gênese dos textos mais variados, primeiro ao lado do arcebispo de Colônia, cardeal Joseph Frings, e mais tarde como membro autônomo de diversas comissões."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] A. CHAVASSE, «L'ecclésiologie au Concile du Vatican, L'infaillibilité de l'Église», en M. NEDONCELLE, O.C, 233-234.
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