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Mons. Johannes Wagner: O "culto da Igreja é uma ação não só de Deus, mas também dos homens. Sendo ação dos homens, não pode estar simplesmente engessada e por isso pode estar sujeita ao envelhecimento e a necessidade de renovação" Mons. Johannes Wagner: O "culto da Igreja é uma ação não só de Deus, mas também dos homens. Sendo ação dos homens, não pode estar simplesmente engessada e por isso pode estar sujeita ao envelhecimento e a necessidade de renovação" 

A contribuição de Monsenhor Johannes Wagner à Liturgia

"Todos somos Igreja e convocados pela Palavra a celebrar e evangelizar. Não foi por nada que Pio XII chamou o movimento litúrgico como passagem do Espírito Santo pela sua Igreja, culminando com a proclamação da Constituição Sacrosanctum Concilium."

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

No nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos  continuar a falar no programa de hoje sobre Liturgia.

Nos diversos programas dedicados à liturgia deste nosso espaço, temos trazido a visão de diferentes liturgistas, como Klaus Gamber – cujos estudos aprofundados sobre as fontes litúrgicas representam uma verdadeira riqueza – e Annibale Bugnini, um dos grandes expoentes para a reforma Litúrgica, já bem antes do Concílio e na sua efetiva aplicação. Nesta quarta-feira, padre Gerson Schmidt nos traz a contribuição do liturgista alemão Monsenhor Johannes Wagner:

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"Em nosso resgate histórico na memória do Concílio Vaticano II, trago aqui um comentário importante de um liturgista alemão e professor e doutor na Universidade de Bonn que também exerceu influência na época do concilio: Monsenhor Johannes Wagner[1]. Seu comentário à revista “Concilium” – Revista Internacional de Liturgia - é de 1965, justamente no término do concilio Vaticano II. Esse teólogo liturgo esteve intimamente ligado na redação da constituição litúrgica Sacrosanctum Concilium. Ele exerceu diversas atividades científicas e pastorais, colaborando com diversas revistas e aprofundamentos na liturgia.

O liturgista alemão Mons. Johannes Wagner disse naquela ocasião que a história das reformas litúrgicas se deve pelo fato que o culto da Igreja é uma ação não só de Deus, mas também dos homens. Sendo ação dos homens, não pode estar simplesmente engessada e por isso pode estar sujeita ao envelhecimento e a necessidade de renovação.

No embalo da renovação da liturgia, também surgiu a renovação geral da Igreja. Nesse comentário há mais de 50 anos atrás, Johannes diz que o movimento litúrgico pré-conciliar não foi inconsciente, mas conscientemente “pastoral”. “Jamais se tratou a liturgia só por causa da liturgia, nunca se tratou apenas da sua reforma racional, só por causa de sua compreensão ou apenas da adoção de formas litúrgicas do tempo do passado só por causas de sua antiguidade; nunca só por causa de beleza e da forma, ‘arte pela arte’. Não”[2]. – disse Johannes.

 

O movimento litúrgico vinha de longa dada, tendo raízes, como já dissemos, na Proclamação de Pio X da Encíclica “Tra le sollecituini”, em 22 de novembro de 1903, onde o Papa já falava da participação ativa dos fiéis, não como meros expectadores de um belo teatro artístico e bem orquestrado. Mais cedo ainda, três gerações anteriores, o abade Beneditino Guéranger e da sua fundação Solesmes(em 1833) já apontava para mudanças e renovações litúrgicas. Todos esses movimentos pré-conciliares tinham em vista a pastoral. Mas, contudo, há algo ainda mais profundo, que está antes da pastoral como uma atividade e que significa o fundamento dela.

A nova base da Pastoral, afirmou Johannes Wagner, torna-se ação devido a uma nova consciência da Igreja, que desperta. E na concepção de Romano Guardini: “A Igreja acorda nas almas”. Alma aqui entendida no sentido amplo de “anima”, de animação, renovação, de vida animada pelo espírito novo. Ou na expressão de Karl Rahner: “na celebração cultural a Igreja torna-se acontecimento”.

“O povo de Deus toma consciência de si próprio no culto. A celebração cultual é a assembleia santa do povo de Deus. Nesta assembleia ela se torna visível, no todo e nas diferentes partes que, de um modo inconfundível e impenetrável, sendo hierarquicamente diferentes e ao mesmo tempo ordenadas umas às outras, operando cada uma a seu modo, só pela sua ação conjunta representam o todo”[3] – disse Johannes.

É na celebração litúrgica que se realiza e concretiza o que chamamos de “Ecclesia”, ou seja, a assembleia dos chamados, dos convocados pela Palavra. E quem convoca? É Ele quem convoca, porque está no meio de nós, assembleia santa dos chamados. “Ele dá-se aos seus e os seus respondem com ação de Graças e o louvor”.

Essa é uma nova consciência, não só litúrgica, mas de Igreja. Todos somos Igreja e convocados pela Palavra a celebrar e evangelizar. Não foi por nada que Pio XII chamou o movimento litúrgico como passagem do Espírito Santo pela sua Igreja, culminando com a proclamação da Constituição Sacrosanctum Concilium. Por isso, nessa Constituição há declarações e afirmações teológicas e instruções gerais de natureza eclesial importantes e fundamentais”.

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[1] Nasceu em 05 de fevereiro de 1908, em Brohl, no Reno (Alemanha). Ordenado em 1932, na diocese de Trier. Doutorou-se me teologia na Faculdade Católica da Universidade de Bonn com a tese: Die Christiche Eucharistiefeiern im Kleinen Kreis (Celebrações eucarísticas em pequenos círculos - A palavra Kreis em alemão pode ser traduzida também como cenáculo, seio familiar). Foi diretor do Instituto Litúrgico para a Alemanha, estabelecido em Trier. Participou ativamente do concílio Vaticano II.

[2] Wagner, Monsenhor Johannes. Revista Concilium – Revista Internacional de Liturgia, Número 02, fevereiro de 1965, introdução, p. 3-5.

[3] Idem, p.4. 

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28 agosto 2019, 08:18