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"Comunicar a certeza de que Deus nos ama não é um exercício de retórica, mas condição de credibilidade do próprio sacerdócio." "Comunicar a certeza de que Deus nos ama não é um exercício de retórica, mas condição de credibilidade do próprio sacerdócio." 

A Liturgia da Palavra na Igreja primitiva

“Aquele que prega deve conhecer o coração de sua comunidade para identificar onde está vivo e ardente o desejo de Deus e também onde é que este diálogo de amor foi sufocado ou não pôde dar fruto” , afirma o Papa Francisco na Evangelli Gaudium. “Quão grande importância adquire a homilia, onde “a verdade anda de mãos dadas com a beleza e o bem.”

Jackson Erpen – Cidade do Vaticano

No nosso espaço Memória Histórica – 50 anos do Concílio Vaticano II, vamos falar no programa de hoje sobre a “Liturgia da Palavra na Igreja primitiva”.

Padre Gerson Schmidt tem nos proposto nos últimos programas, preciosas informações sobre como era celebrada a Eucaristia nos primeiros séculos do cristianismo, propondo para tal um texto de São Justino, disponível no Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. Na edição de hoje deste nosso espaço, o sacerdote incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre retoma este texto de São Justino quando fala sobre a Liturgia da Palavra e a homilia, trazendo este tema para os dias atuais à luz do Magistério do Papa Francisco na Evangelii Gaudium:

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“São Justino, nos primeiros séculos, descreveu como era a celebração eucarística nos primeiros séculos. É um dos textos mais belíssimos sobre a Eucaristia da Igreja primitiva que temos a disposição no Catecismo da Igreja Católica que é uma defesa dos cristãos para o  imperador pagão Antonino Pio (138-161), acusados que foram de fazerem reuniões estranhas. Já apontamos a importância da assembleia. A palavra Eclesia significa literalmente “assembléia dos convocação”, dos chamados. Convocados por quem? Por Deus, pela sua Palavra.

O Catecismo apresenta e explica esse texto de São Justino que afirmou assim:  “No dia 'do Sol', como é chamado, reúnem-se num mesmo lugar os habitantes, quer das cidades, quer dos campos. Lêem-se, na medida em que o tempo o permite, ora os comentários dos Apóstolos, ora os escritos dos Profetas. Depois, quando o leitor terminou, o que preside toma a palavra para aconselhar e exortar à imitação de tão sublimes ensinamentos” (CIC, 1345). 

 

No n.1349 do CIC diz: “A Liturgia da Palavra comporta “os escritos dos profetas”, isto é, o Antigo Testamento, e “as memórias dos Apóstolos”, isto é, as epístolas e os Evangelhos; depois da homilia, que exorta a acolher esta palavra como ela verdadeiramente é, isto é, como Palavra de Deus, e a pô-la em prática, vêm as intercessões por todos os homens, de acordo com a palavra do Apóstolo: “Eu recomendo, pois, antes de tudo, que se façam pedidos, orações, súplicas e ações de graças por todos os homens, pelos reis e todos os que detêm a autoridade” (1Tm 2,1-2)”.

Sabemos que na Liturgia da Palavra, dentro da Santa Missa, nunca se poderia ler qualquer texto que não fosse da Sagrada Escritura, nem mesmo se fosse um documento da Igreja ou o texto de um fundador de uma ordem. Nenhuma palavra humana poderá substituir a Palavra Divina, por mais inspirada que seja.

A homilia já fazia parte da Eucaristia dos primeiros séculos quando São Justino, na sua apologética, diz: “Depois, quando o leitor terminou, o que preside toma a palavra para aconselhar e exortar à imitação de tão sublimes ensinamentos”.

Na perspectiva da pregação dominical, o Papa Francisco proclama em encíclica que a homilia é o ponto de comparação para avaliar a proximidade de um Pastor com o seu rebanho, uma experiência intensa e feliz do Espírito, um consolador encontro com a Palavra, uma fonte constante de renovação e crescimento[1]. “Aquele que prega deve conhecer o coração de sua comunidade para identificar onde está vivo e ardente o desejo de Deus e também onde é que este diálogo de amor foi sufocado ou não pôde dar fruto”[2], afirma na Evangelli Gaudium.

No encerramento do ano da Misericórdia (2015), o Papa Francisco proclamou em Carta Apostólica: “Quão grande importância adquire a homilia, onde “a verdade anda de mãos dadas com a beleza e o bem”, (Evangelii Gaudium, 142) para fazer vibrar o coração dos crentes perante a grandeza da misericórdia! Recomendo vivamente a preparação da homilia e o cuidado na sua proclamação. Será tanto mais frutuosa quanto mais o sacerdote tiver experimentado em si mesmo a bondade misericordiosa do Senhor. Comunicar a certeza de que Deus nos ama não é um exercício de retórica, mas condição de credibilidade do próprio sacerdócio. Por conseguinte, viver a misericórdia é a via mestra para fazê-la tornar-se um verdadeiro anúncio de consolação e conversão na vida pastoral. A homilia, como também a catequese, precisam de ser sempre sustentadas por este coração pulsante da vida cristã”[3].

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[1] EG, n.135.

[2] Idem, 137.

[3] Papa Francisco, Carta Apostólica Misericordia et misera, n.06.

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31 julho 2019, 10:12