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Busca

Fiel reza durante celebra??o presidida pelo Papa  Francisco no Dia de Finados. Fiel reza durante celebra??o presidida pelo Papa Francisco no Dia de Finados. 

Procurar Deus na ora??o ou deixar-se encontrar por Ele?

"Buscamos Deus enquanto n¨®s mesmos ¨¦ que somos procurados. A nossa busca ¨¦ o fruto de um mal-estar que nos disp?e ao seguimento ¨ªntimo e obstinado, gratuito e tenaz, de uma miseric¨®rdia cujo rosto ignoramos. Viver dessa certeza ¨¦ ter ultrapassado o limiar do Evangelho, ¨¦ ter aceitado uma vida teol¨®gica."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

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¡°Tu, que és meu Senhor, Tu, cuja vontade prefere à minha. Não me é possível contentar-me com palavras ao apresentar-te minha oração. Escuta meu grito que te suplica como um imenso clamor¡­ Tu, de quem me constituis servo: Te rogo-te com insistência, até merecer atingir teu favor. Pois não almejo um bem da terra; não peço mais do que o que devo pedir: só a Ti¡­ Tem piedade de mim! E como imensa é tua misericórdia e grande meu pecado, tem piedade de mim imensamente em proporção à tua misericórdia. Então poderei cantar teus louvores, contemplando-te, Senhor. Te bendirei com uma bênção que perdurará ao longo dos séculos; te louvarei com o louvor e a contemplação, neste mundo e no outro, como Maria, de quem nos diz o Evangelho, que escolheu a parte melhor. Amém. (São Bruno)¡±

Hoje iniciamos o Ano da oração, um ano dedicado a redescobrir o grande valor e a necessidade absoluta da oração na vida pessoal, na vida da Igreja e no mundo.

Em vista do Jubileu 2025, O Papa anunciava no Angelus de 21 de janeiro de 2024 o início de um Ano de Oração para "nos prepararmos para viver bem este acontecimento de graça e experimentar nele a força da esperança de Deus". Francisco também anunciava que o Dicastério para a Evangelização disponibilizaria alguns subsídios para auxiliar os fiéis neste sentido.

 

Depois de "Deus nos procura e provoca sede dele em nós", Pe. Gerson Schmidt* nos traz hoje a reflexão "Procurar Deus na oração ou deixar-se encontrar por Ele?":

"Esse ano de 2024 é o Ano de oração que prepara o Jubileu 2025. O Papa Francisco introduz os cadernos que falam sobre a oração afirmando que esse é ¡°o ano para fazer experiência de uma escola de oração, sem pressupor nada como óbvio ou garantido, especialmente ao nosso modo de rezar, mas a cada dia fazendo nossas as palavras dos Discípulos, quando pediram a Jesus: Senhor, ensina-nos a orar (Lc 11,1)¡±[1].

O caderno de número 06 ¨C A Igreja em Oração é de contribuição e autoria dos Monges Cartuxos que aqui aprofundamos e comentamos.  Falamos que Deus tem sede de nossa sede dele, conforme nos dizem Santo Agostinho e São Gregório de Nazianzeno. Os monges cartuxos apontam que há um canto saudoso no coração do homem. Há uma saudade do paraíso perdido mergulhado no profundo ser de cada um. A sede de Deus está latente no nosso coração que grita e clama por Deus. ¡°O canto da criação está gemendo como que em dores de parto (Rm 8,22)¡±[2].  Nós ainda nos escondemos como Adão, com medo dos passos do Criador, e não respondemos ao desejo de Deus estar conosco. ¡°Temos medo da intimidade com Ele; e é na oração que se revela a nós a imagem de Deus que temos no coração. Essa imagem é uma caricatura gravada em nós pela voz mentirosa do Adversário, que ensinuou: Deus não quer que sejam deuses, Deus não quer que sejam como Ele (cf. Gn 3,5)¡±[3]. O demônio incute dentro de nós uma falsa ideia de que Deus não nos ama porque nos proíbe, nos limita, que não é tão bom quanto parece. O demônio é enganador e engabelador desde o princípio.

Os cartuxos afirmam nesse subsídio que tal mentira e imagem falaciosa de Deus se imprimiu tão profundamente em nós que não percebemos, afirmando que essa ¡°caricatura de Deus é o ídolo que frequentemente servimos com a nossa oração¡±. E por isso, não sabendo pedir como convém e que os apóstolos suplicam a Jesus que os ensina a rezar. Por isso, o Espírito do Pai clama em nós com gemidos inefáveis e inexprimíveis. Há um canto em nós ¨C o Abbá ¨C que é a saudade do próprio Deus. Esse canto era a saudade do próprio Adão, era o canto, exilado do paraíso, que ele já não podia mais cantar.

Na verdade, não somos nós que escolhemos a Deus, mas Deus que nos escolhe, tal como Jesus afirmou. Não somos nós que procuramos a Deus, mas Deus que nos procura. Pe. Henri Nouwen, em seu famoso best-seller, o livro ¡°A volta do Filho Pródigo¡±, comenta assim a respeito: ¡°Desde toda a eternidade, estamos escondidos nas sombras das asas de Deus e gravados nas palmas de suas mãos (Is 49,2-16). Antes do que qualquer ser humano nos toque, Deus nos faz em segredo e nos tece nas profundezas da terra, e antes de qualquer ser humano decida a nosso respeito, Deus nos tece no seio materno (Sl 139).  Deus nos ama com um primeiro amor, amor ilimitado e incondicional, quer que sejamos seus filhos amados e nos pede que nos tornemos tão capazes de amar quanto ele próprio¡±[4].  O autor diz que durante a sua vida tem procurado a Deus. ¡°Agora ¨C diz ele ¨C imagino se avalei bem que durante todo esse tempo Deus tem estado à minha procura, para me conhecer e me amar. A pergunta não é ¡°Como posso encontrar Deus?¡±, mas ¡°como me deixar conhecer por Deus?¡±[5]. Deus me deseja mais me encontrar do que eu a Ele. A grande questão da fé não é simplesmente amar a Deus, o que é uma graça, mas deixar-se amar por Ele. É deixar que ele nos encontre, porque está a nossa procura como procurou Adão, que se escondeu e teve medo da iniciativa do amor de Deus, frente ao homem pecador. Nas três parábolas da misericórdia, é Deus que toma a iniciativa. Ele nos amou por primeiro. Deus é pastor que vai a procura da ovelha perdida; Deus é a mulher que procura a dragma perdida; Deus é o Pai que vigia e corre ao encontro do filho perdido que foi encontrado e depois do filho mais velho que não quer entrar na festa do perdão. Nessa última parábola, mais conhecida como a do filho pródigo, o pai misericordioso sai de si duas vezes, saindo de sua casa: a primeira, para correr e abraçar o filho mais jovem que voltou; a segunda, para conversar com o mais velho para envolvê-lo na festa da alegria da volta.

O Catecismo da Igreja Católica, em suas primeiras páginas, aponta, em título grifal, o desejo do homem por Deus. Há uma vocação intrínseca do ser humano para a comunhão com Deus, da criatura com o seu Criador. Afirma assim, no número 27: ¡°O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar: O aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à comunhão com Deus. Este convite que Deus dirige ao homem, de dialogar com ele, começa com a existência humana. Pois se o homem existe, é porque Deus o criou por amor e, por amor, não cessa de dar-lhe o ser, e o homem só vive plenamente, segundo a verdade, se reconhecer livremente este amor e se entregar ao seu Criador¡± (CIgC,27)."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] Monges Cartuxos ¨C Dicastério para a Evangelização - A Igreja em Oração ¨C Cadernos sobre a Oração 6, introdução do Papa.
[2] Idem, p.29.
[3] Idem, p.30.
[4] NOUWEN, Henri J.M. A Volta do Filho Pródigo, Paulinas, 1992, SP, p.115.
[5] Ibidem.

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04 novembro 2024, 12:56