S¨ªnodo, Radcliffe: liberdade para falar com coragem e acolher o trabalho da Provid¨ºncia
Pope
É ¡°com liberdade¡± que os pais e mães sinodais devem abordar a última ¡°tarefa¡± que lhes cabe na última semana do Sínodo, ou seja, o exame e a votação do documento final. Foi o que disse o Cardeal eleito Timothy Radcliffe, ao apresentar na manhã de segunda-feira, 21 de outubro, os trabalhos da XIII Congregação Geral e da semana conclusiva da XVI Assembleia do Sínodo dos Bispos, que levará à aprovação do Documento Final no sábado, dia 26.
Liberdade para falar e aceitar até mesmo decisões decepcionantes
Radcliffe convidou os participantes a colocar em prática a missão de ¡°pregar e encarnar¡± uma dupla liberdade, ¡°a dupla hélice do DNA cristão¡±: ¡°a liberdade de dizer o que acreditamos e de ouvir sem medo o que os outros dizem¡±, ou seja, ¡°a liberdade dos filhos de Deus de falar com coragem, com parresia¡±; mas também a ¡°liberdade mais profunda, a liberdade interior de nossos corações¡± para aceitar até mesmo as ecisões que possam decepcionar e que alguns possam considerar ¡°impensadas ou até mesmo erradas¡±. De fato, acrescentou, ¡°temos a liberdade daqueles que acreditam que, como São Paulo escreveu aos Romanos (Rm 8, 28), ¡®Deus faz todas as coisas para o bem daqueles que o amam¡¯ e que, no final, ¡®podemos ficar em paz porque ¡¯nada pode nos separar do amor de Deus¡±, nem mesmo a incompetência, nem mesmo os erros¡±. Somente dessa forma podemos passar da primeira liberdade, aquela que nos faz dizer ¡°eu¡±, para a liberdade mais ampla que nos faz ¡°pertencer à Igreja e dizer ¡®nós¡¯¡±.
¡°A graça aperfeiçoa a natureza, não a destrói¡±
Como ensinou Santo Tomás de Aquino, o teólogo dominicano explicou ainda que ¡°a graça aperfeiçoa a natureza, mas não a destrói¡±. Portanto, ¡°acreditar no Espírito Santo não nos isenta de usar nossas mentes na busca da verdade¡±. Pelo contrário, ¡°Tomás afirmou que seria um insulto ao Espírito Santo não pensar nas decisões e, por exemplo, ir na sorte¡±. Radcliffe prosseguiu, citando a obra cinematográfica Um Homem para Todas as Estações), na qual São Tomás More ¡°implora à sua filha Meg que honre a capacidade de pensar que nos foi dada por Deus: 'Ouça, Meg, Deus fez os anjos para mostrar-lhe esplendor, assim como fez os animais por sua inocência e as plantas por sua simplicidade. Mas o homem o fez para servi-lo com sagacidade (inteligência), no emaranhado de sua mente'¡±.
A experiência de Yves Congar
Até mesmo o cardeal e teólogo do Concílio, Yves Congar, que em meados da década de 1950 foi ¡°silenciado por Roma¡± e privado da oportunidade de ensinar, ¡°em meio a essa crise, escreveu em seu diário que a única resposta a essa perseguição era ¡®dizer a verdade¡¯. Com prudência, sem escândalos provocativos e desnecessários. Mas permanecer - e se tornar cada vez mais - uma testemunha autêntica e pura do que é verdadeiro' ¡°. Portanto, acrescentou Radcliffe, ¡°não devemos ter medo de discordar, porque o Espírito Santo trabalha nisso¡±.
A Providência em ação
Portanto, somos habitados pela liberdade de ¡°pensar, falar e ouvir sem medo¡±. Mas isso não é nada se não tivermos também a liberdade daqueles que confiam que ¡°Deus faz tudo para o bem daqueles que amam a Deus¡±. Portanto, podemos ficar em paz com qualquer resultado¡±, comentou o teólogo, porque ¡®a providência de Deus é bondosa, trabalhando silenciosamente mesmo quando as coisas parecem dar errado¡¯. Ele continuou enfatizando que ¡°ela está entrelaçada na história da nossa salvação desde o início¡±, quando ¡°a queda de Adão e Eva se torna, pela graça de Deus, o felix culpa que leva à encarnação¡± e ¡°a morte horrível de Nosso Senhor na cruz leva ao triunfo de Cristo sobre a morte¡±. Portanto, mesmo que você esteja desapontado com o resultado do Sínodo, a providência de Deus está em ação nesta Assembleia, conduzindo-nos ao Reino de maneiras que somente Deus conhece. Sua vontade para o nosso bem não pode ser frustrada¡±. Além disso, acrescentou o dominicano, ¡°este é apenas um sínodo. Haverá outros. Não devemos fazer tudo, mas apenas tentar dar o próximo passo¡±. Como ensinou Santa Teresa de Ávila: ¡°Fomos nós que começamos o trabalho; cabe aos que vêm depois continuar a começar¡±. Como não sabemos¡±.
Henri de Lubac: evite se considerar a norma encarnada da ortodoxia
O jesuíta Henri de Lubac, mais tarde cardeal, também sofreu ¡°perseguição antes do Concílio¡± e, em meio a esse sofrimento, escreveu Meditação sobre a Igreja, ¡°um hino de amor¡±, exortando a pessoa perseguida com estas palavras: ¡°Longe de perder a paciência, ele tentará manter a paz e, de sua parte, fará um grande esforço para fazer aquela coisa difícil: manter uma mente maior do que suas próprias ideias¡±. Ele cultivará ¡°aquele tipo de liberdade por meio da qual transcendemos aquilo que mais impiedosamente nos envolve...¡±. Ele evitará ¡°a terrível autossuficiência que poderia levá-lo a ver a si mesmo como a norma incorporada da ortodoxia, porque ele colocará ¡®o vínculo indissolúvel da paz católica¡¯ (citando São Cipriano) acima de tudo...¡±.
Como filhos livres de Deus, dizendo ¡°Eu¡± junto com ¡°Nós¡±
Portanto, ¡°se tivermos apenas a liberdade de argumentar nossas posições, seremos tentados pela arrogância¡± e ¡°acabaremos batendo os tambores da ideologia, direita ou esquerda¡±. Por outro lado, ¡°se tivermos apenas a liberdade daqueles que confiam na providência de Deus, mas não ousarmos entrar no debate com nossas convicções, seremos irresponsáveis e nunca cresceremos¡±. Em vez disso, concluiu Radcliffe, ¡°a liberdade de Deus atua no coração de nossa liberdade, borbulhando dentro de nós. Quanto mais ela é verdadeiramente de Deus, mais ainda é verdadeiramente nossa¡±. E ¡°como filhos livres de Deus, podemos dizer ¡®eu¡¯ e, ao mesmo tempo, ¡®nós¡¯¡±.
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