Pe. Radcliffe no retiro sinodal: n?o aos medos e narcisismos, mas ouvir com o cora??o aberto
Isabella Piro ¨C Cidade do Vaticano
Foi o Evangelho de João (20, 1-18 e 20, 19-29) a servir de fio condutor das duas meditações realizadas na manhã desta segunda-feira, 30 de setembro, pelo padre dominicano Timothy Radcliffe. Participante da segunda sessão da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos como assistente espiritual, como já no ano passado, o religioso se pronunciou na Sala Nova do Sínodo por ocasião do retiro espiritual em andamento até a terça-feira, 1º de outubro, e dedicado aos membros, delegados fraternos e convidados especiais da Assembleia.
O mundo está escurecido pela violência
Na primeira meditação, o padre Radcliffe centrou-se no tema da ¡°Ressurreição como uma busca na escuridão¡±. em um mundo ¡°obscurecido pela violência¡± e no qual Deus ¡°parece ter desaparecido em grande parte¡±, especialmente no Ocidente, devido ao ateísmo, à indiferença e ao ceticismo, o religioso exortou a colocar-se, como Maria Madalena, em busca do Senhor. ¡°O mundo está cheio de lágrimas¡±, acrescentou o clérigo, citando o drama da guerra no Médio Oriente, na Ucrânia, no Sudão e em Mianmar. Mas apesar desta ¡°escuridão¡±, devemos estar conscientes da presença de Deus e ouvir o ¡°grito daqueles que choram¡±.
Ouça os outros com respeito e sem medo
O apelo à ¡°escuta paciente, imaginativa, inteligente, de coração aberto¡±, que representa ¡°a disciplina da santidade¡± foi outro tema abordado pelo padre Radcliffe: firme a sua advertência para que os participantes do Assembleia prestem atenção às perguntas dos outros ¡°com respeito e sem medo¡±, porque somente assim será possível encontrar ¡°uma nova forma de viver no Espírito¡±.
Os questionamentos são importantes, acrescentou o religioso, mas não podem ser vistos simplesmente como ¡°questões sobre a possibilidade ou não de conceder algo... por exemplo, sobre o papel das mulheres na Igreja¡±. O que é necessária, no entanto, são os "questionamentos mais profundas do nosso coração", as "perguntas desconcertantes que nos convidam a uma vida nova" e sem as quais a fé acabaria como letra morta.
Ser companheiros de busca, não representantes de partidos da Igreja
Um outro ¡°instrumento¡± do trabalho sinodal deverá ser o reconhecimento integral do outro, a partir do seu nome: ¡°Deus nos chama sempre pelo nome - explicou o religioso -. E o nosso nome é sinal do fato que somos custodiados pelo Senhor na nossa singularidade.¡± Nesta perspectiva, o Sínodo será efectivamente ¡°um momento de graça¡±, um encontro ¡°frutífero¡± se os seus participantes aprenderem a ¡°dizer 'nós'¡± e se verem uns aos outros não como ¡°representantes dos partidos da Igreja¡±, mas como ¡°fratelli tutti¡±, ¡°alegres companheiros de busca¡±, porque ¡°cada caminhante tem necessidade do outro" e também aqueles que poderiam se sentir excluídos da Assembleia. Padre Radcliffe mencionou em particular as mulheres, os teólogos, os párocos ¨C que na realidade são fundamentais, pois ¡° sem eles, a Igreja não pode tornar-se verdadeiramente sinodal¡±.
O Sínodo, de fato, afirmou o religioso ao concluir a sua primeira meditação, ¡°precisa de todos os caminhos para amar e buscar o Senhor, assim como nós precisamos dos buscadores do nosso tempo, mesmo que não partilhem a nossa f顱. Porque é abrindo-nos ao desejo de infinito do outro que poderemos ¡°lançar o barco da missão¡±.
Os ¡°dogmas¡± da sociedade contemporânea
O tema da missão esteve no centro da segunda meditação do padre Radcliffe, intitulada ¡°O quarto fechado a chave¡±: ??"O tema desta Assembleia é uma Igreja sinodal em missão ¨C disse ele ¨C e o coração desta missão é ensinar as nossas doutrinas." Um objetivo certamente desafiador no contexto de uma sociedade ¡°afligida por um profundo preconceito contra os dogmas¡±, ainda que não faltem ¡°salas fechadas e sufocantes¡± representadas pelo relativismo, pelo fundamentalismo religioso, pelo materialismo, pelo nacionalismo, pelo cientificismo que ¡°bloqueiam as pessoas em pequenas imaginações." Os ensinamentos da fé, ao invés disso ¨C reiterou o sacerdote dominicano ¨C ¡°abrem as portas dos nossos corações e das nossas mentes, impelem-nos para além das pequenas respostas e rumo à busca infinita d¡¯Aquele que é infinito amor e verdade¡±.
Tornar-nos pregadores do Evangelho da vida
Mas nos ¡°quartos sufocantes¡± os discípulos também ficam aprisionados pelo medo, que os impede de ¡°se tornarem vivos em Deus e, portanto, pregadores do Evangelho da vida em abundância¡±. Em vez disso ¨C esta é a exortação do padre Radcliffe ¨C é preciso ¡°correr o risco de nos machucar-se", de se ferir, como o Senhor Ressuscitado. Este é um risco que vale a pena correr, porque Deus nos deu o dom da sua paz, que não pode ser destruída por nada.
Não olhar para o ¡°umbigo eclesial¡±, mas abrir-se ao infinito de Deus
Mas além do medo de se ferir, acrescentou o religioso, há um outro temor a ser derrotado: aquele experimentado por que sente ¡°um amor feroz pela Igreja¡± e que, fechados na sua mentalidade, temem que seja prejudicada devido a reformas que modificam as tradições. Tudo isto, porém, acaba por "nos fechar em um mundo limitado, olhando para o nosso umbigo eclesial", prontos a denunciar os "desvios dos outros". Em vez disso, ¡°a Igreja está nas mãos do Senhor e Deus prometeu que as portas do inferno não prevalecerão contra ela¡±.
É preciso, portanto, sair das prisões ¡°do narcisismo e da 'partidocracia'¡±, abrindo-nos aos ¡°horizontes sem limites¡± nos quais Deus se revela e perdendo-nos no seu amor.
"Somos chamados a aventurar-nos no desconhecido, a abandonar o que é familiar e seguro e a empreender uma viagem ou uma busca ¨C sublinhou o padre Radcliffe -. No entanto, não gostamos de correr riscos. Estamos satisfeitos com a pessoa que criamos ou construímos porque tememos ter sido criados à imagem de Deus. Esta incapacidade de responder ao chamado à vida, esta incapacidade de acreditar, chama-se pecado.
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