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Na FAO, em Roma, tamb¨¦m estava a vice-presidente da Ceama, Irm? Laura Vicu?a Na FAO, em Roma, tamb¨¦m estava a vice-presidente da Ceama, Irm? Laura Vicu?a 

A a??o da Igreja para salvar a Amaz?nia dos muitos ¡°projetos de morte"

Na sede da FAO, em Roma, foi realizada a apresenta??o dos Atos do S¨ªnodo para a Amaz?nia, realizado em 2019. A Declara??o Final da Assembleia Especial dos Bispos indica as linhas de a??o para a miss?o da Igreja na regi?o, para promover a dignidade e os direitos dos seus povos e proteger seus territ¨®rios. Um chamado ao qual responde o compromisso das redes eclesiais Repam e Ceama, entidades recebidas pelo Papa na ter?a (04/06).

Adriana Masotti - Pope

Depois de oferecer ao Papa, que foi encontrado nesta segunda-feira (03/06) no Vaticano, os progressos realizados nos últimos anos desde o Sínodo sobre a Região Pan-Amazônica, há cinco anos, na tarde desta terça-feira (04/06) foram apresentados os Atos da Assembleia Especial dos Bispos dedicados à Amazônia na sede da FAO, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, em Roma. O documento é intitulado ¡°Novos caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral¡±.

A mesa dos relatores

A conferência foi aberta com as palavras do cardeal Mario Grech, secretário geral do Sínodo. Com ele falaram, entre outros, o cardeal Michael Czerny, prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral; o cardeal Pedro Ricardo Barreto Jimeno, presidente da Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama); Monsenhor Fernando Chica Arellano, observador permanente da Santa Sé junto à FAO; Yésica Patiachi e Irmã Laura Vicuña, vice-presidentes da REPAM e da Ceama, respectivamente. As saudações do anfitrião, o diretor geral da FAO, Qu Dongyu, introduziram as várias contribuições, confirmando ¡°o compromisso das Nações Unidas com os povos indígenas para erradicar a fome, mas denunciando a persistência, apesar do progresso alcançado, da grande insegurança alimentar na região¡±.

A mesa dos relatores no encontro da FAO
A mesa dos relatores no encontro da FAO

Grech: no Sínodo, a voz dos povos indígenas

Para o cardeal Mario Grech, a iniciativa na FAO é ¡°ainda mais significativa hoje que a Igreja Católica está celebrando um Sínodo sobre a sinodalidade¡± e, portanto, refletindo ¡°sobre seu modo de ser Igreja, colocando novamente no centro do seu ser e agir a igual dignidade de seus fiéis, chamados a ser corresponsáveis na missão da Igreja¡±. Missão da qual, segundo ele, pode-se ver claramente ¡°uma antecipação¡± na Assembleia Especial para a Região do Panamá, que iniciou um processo, ainda em andamento, de ouvir a realidade e os pedidos do seu povo.

O cardeal explica que, mais do que dar respostas, naquele Sínodo a Igreja pretendia oferecer um método, um modo de fazer as coisas ¡°que parte do reconhecimento do ser humano como sujeito ativo, protagonista do seu próprio futuro¡±. Grech enfatiza que ¡°esse é o aspecto realmente importante: não tomar o lugar das pessoas e das comunidades que vivem um determinado problema, porque são elas que têm o conhecimento real do que estão vivendo¡±.

Atuar em conjunto em uma ¡°perspectiva integral"

¡°Ouvindo as pessoas, especialmente o santo povo de Deus¡±, continua Grech, ¡°os bispos e o Papa procuraram entender o que o Espírito Santo está inspirando as Igrejas locais dessa região em seu compromisso inabalável de defender a centralidade da pessoa, o bem comum, a solidariedade e a administração responsável da criação em sua missão. Como seria importante implementar a verdadeira escuta também na política internacional, diz o secretário geral do Sínodo, que destaca mais dois elementos: um diz respeito à ¡°perspectiva integral¡±, ou seja, à consciência da interconexão entre todas as ¡°crises morais, sociais, econômicas e políticas que estamos vivendo¡±. Esse foi o caso dos projetos elaborados para a região do Panamá, onde o cuidado com o meio ambiente, a justiça para os pobres e a defesa da dignidade humana estão ligados e, em última análise, afetam a todos nós.

Portanto, ¡°somente agindo em conjunto é possível encontrar uma solução justa e digna¡±. O cardeal Grech usa uma palavra repetida com frequência pelo Papa Francisco: ¡°desborde¡±. Esse é o terceiro aspecto: significa a ¡°superação de normas, regras e interesses de cada um em favor de uma superabundância de compromisso por parte de todos¡±.

A Amazônia, conclui ele, ¡°realmente precisa de uma superabundância de compromisso¡±, dada ¡°a superabundância de violência que ainda está experimentando hoje¡±. Um desafio que o cardeal espera que a comunidade internacional seja capaz de acolher. 

Os participantes da conferência na FAO
Os participantes da conferência na FAO

Czerny: reveja nossas escolhas

Por sua vez, o cardeal Michael Czerny enfatiza o compromisso da Santa Sé com o desenvolvimento humano integral de toda a comunidade amazônica. Ele recorda ter tido ¡°a feliz oportunidade de testemunhar a criação da Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam)¡±, tão necessária para ¡°um diálogo e uma colaboração eficazes¡± na região, porque integra ¡°bispos, clero, religiosos, diversas ações pastorais junto às próprias populações¡±. O objetivo é ouvir as ¡°populações do território para ajudá-las a usufruir dos seus direitos, defender seus territórios, cuidar da casa comum¡±.

Pensando pessoalmente no Sínodo sobre a Amazônia desejado pelo Papa Francisco, o cardeal Czerny diz que ¡°o que permanece na vanguarda da minha mente são as vozes dos povos amazônicos¡± e como suas palavras foram recebidas e seu pedido à Igreja para continuar o caminho junto com eles. Czerny continua: ¡°esse encontro e esse compromisso mútuo constituem um esforço grande, sincero e transparente para ler os sinais dos tempos, para discernir honestamente o que esses sinais significam e para abraçar a vontade de Deus para a Amazônia e para o mundo inteiro¡±, uma vontade muitas vezes oposta à atual. 

¡°As escolhas que as pessoas estão fazendo em todo o mundo sobre o que consumimos, o que investimos, como ganhamos, quais objetivos almejamos, muitas vezes estão em contradição destrutiva com a própria sobrevivência e florescimento da Amazônia e dos seus povos.¡±

Um chamado ao compromisso hoje

Um fruto muito significativo do processo sinodal, diz Czerny, é a criação da Conferência Eclesial Amazônica (Ceama), com a participação dos povos amazônicos, das comunidades e da Igreja, que está dando origem a muitas novas iniciativas ¡°para buscar formas sustentáveis de agricultura e pecuária, para o uso de energia limpa e recursos sem destruir o meio ambiente e as culturas¡±. O prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Humano Integral observa que ¡°a Amazônia é um lugar privilegiado onde a vida se expressa e onde o próprio Deus faz sentir sua presença¡± e constitui ¡°um chamado ao compromisso e uma expressão eloquente de esperança para o futuro do mundo¡±.  O chamado para todos é para a conversão, hoje, porque, conclui ele, ¡°mais tarde será tarde demais¡±.

Barreto Jimeno: o trabalho da Ceama

O cardeal Pedro Barreto Jimeno, relembra a preparação para o Sínodo para a Região Amazônica em outubro de 2019, que, segundo ele, contou com 70 assembleias territoriais, 25 fóruns temáticos, seminários com a participação de mais de 80 mil pessoas, boa parte delas indígenas amazônicos, e como a Ceama, da qual é presidente, foi criada em 2020 como resposta direta às recomendações do Sínodo e foi encarregada de implementar as propostas do Documento Final e delinear um plano pastoral.

¡°O processo sinodal da Igreja na Amazônia continua hoje com mais evidências de problemas sociais e ambientais¡±, diz ele, e explica como a Repam e a Ceama se complementam para um melhor serviço à Amazônia, que se expressa em: defender os direitos indígenas, promover a ecologia integral, fortalecer a pastoral amazônica e buscar soluções para o desmatamento e a degradação ambiental causada pela mineração e atividades comerciais. Os esforços também têm como objetivo fortalecer a Igreja local, incentivando uma maior participação e liderança dos leigos, especialmente das mulheres e dos jovens. Entretanto, ¡°os desafios continuam significativos e exigem esforços constantes e coordenados¡±. 

Patiachi: unidos salvaremos a Amazônia e o planeta

Um apelo para a conversão de nossos estilos de vida é feito por Yésica Patiachi, uma indígena da região amazônica, peruana do grupo étnico Harakbut e vice-presidente da Repam. ¡°Os povos indígenas estão em risco¡±, diz ela, ¡°porque a terra está ficando doente. Seus territórios não estão sendo protegidos, pessoas que são consideradas 'guardiões da floresta' estão sendo mortas. No passado", continua ela, "costumávamos nos perguntar o que a Igreja faz, agora podemos dizer que a Repam e a Ceama são uma resposta para a Amazônia que está sangrando".

Agora a Igreja está lá, diz ela, o Papa veio pessoalmente para ver como nossa floresta e nossos territórios estão sendo saqueados de acordo com modelos que não podem ser chamados de modelos de desenvolvimento porque, enfatiza ela, colocam em risco a vida. E ela traz o exemplo da mineração de mercúrio que contamina os alimentos e o óleo de palma que as indústrias europeias querem tanto que valorizam mais o óleo de palma do que a vida das pessoas.

Em seguida, ela conta sobre o encontro de segunda-feira (03/06) com o Papa Francisco, a quem os nativos chamam respeitosamente de ¡°vovô¡±. "Agradecemos a ele por seu acompanhamento", diz Patiachi, ¡±ele nos disse que não há como voltar atrás e isso nos dá esperança. O que vamos fazer, o que podemos fazer juntos? Ao unirmos todos os povos indígenas, conseguimos plantar uma árvore que salvará a humanidade. Tudo na floresta está conectado, nossas vidas dependem das florestas e nossas vidas garantem as florestas das quais depende a segurança alimentar. Trabalhando juntos e com uma atitude proativa", conclui ela, "seguiremos em frente".

A participação de Yésica Patiachi no encontro na FAO
A participação de Yésica Patiachi no encontro na FAO

Irmã Vicuña: muitos 'projetos de morte' aos quais se opor

Antes do debate com os presentes na conferência e de ouvir outros breves discursos de representantes da FAO e do FIDA, o Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, as palavras da Irmã Laura Vicuña, vice-presidente da Ceama. ¡°A Amazônia nunca esteve tão ameaçada como hoje¡±, disse Francisco no início do Sínodo há cinco anos, lembra a religiosa, ¡°e agora estamos percorrendo um longo caminho de presença evangelizadora da Igreja na região, tentando responder à evangelização integral, onde a vida está no centro¡±.

Vicuña então lista os muitos ¡°projetos de morte¡± na Amazônia: ¡°usinas hidrelétricas, minas, monoculturas que destroem e poluem a terra, o ar e a água, destruindo a biodiversidade e os sistemas necessários para a vida de todo o planeta, bem como os próprios modos de vida dos povos amazônicos e nativos, muitos dos quais¡±, enfatiza, ¡°são obrigados a se deslocar para as periferias das cidades, sem nenhuma segurança do ponto de vista do acesso aos alimentos e às políticas públicas, com total ausência do Estado e presença do crime organizado¡±.

Em meio a tudo isso está o compromisso da Igreja na Amazônia, para o qual as mulheres, segundo ela, dão uma contribuição ¡°enorme¡±. Para a Irmã Laura, também é essencial uma conversão sinodal e ecológica, o crescimento de uma ¡°cultura do diálogo, do encontro e da riqueza da unidade na diversidade, essa ¡®harmonia pluriforme¡¯, que requer inovação e criatividade de nossa parte¡±.

Chica Arellano: juntos de acordo com o espírito do Sínodo

A conclusão foi confiada ao monsenhor Fernando Chica Arellano. Em nome de todos, ele agradeceu à FAO, da qual é observador permanente, e ao FIDA, e a todos aqueles que, de várias formas, colaboraram e permitiram a realização do encontro. ¡°Vimos a preocupação comum pelo ¡®pulmão do mundo¡¯, hoje comprometido¡±, diz ele, ¡°e nossas consciências devem se sentir chamadas à ação para compartilhar, como diz o Papa, o afeto por esta terra, reconhecendo-a como um ¡®mistério sagrado¡¯. A Igreja não é indiferente ao seu destino e ao de seus povos¡±. É necessário caminhar de mãos dadas na missão de preservar o planeta e a dignidade da pessoa. ¡°Nesta tarde, enfatizamos a necessidade de trabalhar ¡®juntos¡¯. A palavra 'juntos'", conclui monsenhor Chica Arellano, ¡±reflete um estilo de ação que deve ser consolidado. Esse é o espírito do Sínodo¡±.

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05 junho 2024, 08:00