Pontif¨ªcia Academia para a Vida em assembleia: foco no significado do ser humano
Alessandro Di Bussolo ¨C Pope
Uma reflexão multidisciplinar sobre o "mistério do ser humano", para entender "o que é o humano comum" - ou, nas palavras do Papa - "o que qualifica o ser humano", imposta pela extraordinária "mudança de época" devido ao desenvolvimento científico e tecnológico. Este é o objetivo da assembleia geral da Pontifícia Academia para a Vida (PAV), que este ano comemora 30 anos de fundação, sobre o tema "Humano. Significados e desafios", que teve início na terça-feira, 12, e se conclui na quarta-feira, 14 de fevereiro, no Centro de Conferências Augustinianum, em RomaDepois de refletir nos últimos anos sobre robótica, Inteligência Artificial e as novas tecnologias, sublinhou o presidente da Pontifícia Academia para a Vida, dom Vincenzo Paglia, na coletiva realizada na Sala de Imprensa da Santa Sé, "decidimos abordar uma questão exigente e inevitável: a questão antropológica, a pergunta de significado do caminho que a humanidade está percorrendo".
A desorientação causada pelas novidades técnico-científicas
Dom Paglia lembrou que, pela primeira vez, a espécie humana "apresenta o risco de desaparecer por autodestruição ou superação", por meio da "energia nuclear, mudanças climáticas e novas tecnologias convergentes". A Pontifícia Academia para a Vida foi a primeira a agir sobre os riscos e o potencial da Inteligência Artificial com o "Apelo de Roma para a Ética na Inteligência Artificial", sobre seu uso ético, apresentado em 28 de fevereiro de 2020 e assinado, em primeiro lugar, pela Ibm e pela Microsoft, com a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), o governo italiano e a Universidade La Sapienza de Roma. "A novidade das descobertas técnico-científicas", explicou o presidente da Pontifícia Academia para a Vida, "às vezes produz um efeito de desorientação e uma sensação de precariedade que pode levar a opinião pública a posições negativas, à nostalgia de certezas que parecem desaparecer. É por isso que precisamos de um diálogo entre os saberes e uma visão da humanidade e de seu futuro, junto com uma reflexão ética sobre os produtos do conhecimento humano".
A tecnologia não deve se transformar na nova religião de hoje
A Pontifícia Academia para a Vida quer propor, esclareceu dom Paglia à mídia vaticana, "um serviço de esclarecimento, de reflexão atenta sobre o que é o humano comum. A Igreja tem as Sagradas Escrituras e uma tradição que oferece perspectivas extraordinárias sobre a dignidade do ser humano, que para nós está sempre ligado à família humana e ao cuidado da criação". Uma visão que, para o arcebispo, é necessária repropor "dentro de um mundo científico que corre o risco de ser vítima da primazia da tecnologia e da economia", que corre o risco de "esmagar a responsabilidade e a beleza do ser humano comum, transformando-o em um instrumento da economia ou da tecnologia". O presidente da Pontifícia Academia para a Vida enfatizou que deve ser combatida a tentação "de que a tecnologia seja a nova religião do mundo contemporâneo", redescobrindo-a a serviço do ser humano e não dominando-o. No campo dos algoritmos, por exemplo, lembrou dom Paglia, o próprio Papa disse à Pontifícia Academia para a Vida "que considera importante combater a algocracia com a algoética, ou seja, não o homem a serviço da tecnologia, mas exatamente o contrário: a tecnologia a serviço do homem".
Redescobrir o poder do homem para guiar a tecnologia
O medo das novas tecnologias, para o arcebispo, é transmitido pela mídia de massa. "Acredito que tenham razão, e nós estamos entre eles, aqueles que afirmam que somos mais fortes do que a tecnologia, que a tecnologia é um instrumento se redescobrirmos a força do ser humano para guiar a tecnologia. Esse é o compromisso da Academia". Dom Paglia enfatizou que "nós, seres humanos, inventamos a tecnologia. Cabe a nós guiá-la e não nos resignarmos a ser guiados pela tecnologia, porque atrás da tecnologia há uma economia hipercapitalista que quer colher todos os seus benefícios".
O prêmio "Guardião da Vida" a uma anestesista do Haiti
O chanceler da Pontifícia Academia para a Vida, dom Renzo Pegoraro, explicou que durante os dois dias de debates e oficinas haverá uma tentativa de integrar "a visão humanística, a visão científica e tecnológica e a visão religiosa". Na tarde de quarta-feira, 13 de fevereiro, está prevista a premiação do vencedor da terceira edição do Prêmio 'Guardião da Vida' entregue à dra. Marie Guerda Coicou, que vive e trabalha no Haiti e é especialista em Anestesia e Reanimação. À noite, a partir das 21 horas, na Igreja de Santa Maria delle Grazie alle Fornaci haverá uma meditação-concerto com a apresentação de Quatuor pour la fin du temps (1941), de Olivier Messiaen (1908-1992), composta num campo de concentração, aos cuidados do teólogo e musicólogo pe. Pierangelo Sequeri. A entrada é gratuita.
As novas publicações da Academia
Para dar uma contribuição à Igreja e à sociedade, haverá a publicação das Atas nos próximos meses. O chanceler Pegoraro recordou as da Assembleia Geral de 2023 sobre o tema "Convergindo para a pessoa", e a recente publicação do Colóquio Científico sobre Cuidados Paliativos Perinatais, em inglês. Há dois anos, a Livraria Editora Vaticana publicou o volume Etica Teologica della Vita (Ética Teológica da Vida), que apresenta o resultado de um seminário internacional de Teologia Moral baseado num Texto Base. Um trabalho "que despertou grande interesse nos círculos acadêmicos e fora deles, e é por isso que agora decidimos publicar o Texto Base num volume separado", disse ele. O volume se intitula La Gioia della Vita (A Alegria da Vida) publicado pela LEV em italiano. As traduções em inglês, francês e espanhol já estão prontas e serão publicadas em breve.
Al-Khalili: a Inteligência Artificial não deve ser vista como uma ameaça
Entre os palestrantes da Assembleia, o físico britânico Jim Al-Khalili, da Escola de Matemática e Física da Universidade de Surrey, em Guildford, enfatizou que computador e novas tecnologias não nos tornaram menos "humanos" até o momento. Eles nos mudaram, sim, e poderíamos dizer que nem sempre para melhor", esclareceu ele, "mas não alteraram nossa essência: o que significa ser humano". É claro, continuou Al-Khalili, que "há muitos desafios e, possivelmente, até ameaças existenciais que enfrentamos diante dos rápidos avanços da Inteligência Artificial. Certamente devemos estar preparados para o dia em que as máquinas desenvolverem uma verdadeira inteligência e consciência". Mas isso não deve nos causar uma crise de identidade. O físico está convencido de que a Inteligência Artificial "nunca será capaz de pensar ou sentir como um ser humano" porque "o que nos torna humanos vai além das conexões neurais do nosso cérebro. É mais do que nossa inteligência, intuição ou criatividade, que provavelmente um dia serão replicadas em formas de Inteligência Artificial. O que nos torna exclusivamente humanos é também o nosso comportamento e a nossa interação com o ambiente físico circunstante, nossas relações recíprocas dentro de estruturas coletivas e sociedades complexas; são nossas culturas e crenças compartilhadas, nossa história, nossas recordações". Portanto, concluiu ele, a Inteligência Artificial "não deve ser vista como uma ameaça".
Mazzucato: uma economia justa para visar o bem comum
Como parte do encontro internacional da Pontifícia Academia para a Vida, a acadêmica Mariana Mazzucato, economista do Instituto de Inovação e Propósito Público (IIPP), da University College London, aborda o tema: "Governar a economia para o bem comum". Explicando que se o mundo está enfrentando crises globais e interconectadas, como a do clima, da biodiversidade, da água e da saúde, ainda assim os Estados não conseguiram tratá-las como objetivos coletivos com agendas comuns. Para Mazzucato, o bem comum deve ser entendido "tanto como a definição de objetivos compartilhados quanto como a elaboração de maneiras de alcançá-los". Como o Papa Francisco reconhece em sua Encíclica Laudato si', "isso implica defender a dignidade das pessoas socialmente, politicamente e economicamente marginalizadas - não apenas em palavras, mas com políticas e novas formas de colaboração entre governo, empresas, trabalhadores e sociedade civil. É necessário levar diferentes vozes para a mesa, concluiu a economista ítalo-americana, "para discutir o que significa co-criar uma economia justa e sustentável, porque uma grande lição da pandemia da COVID-19 foi que, se a atividade econômica - como o desenvolvimento de vacinas - não for governada para o bem comum, muitas pessoas permanecem excluídas dos seus benefícios".
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