O martírio dos católicos que desafiaram Hitler é tema de livro
Pope
As poucas conhecidas histórias da vida dos mártires católicos que se opuseram a Hitler são agora contadas por Francesco Comina em seu novo livro "A Lâmina e a Cruz" (Libreria Editrice Vaticana, 176 pp. 15 euros), nas livrarias a partir de 15 de janeiro. A narrativa do jornalista sul-tirolês é baseada em documentos encontrados em arquivos, em testemunhos de herdeiros destes mártires e nas visitas a locais de memória na Itália, Áustria e Alemanha.
Algumas destas figuras tornaram-se conhecidas do grande público, outras ficaram restritas apenas ao âmbito eclesial, enquanto outras ainda são praticamente desconhecidas e merecem destaque pela sua mensagem de resistência civil e testemunho cristão.
Os jovens
Entre os personagens menos conhecidos e mais interessantes evocados pelo livro está Walter Klingenbeck, jovem de Munique de 19 anos, que reuniu ao seu redor um pequeno grupo, iniciando ações de resistência não violenta e de consciência antinazista: entre as suas iniciativas, o projeto de um “drone”, um avião telecomandado, para espalhar panfletos antinazistas a fim de despertar a consciência civil da população, contagiada pela propaganda do Terceiro Reich. O círculo de Klingenbeck também projetou uma rádio clandestina, pintou símbolos ligados aos Aliados nas paredes dos prédios e tentou sacudir a opinião pública.
Dos quatro jovens do grupo presos, apenas Walter acabou no patíbulo, sendo decapitado em 5 de agosto de 1943. Mesmo destino tiveram dois pais de família, que hoje a Igreja reconhece como beatos: - o agricultor austríaco que ficou famoso pelo filme de Terrence Malick a ele dedicado The Hidden Life ("A vida escondida") , eliminado em 9 de agosto de 1943 após ser trancafiado na mesma prisão que Dietrich Bonhoeffer - e membro da Ação Católica, marido e pai de família, que, tendo se alistado no exército alemão, recusou jurar a Hitler e por isso foi enviado para Dachau: morreu de sofrimento na viagem para o campo de concentração em 24 de fevereiro de 1945.
Singular a ligação que Francesco Comina traçou entre a história de Mayr-Nusser - responsável pelos jovens da Ação Católica do Alto Adige nos anos de guerra -, e a história do batalhão de Brixen, formado por jovens do Alto Adige.
De fato, cerca de dois mil novos recrutas recusaram-se a cumprir o juramento de sangue ao Führer e por isso foram punidos com o envio para zonas de guerra onde eram "bucha de canhão". Muitos daqueles jovens que em fevereiro de 1945 deveriam prestar juramento em Bressanone eram da Ação Católica, educados por MayrNusser, e permaneceram em silêncio em nome da sua fé cristã.
As mulheres
Francesco Comina, ademais, entrelaça e dá voz às histórias de três mulheres, esplêndidas figuras de resistentes em nome do Evangelho à violência e à opressão da suástica: Irmã Maria Angela Autsch, culpada por resistir ao nazismo na Áustria e por isso enviada para Auschwitz, onde trabalhou duro nos barracões da morte, até sua morte em um bombardeio em 23 de dezembro de 1944. Também Eva-Maria Buch e Maria Terwiel, duas mulheres alemãs ativas em Berlim nas redes de resistência que faziam oposição ao Terceiro Reich, alcançadas pela Gestapo e mortas na guilhotina, brilham como objetoras ao nazismo em nome do Evangelho.
Os sacerdotes
Entre as testemunhas descritas por Comina estão também três sacerdotes: Max Josef Metzger, sacerdote pacifista, ativo na ação ecumênica, incansável conferencista e animador comunitário, decapitado em 17 de Abril de 1944; Franz Reinisch, religioso palotino que havia estudado em Brunico e Bolzano, pregador incansável contra o nazismo, por isso preso e guilhotinado em 21 de agosto de 1942; padre Heinrich Dalla Rosa, natural de Lana, província de Bolzano, cujas declarações contra o nazismo foram denunciadas por alguns vizinhos: não desmentiu sua oposição ao Terceiro Reich e por isso foi morto em 24 de Janeiro de 1945.
Francesco Comina participará de uma série de encontros para apresentar seu livro: na segunda-feira, 15 de janeiro, às 18h, no Museu da Mulher em Merano (BZ); terça-feira, 16 de janeiro às 17h30, no Polo «Vigilianum», em Trento; quarta-feira, 17 de janeiro às 17h30, na Sala Fondazione Caritro em Rovereto (TN); na quinta-feira, 18 de janeiro às 18h, no espaço Luogo Comune em Riva del Garda (TN); na sexta-feira, 19 de janeiro às 20h30, no Monastero bene comune, em Sezano (VR); sábado, 20 de janeiro às 17h30, na Livraria Paoline), em Brescia; sexta-feira, 26 de janeiro, em Vicenza (17h30, livraria San Paolo) e em San Bonifacio (VR) (20h45, Sala Barbarani), sábado, 27 de janeiro, em Fumane (VR) (10h, sala consiliare), domingo, 28 de janeiro, em Sommacampagna (VR) (às 9h30, sala consiliare).
O autor
Francesco Comina (Bolzano, 1967) é jornalista e escritor. Sempre interessado nos temas da não-violência e dos direitos humanos, coordenou durante dez anos o Centro da Paz do Município de Bolzano. Escreveu vários ensaios, traduzidos para vários idiomas, incluindo Sozinho contra Hitler. Franz Jägerstätter, o primado da consciência (Emi), O homem que disse não a Hitler. Josef Mayr-Nusser, um herói solitário (il Margine), Monsenhor Romero, mártir do povo. Os últimos dias na narrativa do diário (La Meridiana)
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp