Símbolos do Presépio - Papa Francisco
Pe. Gerson Schmidt*
"A reforma do concílio contemplou a celebração dos fortes tempos litúrgicos. Estamos no tempo do Advento, preparativa alegre ao Natal, traduz a nova edição do Missal Romano do Brasil. Comemorando 800 anos da criação do primeiro presépio, que foi com personagens humanos, da história, por São Francisco de Assis, o Papa Francisco escreveu recentemente a , escrevendo sobre o sentido e o significado do presépio nos nossos dias. São Francisco pediu que se fizesse a composição e encenação do presépio porque queria contemplar a fragilidade daquele menino que se fez pingo de gente e teve que enfrentar as intempéries daquela gruta, daquela estrebaria, daquele lugar de animais. São Francisco quis sentir essa realidade de um Deus grande que se faz menor, humilde, pequeno, rebaixando-se a uma frágil criança em Belém. O santo de Assis quis sentir os incômodos que Jesus padeceu pela falta das coisas necessárias a um recém-nascido, nascido numa estrebaria, ao lado de animais e em companhia com seus pais. No fundo São Francisco, autor do primeiro presépio que a história registra, quis contemplar a Kênosis (que significa rebaixamento) de Deus em meio a nós, se fazendo ventre na humanidade.
Na Carta Apostólica, o Papa usa uma fórmula, em latim, que nos remete tanto a Inácio de Loyola como a São Francisco, justificando, dessa forma, o contraponto franciscano do Papa inaciano, o nosso papa Jesuita. A máxima pertence sem dúvida ao fundador da Companhia de Jesus, mas a sua concepção encontra-se já em São Francisco, o Poverello de Assis, ou mais precisamente em São Boaventura, que fará do “limite” o lugar de uma ontologia da pobreza (adotando, assim, a perspectiva franciscana), bem longe do “excesso” do saturado. Diz o Papa: “Impressionou-me sempre uma máxima com que se descreve a visão de Inácio: Non coerceri a maximo, sed contineri a mínimo divinum est (não estar constrangido pelo máximo, e no entanto, estar inteiramente contido no mínimo, isso é divino)”. O Papa diz: “É divino ter ideais que não sejam limitados por nada do que existe, mas ideais que, ao mesmo tempo, se contenham e sejam vividos nas coisas mais pequenas da vida. Em suma, não vale a pena assustar-se com as coisas grandes, importa antes andar em frente e reparar sempre nas coisas mais pequenas. E continua a escrever o sumo Pontífice: “É por esta razão que salvaguardar o espírito do presépio se torna uma imersão salutar na presença de Deus, que se manifesta nas pequenas coisas, por vezes banais e repetitivas, do quotidiano. Saber renunciar àquilo que seduz, mas leva por maus caminhos, e escolher os caminhos de Deus e a tarefa que nos espera. Para este efeito, o discernimento é um grande dom e nunca nos devemos cansar de o pedir na oração. No presépio, os pastores são aqueles que acolhem a surpresa de Deus e vivem com espanto o encontro com Ele, adorando-O: na pequenez reconhecem o rosto de Deus. Humanamente, somos todos impelidos a procurar a grandeza, mas é um dom saber encontrá-la de verdade: conseguir encontrar a grandeza".
O Papa jesuíta conta um fato ocorrido em janeiro de 2016 quando encontrou-se com jovens de Rieti precisamente no Oásis do Menino Jesus, pouco acima do Santuário do Presépio. E conta: “Recordei-lhes então, e recordo hoje a todos, que são dois os sinais que, no Natal, nos guiam para reconhecer Jesus. Um é o céu cheio de estrelas. São tantas, infinitas, mas entre todas brilha uma especial, que impele os Magos a deixar as suas casas e a iniciar uma viagem, um caminho que não sabem aonde os vai levar. Acontece o mesmo na nossa vida: em certo momento, uma «estrela» especial convida-nos a tomar uma decisão, a fazer uma escolha, a iniciar um caminho. Devemos pedir a Deus com força que nos mostre essa estrela que nos impele para além dos nossos hábitos, porque essa estrela levar-nos-á a contemplar Jesus, aquele Menino nascido em Belém que quer a nossa felicidade plena.
Em linguagem bem coloquial e de fácil compreensão, como é própria de nosso Papa Francisco, descreve assim o segundo sinal da noite de Natal: “Naquela noite que se tornou santa pelo nascimento do Salvador encontramos um outro sinal poderoso: a pequenez de Deus. Os anjos mostram aos pastores um menino nascido numa manjedoura. Não um sinal de poder, de autossuficiência ou de soberba. Não. O Deus eterno reduz-Se a Si próprio a um ser humano indefeso, pobre, humilde. Deus rebaixou-Se para que nós possamos caminhar com Ele e para que Ele possa pôr-Se ao nosso lado; Deus não quer pôr-Se acima ou longe de nós”.
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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