Cantalamessa: Joāo Batista, o moralista e o profeta
Padre Pedro André, SDB – Pope
Seguindo a tradição, dos períodos da Quaresma e do Advento, a Cúria Romana, juntamente com o Papa Francisco, participa das pregações feitas pelo pregador oficial da Casa Pontíficia, o cardeal Raniero Cantalamessa. Nesta sexta-feira, 15 de dezembro, na Aula Paulo VI, houve a primeira pregaçāo.
Ao iniciar o cardeal afirmou que as três figuras de destaque na liturgia do tempo do Advento são: Isaias, Joāo Batista e Maria e, que “este ano, tendo apenas duas meditações à disposição” resolveu dedicá-las aos dois: “ao Precursor e à Mãe.”
João Batista, pregador de conversão
Cantalamessa afirmou que “nos Evangelhos, o Precursor nos aparece em dois papéis diversos: o de pregador de conversão e o de profeta” e que dedicaria a “primeira parte da reflexão a João moralista, a segunda, a João profeta”. Segundo o cardeal “à base da pregação do Batista está a afirmação: “Convertei-vos e o reino de Deus virá a vós!”; à base da pregação de Jesus está afirmação: “Convertei-vos, pois o reino de Deus veio a vós!” Ainda segundo ele, “não é uma diferença apenas cronológica, como entre um antes e um depois; trata-se de uma diferença também axiológica, isto é, de valor. Quer dizer que não é a observância dos mandamentos que permite ao reino de Deus vir; mas é a vinda do reino de Deus que permite a observância dos mandamentos. Os homens não mudaram improvisamente e se tornaram melhores, de modo que o Reino pôde vir sobre a terra. Não, eles são os de sempre, mas foi Deus quem, na plenitude dos tempos, enviou o seu Filho, dando-lhes assim a possibilidade de mudar e viver uma vida nova.”
Segundo o cardeal “Jesus não espera que os pecadores mudem de vida para poder acolhê-los; mas os acolhe, e isso leva os pecadores a mudar de vida. Todos os quatro Evangelhos – Sinóticos e João – são unânimes nisso. Jesus não espera que a Samaritana ponha em ordem a sua vida privada, antes de entreter-se com ela e até mesmo lhe pedir para lhe dar de beber. Mas assim fazendo, mudou o coração daquela mulher, que se torna uma evangelizadora em meio ao seu povo. O mesmo acontece com Zaqueu, com o publicano Mateus, com a pecadora anônima que lhe beija os pés na casa de Simão e com a adúltera.”
João Batista, “profeta e mais que profeta”
Ao iniciar o segundo tema da pregação, sobre João Batista como profeta, o pregador fez a seguinte pergunta: “em que sentido (...) João Batista é um profeta? Onde está a profecia no seu caso? Os profetas anunciavam uma salvação futura. Mas João Batista não anuncia uma salvação futura; ele aponta para alguém que está presente. Em que sentido, então, pode ser chamado de profeta?”
De acordo com Cantalamessa “todos os quatro Evangelhos põem em evidência a dúplice veste de João Batista, a de moralista e a de profeta. Mas, enquanto os Sinóticos insistem mais sobre a primeira, o Quarto Evangelho insiste mais sobre a segunda. João Batista é o homem do “Ei-lo!”. “Foi dele que eu disse... Eis o Cordeiro de Deus!” (Jo 1,15.29). Que arrepio deve ter corrido pelo corpo daqueles que, com estas palavras ou outras semelhantes, receberam por primeiro a revelação. Era como uma passagem de insígnias: passado e futuro, espera e cumprimento se tocavam.”
Segundo o pregador “a tarefa profética da Igreja será a mesma de João Batista, até o fim do mundo: sacudir cada geração da sua terrível distração e cegueira que impede reconhecer e ver a luz do mundo. É esta a tarefa perene da evangelização. No tempo de João, o escândalo derivava do corpo físico de Jesus; da sua carne tão semelhante à nossa, exceto o pecado. Também hoje é o seu corpo, a sua carne a escandalizar: o seu corpo místico, a Igreja, tão semelhante ao resto da humanidade, não excluído nem mesmo o pecado. Como João Batista fez reconhecer Cristo sob a humildade da carne aos seus contemporâneos, assim é necessário hoje fazê-lo reconhecer na pobreza e na miséria da Igreja e da nossa própria vida.”
Uma evangelização nova no fervor
O cardeal afirmou que “São João Paulo II caracterizou a nova evangelização como uma evangelização “nova no fervor, nova nos métodos e nova nas expressões”. João Batista é mestre para nós sobretudo na primeira destas três coisas, o fervor. Ele não é um grande teólogo; tem uma cristologia bastante rudimentar. Ainda não conhece os mais altos títulos de Jesus: Filho de Deus, Verbo, e nem mesmo o de Filho do homem.” Ainda segundo Cantalamessa “a nova evangelização pode e deve ser, sim, nova “no fervor, no método e na expressão”, mas não nos conteúdos, que permanecem os de sempre e que derivam da revelação. Em outras palavras: que pode e deve haver uma nova evangelização, mas não um novo Evangelho.”
Segundo o cardeal “a pregação de João Batista nos oferece a ocasião para uma observação atual e importante justamente a propósito deste “crescimento” da palavra de Deus que o Espírito Santo opera na história. A tradição litúrgica e teológica pegou dele sobretudo o grito: “Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo!”. Na realidade, porém, esta é apenas metade da profecia do Batista sobre Cristo. Ele logo acrescenta, quase de um só fôlego, e em todos os quatro Evangelhos: “Ele vos batizará com o Espírito Santo!” (cf. Jo 1,33), e ainda: “Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3,11). A salvação cristã não é, portanto, algo apenas de negativo, um “tirar o pecado”. É sobretudo algo de positivo: é um “dar”, um infundir: vida nova, vida do Espírito. É um renascimento.”
O cardeal concluiu sua pregação afirmando que “os santos amam continuar, do céu, a missão que desempenharam quando vivos sobre a terra. Santa Teresa do Menino Jesus pôs isso como uma espécie de condição a Deus para ir ao céu. São João Batista ama, também ele, ser ainda o precursor de Cristo, ama preparar-lhe os caminhos. Emprestemos-lhe a nossa voz!”
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