Ruffini: o S¨ªnodo e a proposta da escuta em ¨¦poca de confrontos e mon¨®logos
Adriana Masotti - Pope
Uma Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, a que será realizada no Vaticano de 4 a 29 de outubro, que apresenta muitas novidades e só é previsível até um certo ponto, porque é a mais aberta possível à voz e às surpresas do Espírito. Uma assembleia que não porá fim ao processo iniciado em 2021 na Igreja universal, mas será uma etapa do caminho empreendido: suas conclusões não terão um peso definitivo, mas representarão o resultado de uma síntese sobre a qual se terá chegado ao consenso dos membros e, portanto, um fruto da comunhão alcançada no discernimento comum sobre os temas presentes no . Essa, ressaltou em vários momentos Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação e presidente da Comissão de Informação do Sínodo, é a substância de um desafio que se aproxima também para os jornalistas, aos quais se pede que entrem na verdadeira dimensão do trabalho definido como "um espaço sagrado e protegido de conversação no Espírito", tão sagrado quanto a oração. A coletiva foi realizada na Sala de Imprensa da Santa Sé na última quinta-feira (28).
A vigília para confiar as obras ao Espírito
Muitos tópicos foram abordados por Ruffini, a começar pela vigília de oração ecumênica do último sábado (30), presidida pelo Papa Francisco na Praça São Pedro, que precedeu significativamente a abertura da Assembleia para confiar os trabalhos ao Espírito Santo. A iniciativa contou com a presença de todos os participantes da assembleia e de muitos líderes das Igrejas de diferentes confissões, como o Patriarca Ecumênico Bartolomeu, o arcebispo de Canterbury Justin Welby e muitos outros.
O retiro espiritual
A Assembleia Geral Ordinária dos Bispos no Vaticano está sendo precedida por um retiro espiritual, do qual o Papa não participa, que começou após a Vigília e vai até a noite desta terça-feira, 3 de outubro, na casa Fraterna Domus em Sacrofano, interior de Roma. No programa do retiro, informou Ruffini, estão sendo realizadas missas, orações, a escuta de meditações confiadas a uma religiosa - Madre Ignazia Angelini - e ao Padre Timothy Radcillfe, e depois reuniões de grupo.
Outro evento no contexto do trabalho sinodal será a peregrinação de 12 de outubro, na qual os membros da assembleia irão "às raízes da fé cristã da Igreja primitiva, seguindo os passos de São Pedro e São Paulo e dos primeiros mártires". Como informou o presidente da Comissão de Informação do Sínodo, será "entre as catacumbas de São Sebastião, São Calisto e a -igreja 'Domine quo vadis' na Via Appia Antica em Roma, e será um momento para rezar, caminhar juntos e refletir sobre a experiência espiritual do Sínodo".
A comunicação do trabalho do Sínodo
Paolo Ruffini também entrou em detalhes sobre as informações úteis para o trabalho dos agentes de comunicação para dizer que será possível acompanhar parte dos trabalhos da assembleia em presença e seguir algumas das etapas via streaming, como as missas, os momentos de oração e meditação: em particular a oração pelos migrantes e refugiados no dia 19 de outubro às 19h15 na hora italiana (14h15 no horário de Brasília); a recitação do terço em 25 de outubro às 19h30 na Itália (14h30 no horário de Brasília); e a abertura do primeiro dia, com o discurso do Papa, do presidente delegado, do orador geral e do secretário geral do Sínodo. Haverá também breves briefings diários e cinco coletivas de imprensa (ao final dos módulos) com a participação de membros da assembleia.
Uma alternativa ao paradigma do monólogo e do confronto
Antes de dar espaço às perguntas dos jornalistas presentes na coletiva, o prefeito do Dicastério para a Comunicação se deteve nas palavras pronunciadas sobre o Sínodo, por Francisco, em sua viagem de retorno da Mongólia. Naquela ocasião, o Papa, lembrou Ruffini, quis esclarecer o que é e o que não é o Sínodo, explicando que não se trata de uma contagem algébrica de opiniões prévias.
"Nesta nossa época", disse Ruffini, "em que falamos muito e ouvimos pouco, em uma época em que o sentido do bem comum corre o risco de enfraquecer e o paradigma do monólogo e do confronto corre o risco de se afirmar, quando medimos a dificuldade de nos sentirmos parte de um destino compartilhado e em uma época marcada pela crise das instituições e dos processos de tomada de decisão, é precisamente neste momento que a Igreja oferece uma proposta alternativa ao mundo inteiro".
A comunicação em uma carta do cardeal Martini
E mais uma vez, Ruffini citou Effatà apriti, a carta pastoral sobre comunicação do cardeal Carlo Maria Martini, que pode ajudar a entender a razão pela qual alguns momentos do trabalho sinodal não serão públicos. Ruffini leu algumas passagens da carta durante a coletiva: "a comunicação divina é preparada no silêncio e no segredo de Deus (...). A comunicação precisa de tempo". E ainda: "não devemos nos assustar com momentos de sombra. Luzes e sombras são ocorrências normais do fato comunicativo".
As perguntas dos jornalistas
As muitas perguntas dos jornalistas acabaram dizendo respeito, na verdade, ao significado a ser dado à confidencialidade solicitada pelo Papa aos membros da assembleia, constituída por 75% de bispos, ao que será comunicado e ao que não será, se as decisões tomadas pela assembleia terão valor canônico ou não. A confidencialidade, respondeu Ruffini, não é novidade e é normal em reuniões de instituições públicas, mas não é apropriado usar termos como "secreto".
Ele enfatizou que "as congregações gerais ocorrem de acordo com o método de conversação no Espírito, onde o que conta não é a intervenção de um ou de outro, mas a formação de um pensamento comum". Com a assembleia, reiterou Ruffini, ainda estamos em uma fase de discernimento, uma fase aberta a outras etapas, e somente em 2024 as conclusões serão alcançadas.
O convite final ao mundo da comunicação foi poder compartilhar com o povo de Deus e com todos os homens e mulheres do nosso tempo a novidade do caminho percorrido pela Igreja e o autêntico significado desta assembleia que quer ser, concluiu Paolo Ruffini, "um momento de discernimento comum na fé, na comunhão, na oração, no silêncio e na escuta".
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