O sangue dos ³¾¨¢°ù³Ù¾±°ù±ð²õ desperta as profundezas da hist¨®ria, afirma Pe. Romano
Michele Raviart - Pope
Fiéis coptas na Líbia mortos pelo Estado Islâmico, as vítimas dos ataques de Páscoa no Sri Lanka em 2019. Irmã Luisa Dall'Orto no Haiti e Irmã Maria De Coppi em Moçambique. Padre Santoro na Turquia, Padre Hamel na França. São esses alguns dos "novos mártires" dos últimos 25 anos, cujos testemunhos serão coletados pela comissão estabelecida pelo Papa Francisco para o próximo Jubileu, como aconteceu com aquele do ano 2000. Entre os membros está o Pe. Angelo Romano, da Comunidade de Santo Egídio de Roma, reitor da Basílica de São Bartolomeo na Ilha, dedicada justamente aos mártires dos séculos XX e XXI.
Pe. Romano, qual é o objetivo da "Comissão dos Novos Mártires - Testemunhas da Fé" instituída na última quarta-feira (5) pelo Papa?
Entramos em um novo milênio e em um novo século e, portanto, é necessário, mais uma vez, coletar os testemunhos daqueles que deram a vida pelo Evangelho. O valor ecumênico desse trabalho também é enfatizado. A busca por essas novas testemunhas da fé não diz respeito apenas à Igreja Católica, mas se estenderá a todas as denominações cristãs. Todas as diferentes situações que produzem mártires também são listadas. Em alguns casos, até mesmo o simples fato de participar da Eucaristia dominical significa arriscar a própria vida. Portanto, há esse foco em uma Igreja que, como o Papa Francisco disse tantas vezes, tornou-se novamente uma "Igreja de mártires" e que deseja conhecer e valorizar as histórias de todos esses filhos do Senhor que deram suas vidas pelo Evangelho.
O Papa escreve, e não é a primeira vez, que os mártires são mais numerosos em nosso tempo do que nos primeiros séculos. Por que chegamos a esses números?
A surpresa é mais a questão do fato em si, porque talvez tenhamos nos esquecido de como o testemunho dos cristãos é de alguma forma "perturbador" em muitas situações. Os cristãos, por exemplo, em contextos controlados pelo crime organizado, educam os jovens, acolhem os pobres, ajudam-nos sem segundas intenções... Eles representam um elemento de incômodo muito forte para as organizações criminosas que, depois, no final, de fato, como acontece em vários contextos latino-americanos, não hesitam em matar, até mesmo presbíteros, até bispos. O testemunho cristão, embora "manso", é um testemunho forte. De um amor forte que muitas vezes explode em uma aversão que, infelizmente, chega ao ponto de tirar a própria vida. Em muitas partes do mundo, os cristãos sofrem a tensão de ser uma minoria ou de viver em sociedades que ainda não têm uma concepção verdadeira e perfeita de liberdade religiosa. Em outras, eles também estão expostos à aversão política e à tentativa de reduzir a experiência cristã ao mero ato de culto. São feitas tentativas de mutilar a vida da Igreja em muitos aspectos fundamentais. Pensemos na assistência aos mais pobres, na educação. É um discurso complexo, mas que nos lembra que o Evangelho é, de alguma forma, algo que muda a realidade, não a deixa como está, e isso, obviamente, gera retrocessos e reações. Infelizmente, às vezes até negativas. O poder do Evangelho muitas vezes, de alguma forma, tem esse tipo de consequência por parte daqueles que querem apagar essa luz de esperança, essa proposta alternativa, esse fermento que, de alguma forma, vemos, está transformando a sociedade.
O senhor é reitor de São Bartolomeo na Ilha, em Roma, uma igreja dedicada aos mártires dos séculos XX e XXI e onde há um memorial em homenagem a eles. Quem são as figuras mais eminentes relacionadas exatamente a esse último quarto de século?
Há, sem dúvida, muitas personalidades nos últimos 25 anos. Estou pensando particularmente na história do Padre Hamel, nestes dias em que a França é abalada por uma violência muito dolorosa. Um homem de paz, um homem de grande fraternidade, que havia doado um terreno paroquial para a construção de um centro islâmico para permitir que os muçulmanos de sua região pudessem rezar, e que foi morto por dois jovens que haviam chegado a extremos na Internet enquanto celebravam a liturgia. O que é impressionante são os frutos desse trágico evento. Houve uma reunião de todos, inclusive de muitas autoridades religiosas islâmicas, que manifestaram algo que não era formal, mas que era realmente um pesar por um homem bom. O sangue dos mártires misteriosamente desperta algo profundo na história, já vimos isso em muitas situações e o vemos repetidamente. Há o testemunho cristão deles que aparentemente é uma derrota, mas, paradoxalmente, no final ele se torna um pouco como a cruz, um sinal de vitória. Em sua história, vemos os sinais brilhantes de uma vitória do bem sobre o mal e da vida sobre a morte.
Como as histórias dos mártires podem ser um exemplo para os cristãos de hoje, em 2023?
Conhecê-las já é algo fundamental. De fato, a tarefa da comissão, como pode ser visto na carta do Papa Francisco, que também era a tarefa da Comissão dos Novos Mártires em vista do Jubileu de 2000, é precisamente a de coletar as histórias, portanto, coletar os testemunhos sobre esses eventos, para que possam ser conhecidos. A verdade é que a maioria dessas testemunhas da fé vive em um contexto do qual não se fala, ou do qual se fala muito pouco, como o Haiti, como Kivu, na República Democrática do Congo, ou como alguns cantos do Oriente Médio. Conhecer suas histórias também significa abrir uma fenda em um véu de silêncio que muitas vezes não nos permite conhecê-las e apreciá-las. Mas são histórias atraentes, são histórias bonitas, são pérolas do Evangelho que absolutamente devem ser contempladas. Elas levam à contemplação, à admiração e à gratidão por uma vida que conseguiu chegar onde humanamente nunca se deveria chegar, ou seja, o dom da vida, mas por meio de um caminho iluminado pela graça de Deus.
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