Baggio: uma governança global para tornar a migração uma escolha
Pope
O direito de permanecer precede, é mais profundo e mais amplo do que o direito de emigrar. Foi o que ilustrou o subsecretário do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, pe. Fabio Baggio, responsável pela Seção de Migrantes e Refugiados e pelos Projetos Especiais. O sacerdote chamou a atenção para aquele que é “um direito ainda não codificado em nível internacional: o direito de não ter que emigrar, de poder permanecer na própria terra”.
Objetivo a longo prazo
Mas “tornar todas as migrações uma escolha livre é, sem dúvida, um objetivo a longo prazo. As mudanças necessárias levam muito tempo.” Por isso, segundo padre Baggio, “ainda devemos esperar grandes fluxos migratórios” e “é necessário comprometer-nos a desenvolver uma governança global, com ações eficazes, adequadas e previdentes, que visam o bem de todas as pessoas envolvidas". Sobre a necessidade expressa por Francisco de uma informação antes da partida para quem decide viajar, o padre Baggio destacou o trabalho extraordinário realizado por muitas igrejas locais em todo o mundo. A intenção do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral é apresentar em breve "muitos exemplos de boas práticas" em seu site.
Preparar-se antes de partir
Particularmente tocante foi o testemunho de Dullal Ghosh, um migrante de Bangladesh que vive na Itália há dez anos e dá conselhos a todos aqueles que desejam migrar: "Antes de partir, é preciso se preparar: são muito importantes o idioma, os documentos e saber como encontrar trabalho, porque quando vim para a Itália tive grandes dificuldades”. Dullal, primogênito, partiu movido pelo dever de ajudar financeiramente sua família. "Eu não tive escolha. Em Roma, vendi lenços e isqueiros nos semáforos”, disse. Em seguida, o encontro com um sacerdote que o apresentou à Cooperativa Sophia - Empresa Social do qual faz parte até hoje. “Meu primeiro trabalho com ele foi organizar pastas. Eles me ajudaram a encontrar uma casa-família, obter os documentos, encontrar uma escola para aprender italiano e obter meu diploma de ensino médio. Eles me deram uma mão grande. A outra mão eu estendi: força, paciência, confiança e coragem”.
Construir pontes
A sua história hoje é contada num livro que estrutura um projeto voltado para escolas e que visa criar uma ponte entre jovens italianos e migrantes. “Com a Cooperativa Sophia - continuou - levamos o projeto Educare sem Fronteiras também às escolas do Senegal, para dar a informação certa, para que a migração seja, como diz o Papa Francisco em sua Mensagem, informada e pensada para prevenir que muitos homens, mulheres e crianças sejam vítimas de ilusões arriscadas ou de traficantes sem escrúpulos”.
Informação e conscientização
“É importante – concluiu Dullal – saber a verdade antes de partir e escolher bem”. O VIS, Voluntariado Internacional para o Desenvolvimento, trabalha para este fim e desde 2015 realiza campanhas de informação e conscientização sobre os riscos da migração irregular, sobre os direitos humanos de quem decide partir e sobre as oportunidades de formação e integração profissional para quem decide ficar". Falou sobre isso a diretora-geral, Chiara Lombardi. Presente em 13 países da África, Oriente Médio e Europa, o VIS tem como foco principal a educação e a formação profissional. "Em cada jovem em situação de rua ou em situação de vulnerabilidade - disse Lombardi - encontramos antes de tudo pessoas com o legítimo desejo de se realizar".
Desenvolvimento humano e migrações
“As migrações – continuou a diretora-geral – são um fenômeno que sempre caracterizou a história da humanidade e há conexões inegáveis entre o desenvolvimento humano e as migrações. Há uma condição fundamental que deve ser garantida em todo caso e o Papa Francisco nos lembra em sua Mensagem: migrar não deve ser uma escolha forçada pelos acontecimentos, mas uma escolha livre e consciente, acompanhada e guiada por percursos regulares e instituições responsáveis. Cada um de nós pode fazer a sua parte para que todos possam ser realmente “livres para escolher se quer migrar ou ficar”.
Cooperar como uma única família humana
Segundo Chiara Lombardi, “ainda há muitas pessoas que veem seus projetos migratórios se despedaçarem nas mãos dos traficantes”. Esta constatação anima o compromisso do VIS também em conscientizar as comunidades de acolhida na Itália "a fim de cooperar todos juntos como uma única família humana, para garantir a participação de todos os povos nos bens da nossa Casa comum, o pleno respeito os direitos humanos e a promoção de um desenvolvimento realmente autêntico e integral".
Francisco, o fogo do Espírito num mundo fragmentado
Por sua vez, dom Francesco Savino, bispo de Cassano all'Ionio, sublinhou "o impacto político, econômico, cultural, afetivo e espiritual que diz respeito a todos e a cada um" presente na mensagem do Papa Francisco. Como vice-presidente dos bispos italianos, mencionou também a campanha da CEI "Livres de escolher se migrar ou ficar", mencionada na mensagem do Papa, graças à qual se concretizaram numerosos projetos de solidariedade, tanto em países estrangeiros quanto nas dioceses italianas promotoras de acolhimento. “Em um mundo fragmentado, sentimos mais do que nunca, na energia do Papa Francisco, o vento e o fogo do Espírito Santo, disse ele.
A terra é de todos
Em seguida, o prelado recordou que a Itália é um "país não só de acolhida, mas também de partida" onde "todos os anos são mais os italianos que saem do que os migrantes que chegam". "A terra é de todos", disse. "Toda fronteira é artificial e deve permanecer permeável. Chega de um mundo de arames farpados e muros!". "Ir além - acrescentou - pode ser de grande enriquecimento, para quem parte e mesmo para quem deixa ir, pode ser uma 'abertura, uma troca, o início daquele encontro de culturas que sempre reabriu, na história, sociedades antes fechadas e decadentes". O pensamento de dom Savino se voltou para as tragédias de Cutro e o "naufrágio da humanidade diante de tantas vítimas. Os migrantes que encontro, sejam eles calabreses que partem ou irmãos e irmãs que chegam de lugares de pobreza e desespero, levam em sua carne os sinais do que o Papa Francisco nos escreveu. É em seu nome que eu lhes peço: levemos a sério como Igreja e como sociedade civil esta visão que é ao mesmo tempo secular e evangélica. É católica, porque libertadora e porque inclusiva”.
Integração é sinal de civilização
A respeito da situação italiana, ao ser questionado pelos jornalistas, o bispo reafirmou sua disposição de não entrar no mérito de escolhas políticas autônomas, mas expressou perplexidade sobre algumas medidas do governo: "A política deve ir além de certas filiações ideológicas: os imigrantes não são um problema, mas um recurso” Ele disse ter dúvidas sobre a abordagem adotada em relação à “proteção especial” aos refugiados. "O fenômeno migratório é uma emergência?" perguntou: "Não chegou a hora de rever a lei Bossi-Fini?", destacando assim o que foi expresso pelo Papa Francisco que "com uma atitude mística e profética fala de integração, acompanhamento, acolhimento. A integração é um sinal de civilização e democracia madura”.
Uma campanha para compreender a mensagem do Papa
A coletiva de imprensa também deu a oportunidade de apresentar o primeiro vídeo de uma campanha de comunicação destinada a promover o aprofundamento do tema da mensagem do Papa, organizada pelo Dicastério para a Promoção do Desenvolvimento Humano Integral.
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