Processo vaticano, advogado Shina: amea?as de Torzi ¨¤ Secretaria de Estado
Salvatore Cernuzio ¨C Pope
"Ameaças" veladas ou mais explícitas, hipótese de venda de um prédio em detrimento da Santa Sé que era sua proprietária, falta de duas diligências, mudanças de administração. Foi uma "combinação" de situações, colocadas em prática pelo corretor Gianluigi Torzi, que criou um "quadro preocupante" durante as tratativas com a Secretaria de Estado para a negociação do Prédio de Londres. Ou melhor, "um quadro psicológico de tensão nervosa". Foi o que afirmou esta quarta-feira, 29 de março, durante a quinquagésima terceira audiência do processo pela gestão dos fundos da Santa Sé, o advogado Shantanu Shina, de origem indiana naturalizado inglês, chamado a testemunhar na sala de audiências dos Museus Vaticanos.
Negociações
Na época diretor da seção Corporate do renomado escritório de advocacia Mishcon de Reya, que auxiliou a Santa Sé na tratativa com o corretor réu no atual julgamento, Shina refez as etapas das negociações de novembro-dezembro de 2018, quando a Secretaria de Estado, proprietária de fato do imóvel da Sloane Avenue com 30 mil ações sem direito a voto, queria sair do fundo Gutt de Torzi para recuperar o controle total do edifício, que Torzi, ao invés, mantinha com as já conhecidas "mil ações com direito a voto" estabelecidas por um acordo-quadro assinado em Londres por representantes da Secretaria de Estado, sem - ao que parece - autorização dos superiores.
Recuperar o controle do prédio de Londres
"Quem tinha ações, tinha poder", disse o advogado, explicando que, em 17 de dezembro de 2018, o arquiteto Luciano Capaldo havia de fato apresentado alguns documentos para que se aprovasse uma resolução que mudasse o direito de voto no Gutt a fim de que todas as decisões fossem tomadas por unanimidade. Em uma reunião realizada alguns dias depois em Milão, a proposta havia sido submetida ao próprio Torzi: "A sugestão do escritório era que o documento fosse revisado por um escritório sediado em Luxemburgo e que a resolução fosse acrescentada", de modo que a Secretaria de Estado readquirisse sua propriedade.
Hipótese de vias legais
Inicialmente, pensava-se que a estrutura de mil ações de Torzi tinha sido "inserida erroneamente". Mas a recusa do corretor em trocar as prerrogativas das ações e sua exigência de 20 milhões (que mais tarde se tornaram 15 milhões de euros, pagos meses depois em duas parcelas e resultado - de acordo com a acusação - de extorsão), deixou claro que "a situação não era errônea, mas intencional", declarou a testemunha. A estratégia sugerida por Mishcon de Reya foi a de tomar medidas legais contra Gutt e Torzi por "fraude, trapaça e engano". Em vez disso, foi preferível negociar, avaliando os riscos para a discrição e o tempo necessário para iniciar o julgamento, muito longo considerando que - de acordo com o relato de Shina - havia um sério receio de que Torzi, depois de ter dispensado o único representante da Santa Sé, Fabrizio Tirabassi (réu), do conselho do Gutt, também vendesse o edifício de Londres.
E-mails anexados aos autos
A este respeito, a testemunha depositou nos autos dois e-mails de março e abril de 2019 (em plena fase das negociações), nos quais a empresa de consultoria Bird & Bird, que estava auxiliando Torzi, exigiu que a transação solicitada pelo corretor fosse assinada dentro de 2-3 dias ou mesmo um dia, porque "decisões fundamentais" estavam em preparação, inclusive sobre a "possível mudança de propriedade do imóvel". Como se deduzia que se falava de uma venda? "Uma referência a uma mudança de propriedade para nós não estava prevista", explicou a testemunha, "embora não tivéssemos direito a voto, a Secretaria de Estado era a proprietária para todos os efeitos". Ventilar uma mudança significava exatamente isso". Portanto, a suspeita de "ameaças" em nome de Torzi de solicitar o pagamento da taxa para sair do negócio.
Ordem
No final da audiência, o presidente do Tribunal vaticano Giuseppe Pignatone leu uma ordem sobre a questão da "recusa" de depor no último dia 8 de março devido a uma "falta de garantias" por parte de padre Mario Curzu, diretor da Caritas de Ozieri na Sardenha, e Antonino Becciu, irmão do cardeal (réu), que estão sendo investigados pelo Ministério Público de Sassari, em relação às atividades da Diocese, da Caritas e da Cooperativa Spes. Na ordem desta quarta-feira, Pignatone reiterou mais uma vez que "há todas as garantias de um processo justo" e estabeleceu que os dois terão, portanto, que se apresentar irrevogavelmente no tribunal em 19 de abril, inclusive eventualmente para expressar seu direito de não responder.
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