Paulo VI no período conciliar
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
O Pontificado de Paulo VI durou 15 anos e começou imediatamente após o Conclave em junho de 1963, quando o cardeal Giovanni Battista Enrico Antonio Maria Montini, sacerdote e bispo de origem lombarda, nascido em Concesio em 26 de setembro de 1897, foi escolhido para levar a seu termo o Concílio Vaticano II e guiá-lo com mão segura, para uma Igreja "samaritana", "serva da humanidade", mais inclinada a "mensagens de confiança" do que a "presságios fatais".
Na Missa de sua beatificação, em , o Papa Francisco observou que "enquanto se delineava uma sociedade "secularizada e hostil", Paulo VI soube conduzir com "sabedoria visionária" e "às vezes na solidão", o leme da barca de Pedro, sem perder a alegria e a confiança no Senhor.
Já na cerimônia de sua canonização, em , o Santo Padre recordou que “Paulo VI, seguia o exemplo do Apóstolo cujo nome assumira. Como ele, consumiu a vida pelo Evangelho de Cristo, cruzando novas fronteiras e fazendo-se testemunha d’Ele no anúncio e no diálogo, profeta duma Igreja extroversa que olha para os distantes e cuida dos pobres. Mesmo nas fadigas e no meio das incompreensões, Paulo VI testemunhou de forma apaixonada a beleza e a alegria de seguir totalmente Jesus. Hoje continua a exortar-nos, juntamente com o Concílio de que foi sábio timoneiro, a que vivamos a nossa vocação comum: a vocação universal à santidade; não às meias medidas, mas à santidade”.
Dando sequência a sua série de reflexões alusivas ao 60° aniversário do Concílio Vaticano II, Pe. Gerson Schmidt* nos fala hoje sobre "Paulo VI e o período conciliar":
"O grande Papa São Paulo VI conduziu a barca de Pedro em pleno andamento do Concílio Vaticano II e na aplicação das conclusões das propostas conciliares. O Papa João XXIII que havia convocado e iniciado o Concílio morre durante a realização dele. Coube ao Papa Paulo VI, eleito pelo conclave – diplomata e pastor, que após servir na Secretaria de Estado da Santa Sé de 1922 a 1954, e na Arquidiocese de Milão, de 1954 a 1963 – a árdua missão de conduzir os trabalhos do Concílio Ecumênico Vaticano II (1963-1965), iniciados por seu imediato antecessor, São João XXIII. Esta missão, nobilíssima por sinal, rendeu ao Papa Montini grandes alegrias, mas também não poucos dissabores. São recorrências comuns de uma fase pós-conciliar na vida da Igreja[1].
Elevado à Cátedra de Pedro em 21 de junho de 1963, deu a conhecer ao mundo, em 6 de agosto de 1964, seu programa de Pontificado por meio da [a Sua Igreja] ao escrever que “A Igreja deve entrar em diálogo com o mundo em que vive. A Igreja faz-se palavra, faz-se mensagem, faz-se colóquio. (...) Em qualquer esforço que o homem faça para compreender a si mesmo e ao mundo, pode contar com a nossa simpatia; onde quer que as assembleias dos povos se reúnam para determinar os direitos e deveres do homem, sentimo-nos honrados, quando no-lo permitem, tomando lugar nelas” (n. 38 e 54).
O historiador da Igreja, Henrique Cristiano José de Matos, escreve que ao atender o desejo colegiado dos Padres Conciliares, reunidos em Roma, Paulo VI “o fez com a preocupação de não romper com a tradição eclesiástica. Interveio pessoalmente em todas as questões polêmicas. Nesse sentido, podemos citar a Nota Prévia (nov. de 1964, acrescentada à , que visava a reafirmar a doutrina do Concílio Vaticano I sobre o Papado; a (1965) sobre a Eucaristia, corrigindo os debates sobre a transubstanciação; a , sobre a questão do controle de natalidades e do planejamento familiar [na verdade, “paternidade responsável”, dizemos com a Igreja] (1968); a intervenção sobre o celibato sacerdotal, cuja discussão fora subtraída ao Concílio (, 1967; Sínodo dos Bispos, 1971: Documento sobre o Ministério Sacerdotal); intervenção sobre o papel da mulher na Igreja (Comissão de Estudos para o Ano da Mulher), 1975” (Introdução à História da Igreja. Belo Horizonte: O Lutador, 1987, p. 168).
Paulo VI foi um Papa aberto às questões da Igreja de seu tempo, fiel às pegadas do Vaticano II. Implementou o diálogo com o mundo moderno, com outros cristãos (ecumenismo) e com outras religiões (diálogo interreligioso); defendeu a paz mundial; empreendeu viagens internacionais, sendo o primeiro Papa depois de Pedro a estar em Jerusalém, no ano de 1964. A ida de Paulo VI à Terra Santa se deve ao intento do Concílio Vaticano II de voltar às fontes, à base do Cristianismo. Paulo VI deu impulso à colegialidade dos Bispos instituindo o Sínodo deles em 1975; reformou parcialmente a eleição do Sumo Pontífice e a escolha dos Bispos; abriu ainda mais a Cúria Romana para Cardeais não italianos e criou a Comissão Teológica Internacional (CTI).
Com essas atuações, que poderiam assomar-se a muitas outras, segundo o historiador Henrique Cristiano de Matos, Paulo VI fez duas coisas ou agiu em duas frentes, para dentro e para fora da Igreja – ad intra e ad extra. Por um lado, “realizou a ingente tarefa de renovar a Igreja na sua vida interna, dando-lhe instrumentos válidos para o trabalho de atualização, enriquecendo-a de orientações adequadas para a formação dos sacerdotes, dos religiosos e do laicato, adaptando a liturgia de acordo com os desejos do Concílio, criando uma viva consciência missionária, estimulando a formação de vários organismos que levam os membros da Igreja a uma participação maior na sua vida e na sua caminhada, não deixando nenhum setor sem sua presença, sua palavra, seu incentivo e seu admirável equilíbrio de moderador, fiel ao que é intangível sem deixar de ser fiel aos apelos dos tempos novos”.
“Por outro lado, soube o Papa Paulo VI abrir-se para o mundo inteiro, conseguindo que a Igreja fosse o que dela profetizou Isaías: ‘Um estandarte levantado no meio das Nações’ (Is 11,12). É difícil sintetizar aqui tudo o que ele fez na área do ecumenismo, em relação às Igrejas do Oriente e do Ocidente; com as culturas da Ásia e da África; suas viagens à Índia, à Austrália, às Filipinas, à América Latina, à ONU. De fato, esteve presente no mundo, levando a mensagem do Evangelho, a palavra da justiça, o apelo da paz. Paulo VI parece ter herdado de seu predecessor João XXIII a vontade de atravessar as fronteiras, de procurar o diálogo em vez de lançar anátemas” (idem, p. 168-169)."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] Cf. ORANI TEMPESTA, em artigo publicado em 30 de junho de 2014:
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