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Bispos participantes na Assembleia da Conferência Episcopal da Alemanha realizada em setembro de 2022 em Fulda Bispos participantes na Assembleia da Conferência Episcopal da Alemanha realizada em setembro de 2022 em Fulda 

Igreja na Alemanha: a identidade e a bofetada no rosto do Evangelho

O diretor do “L'Osservatore Romano” se detém nas palavras do Papa sobre a situação da Igreja alemã, pronunciadas durante a coletiva no voo de volta do Bahrein: "A crise muitas vezes se mostra fértil de possibilidades maiores e surpreendentes e novos inícios, se não se deixar degenerar em medos paralisantes ou resultados conflituosos"

Andrea Monda

Ao responder à primeira pergunta dos jornalistas, a de Fatema Alnajem, correspondente da Agência Bahrein News, o Papa refletiu em voz alta sobre a experiência da viagem que acabara de concluir e indicou a palavra-chave: diálogo. Especificando, entretanto, que a condição para que haja um diálogo verdadeiro e frutífero é a presença de duas identidades em confronto, identidades que não sejam vagas e confusas, mas claras e fortes.

Francisco voltou a este ponto de identidade, implicitamente, mas com especial ênfase, quando concluiu sua resposta à última pergunta, a do jornalista alemão Ludwig Rin-Eifel, do Centrum informationis Catholicum, que comparou a Igreja Católica no Bahrein (pequena em número, mas em crescimento graças a uma grande vivacidade cheia de esperança) com a Igreja na Alemanha (rica em dinheiro e com uma grande tradição teológica, mas em forte declínio e em meio a um período conturbado). Então o Papa falou de raízes, afirmando que "a raiz da religião é a bofetada no rosto que o Evangelho nos dá, o encontro com Jesus Cristo vivo": e dali as consequências, todas elas; dali a coragem apostólica, dali ir às periferias, mesmo as periferias morais das pessoas para ajudar; mas do encontro com Jesus Cristo. Se não houver encontro com Jesus Cristo, haverá uma ética disfarçada de cristianismo".

Este é um ponto fundamental de todo o pontificado do Papa Francisco: o retorno à fonte, à fonte da fé, o chamado à essencialidade do Evangelho. Caso contrário, a Igreja não se distinguiria de uma "piedosa ONG", porque não é uma agência ética, uma instituição dedicada à difusão de valores morais, isso são apenas efeitos, "consequências" como ele especificou na sua resposta ao jornalista alemão: “

Às vezes perdemos o sentido religioso do povo, do Santo Povo fiel de Deus, e caímos em discussões de ética, discussões de conjuntura, discussões que são consequências teológicas, mas não são o núcleo da teologia”. E o ponto crucial é precisamente "a bofetada do Evangelho". Este pequeno livro, do qual Santo Agostinho disse ter medo, é um texto que coloca em crise aqueles que se aproximam dele com coração sincero, livre e humilde, ou seja, sem intenções instrumentais ou lentes ideológicas. E a crise, o Papa repetiu com frequência, muitas vezes se mostra fértil de possibilidades maiores e surpreendentes e novos inícios, se não se deixar degenerar em medos paralisantes ou resultados conflituosos. Mas é importante acolher essa bofetada.

Quando o Papa visitou o Dicastério da Comunicação, em 24 de maio do ano passado, disse algo semelhante precisamente aos redatores do “L'Osservatore Romano”, para se deixarem esbofetear pela realidade, ou seja, para abandonar a ilusão de controle e a ansiedade de “criar” a notícia, porque a realidade, que é sempre maior do que nossas ideias, já fala o suficiente, de fato, às vezes grita, clama. E na realidade, escondida entre as dobras dos acontecimentos, há também a voz de Deus e a sua Palavra, o próprio Jesus, que continua a questionar nossa consciência: cabe a nós escutar; este é o "núcleo" de tudo, não só da teologia, mas também de uma vida vivida cristãmente e portanto humanamente em plenitude e em conformidade com a própria identidade de filhos de Deus.

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08 novembro 2022, 11:24