Gallagher: nacionalismos e conflitos impedem um novo renascimento
Francesca Sabatinelli – Pope
Diante do papel cada vez mais periférico e marginal da Europa, "um continente envelhecido, com pouca rotatividade geracional e recursos naturais limitados", é possível imaginar um novo renascimento europeu no mundo? Foi com esta questão dramática que dom Paul Richard Gallagher, secretário vaticano das Relações com os Estados, abriu seu discurso esta quinta-feira, 29 de setembro, na conferência "Um novo renascimento para a Europa: o papel da pesquisa e da educação", em andamento em Teramo, sul da Itália, até 1º de outubro. Ainda mais incisiva que a pergunta é a resposta, à luz das consequências da pandemia e da guerra na Ucrânia: "As perspectivas que se abrem diante de nós nos próximos meses parecem muito distantes, em suas premissas, do que poderia ser chamado de renascimento". E não apenas por causa de uma recuperação em risco, mas porque, explicou Gallagher, citando Francisco: "Não podemos sair da mesma forma, ou saímos melhor, ou saímos pior".
O renascimento começa com a pessoa humana
Não há um verdadeiro renascimento se a pessoa humana não estiver no centro, porque os "renascimentos" europeus sempre se verificaram a partir da pessoa e da sua liberdade. Gallagher falou das "mudanças de época", lembrando novamente as palavras do Papa, que ao longo dos séculos disseram respeito à história europeia, ligadas por certas semelhanças, desde o "afluxo de novas populações ao continente, até a definição de novos eixos geopolíticos e econômicos". A mesma semelhança histórica se olharmos para as crises, como a da Ucrânia, que destaca "a fraqueza do multilateralismo e do direito internacional no qual se baseia e que permitiu, embora com dificuldade e em meio a altos e baixos, a estabilidade e a paz no mundo e, especialmente, na Europa". O caminho para a paz "passa necessariamente pelo restabelecimento da justiça e pela reafirmação do direito", continuou o secretário vaticano, perguntando-se, entretanto, sobre o que a paz deve ser fundada, sem a qual seria inútil "dar vida a um novo renascimento europeu". A paz, continuou o arcebispo inglês, não pode ser fruto de uma imposição, olhando também para a chamada "dissuasão nuclear", repetidamente estigmatizada pelo Papa, e a paz não pode sequer ser fruto de um cálculo utilitarista de ordem econômica, porque baseada em um equilíbrio frágil, já que "a conveniência econômica da guerra supera a da paz".
A ação dos pais fundadores da Europa
A história europeia nos fala de um longo tempo de paz, mantido graças à ação dos Pais Fundadores da Europa moderna, que deixaram de lado "reivindicações e revanchismos para dar vida a um projeto comum de solidariedade e apoio mútuo". Agora, "o conflito na Ucrânia e a crescente tentação dos nacionalismos" põem em discussão "o equilíbrio alcançado até agora" e mostram "como uma paz verdadeira e duradoura, premissa indispensável para um novo renascimento europeu, não pode ser reduzida a uma mera ausência de guerra, determinada por equilíbrios de poder ou de conveniência econômica". A paz, assim como um novo renascimento, requer "pesquisa e formação", mesmo diante da "ausência geral de perspectiva" que gera, sobretudo nos jovens, um sentimento de desconfiança". Daí, a necessidade levantada por Gallagher de se falar mais sobre solidariedade intergeracional também na Europa, já que "as gerações precisam ser reconectadas entre elas", tendo em mente que "nenhum futuro é verdadeiramente construído sem paz, que para ser tal deve estar ancorado na verdade, na justiça e na caridade".
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