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Dom Peña Parra no Timor Leste: sal da terra, luz do mundo

Homilia de Dom Edgar Peña Parra, Substituto para Assuntos Gerais da Secretaria de Estado nesta quinta-feira (22) na Catedral de Dili, por ocasião da sua viagem ao Timor Leste

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Nesta quinta-feira (22) o Substituto para Assuntos Gerais da Secretaria de Estado, Dom Edgar Peña Parra, seguindo sua programação na viagem ao Timor Leste, celebrou a Santa Missa na Catedral da Imaculada Conceição de Dili. Na parte da tarde o representante do Vaticano irá visitar o monumento dedicado a São João Paulo II em Tasi-Tolu onde, em 12 de outubro de 1989, o Pontífice celebrou uma Missa quando o país ainda fazia parte da Indonésia.

Na sua homilia o arcebispo saudou com particular atenção o novo cardeal Virgílio do Carmo da Silva, o primeiro cardeal de Timor Leste, destacando em seguida que os timorenses, tendem ser o ‘sal da terra e luz do mundo’. “Em um contexto regional em que os cristãos são minoria, o vosso país – disse Dom Peña Parra - juntamente com as Filipinas, tem a maioria da população católica”.

Publicamos a seguir a homilia de Dom Edgar Peña Parra na íntegra:

Eminentíssimo Senhor Cardeal, D. Virgílio do Carmo da Silva,
Excelentíssimos Senhores Bispos,
Reverendos Sacerdotes, Religiosos e Religiosas,
Digníssimas Autoridades Civis e Militares,
Caríssimos Irmãos e Irmãs em Cristo:

Em primeiro lugar, gostaria de renovar a minha saudação ao Senhor Cardeal, D. Virgílio! A sua recente inserção no Colégio Cardinalício expressa não somente o reconhecimento do Santo Padre ao zeloso e diligente ministério pastoral que Vossa Eminência exerce nesta Igreja Diocesana há já 6 anos, mas reveste-se de um significado mais amplo, constituindo-se em um sinal da importância e da missão da Igreja timorense de seguir anunciando a mensagem de salvação nestas terras do sudeste asiático e defendendo a fé cristã, se for necessário usque ad sanguinis effusionem, até derramar o sangue!

1. Com efeito, desde o início do anúncio da Boa Nova nesta abençoada terra, não faltaram testemunhas dispostas a entregarem a própria vida para que as sementes do Evangelho aqui plantadas germinassem e dessem abundantes frutos. E estes frutos sois vós, presentes hoje nesta bela Igreja-Mãe, que mantendes viva a tradição recebida de quem vos ofereçam a fé e a transmitis com empenho às novas gerações, como já recordava São João Paulo II na homilia da missa que celebrou em Tasi-Tolu, no dia 12 de outubro de 1989: “Vós, católicos do Timor-Leste, tendes uma tradição na qual a vida familiar, a cultura e os hábitos sociais são profundamente radicados no Evangelho, e esta tradição constitui uma parte importante da vossa identidade. A vossa é uma tradição rica de ensinamentos e do espírito das bem-aventuranças, uma tradição de humilde confiança em Deus, de perdão e misericórdia e, quando necessário, de paciente sofrimento na tribulação”.

Vida familiar, cultura e hábitos radicados no Evangelho! Vós compreendeis e viveis na prática a dimensão da família como “Igreja Doméstica”. É no ambiente familiar que acontece a primeira evangelização, quando os pais – com o testemunho do amor mútuo e o exemplo de vida – transmitem aos seus descendentes os valores cristãos e os ensinam a viver como bons filhos e filhas de Deus na Igreja. Transmitem igualmente a alegria do Evangelho – Evangelii Gaudium –, voltando assim às origens, imitando o exemplo dos primeiros cristãos, como nos recordava o Papa Francisco: “Voltar às origens significa, antes, recuperar o espírito da primeira comunidade Cristã, isto é, voltar ao coração e redescobrir o centro da fé: a relação com Jesus e o anúncio do seu Evangelho ao mundo inteiro. E isto é o essencial! Esta é alegria da Igreja: evangelizar” (Homilia no Santuário Nacional de ‘Ta' Pinu’ em Gozo, Malta, 2 de abril de 2002).

Queridos irmãos e irmãs, na sua histórica visita a este País, o Papa João Paulo II ressaltava, ao comentar o texto do Evangelho de São Mateus, a missão que vós, timorenses, tendes de ser “sal da terra e luz do mundo”. De fato, em um contexto regional em que os cristãos são minoria, o vosso país – juntamente com as Filipinas – tem a maioria da população católica.

Sendo assim, o vosso testemunho de fé se reveste de um significado ainda maior diante dos enormes horizontes de evangelização que se descortinam diante de vossos olhos! O vosso testemunho de reconciliação e de perdão, fruto inegável da vivência concreta dos ensinamentos de Jesus Cristo, é uma luz para o mundo e um exemplo a ser seguido por todos os povos. Graças, em grande medida, a esta fé que viveis na prática, tendo passado por um período histórico de grande tribulação, tendes hoje um país pacificado, democrático e comprometido com a edificação de uma sociedade solidária e fraterna e com o desenvolvimento de relações pacíficas e construtivas com as nações vizinhas e com o conjunto da comunidade internacional.

2. No texto evangélico que a liturgia de hoje nos propõe, vimos como Herodes, ao ouvir falar de Jesus, procurava vê-Lo, buscava encontrá-Lo. Em nossa sociedade hodierna notamos que tantas pessoas, muitas vezes até de maneira inconsciente, também buscam “ver” Jesus, pois procuram encontrar o sentido mais profundo de suas vidas, o qual – bem o sabemos nós – somente pode ser encontrado na contemplação do mistério de Cristo, como nos ensina o grande Santo Agostinho: “Fizeste-nos para Ti e inquieto está o nosso coração enquanto não repousa em Ti” (As Confissões, I, 1,1).

Esta contemplação não é feita com os olhos do corpo, mas com os olhos da fé. Citando um conhecido episódio da vida de São João Maria Vianney, o Catecismo nos ensina: “A contemplação é o olhar da fé, fixado em Jesus. ‘Eu olho para Ele e Ele olha para mim’ – dizia, no tempo do seu santo Cura, um camponês d'Ars em oração diante do sacrário” (n. 2715). Olhando para Jesus, mas também deixando-nos olhar por Ele, podemos mergulhar nesta experiência da contemplação e perceber que “a luz do olhar de Jesus ilumina os olhos do nosso coração; ensina-nos a ver tudo à luz da sua verdade e da sua compaixão para com todos os homens” (Ibid.).

Ao falar da importância de contemplarmos a Jesus na nossa oração, na Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, o Papa Francisco nos apresenta alguns questionamentos fundamentais para a nossa vida cristã: “a contemplação da face de Jesus morto e ressuscitado é que recompõe a nossa humanidade, incluindo a que está fragmentada pelas canseiras da vida ou marcada pelo pecado. Não devemos domesticar o poder da face de Cristo. Sendo assim, atrevo-me a perguntar-te: Tens momentos em que te colocas na sua presença em silêncio, permaneces com Ele sem pressa, e te deixas olhar por Ele? Deixas que o seu fogo inflame o teu coração? Se não permites que Jesus alimente nele o calor do amor e da ternura, não terás fogo e, assim, como poderás inflamar o coração dos outros com o teu testemunho e as tuas palavras?” (n. 151)

3. Caríssimos timorenses, filhos de Deus, para que continueis a ser “luz do mundo”, para que possais levar Cristo a todos aqueles que “procuram vê-Lo”, é fundamental que contempleis a face de Cristo, que sejais homens e mulheres de profunda oração, de intenso e perseverante diálogo com Deus. É somente a partir do encontro com Jesus na oração e na vida sacramental que poderemos indicar o caminho àqueles que o buscam, ainda que – repito – muitas vezes não sejam conscientes do objeto de sua busca.

Diante desta missão de ser “luz” para que outros possam ver, diante deste amplo campo missionário, diante da grandeza do que o Senhor vos pede, poderíeis ser invadidos pelo temor, pelo receio de não estar preparados para corresponder à altura de tão elevado chamamento. Se acaso isto acontecesse, não esqueçais do que Jesus repete tantas vezes aos seus discípulos: “Não tenhais medo” (cf. Mt 10, 26.28.31; 14, 27). Não esqueçais de vossa história e do testemunho de fé dos vossos catequistas, transmissores da fé, pois são a garantia de que o Senhor caminha sempre convosco e que podeis repetir, cheios de confiança, com o salmista: “Senhor, tendes sido o nosso refúgio através das gerações”.

Que a proteção maternal da Imaculada Conceição, titular desta Catedral e padroeira desta Nação, Mãe de Jesus e nossa mãe, Mãe do Evangelho vivente e Estrela da nova Evangelização (cf. EG 287-288) vos acompanhe sempre e vos ajude a cumprir a excelsa missão à qual estais chamados!

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22 setembro 2022, 13:08