Krajewski em Kiev: celebrarei a Via-Sacra onde a guerra deixou seus mortos
Alessandro De Carolis ¨C Pope
Subir ao calvário ucraniano, onde as estações são marcadas pelas carcaças de veículos de combate, casas destruídas, corpos sem sepultura. O esmoleiro do Papa, cardeal Konrad Krajewski, constatou pessoalmente a destruição da guerra que muitas imagens de televisão mostraram em sua crueza impiedosa nos arredores de Kiev. Ali, naquele cenário de desolação, ele passará sua Sexta-feira Santa enquanto o Papa a celebrará no Coliseu. O esmoleiro, que voltou pela terceira vez à Ucrânia, realizou nesta quinta-feira (14/04), um dos objetivos da viagem: entregar uma segunda ambulância, símbolo com o qual Francisco "beija os pés do povo ucraniano", disse ele. O outro objetivo é transcorrer e partilhar o Tríduo e a Páscoa com quem vive a paixão há 50 dias, esperando que cada dia seja mais um passo para a ressurreição.
Eminência, esta manhã o senhor levou aos ucranianos um novo presente do Papa. Como foi a entrega da ambulância?
Tudo correu muito bem, porque o diretor do maior Hospital do Coração de Kiev entendeu imediatamente que símbolo fosse, não apenas para a salvação de vidas, mas também o símbolo da possível ressurreição da Ucrânia. Encontramos muitos médicos e outros funcionários e o diretor, agradecendo ao Papa por este presente recebido no dia da celebração da Última Ceia, um sinal do beijo do Papa aos pés do povo ucraniano, de sua proximidade a ele e de seu sofrimento com eles, disse palavras que ficaram no meu coração. "Nós", disse ele, "somos médicos e devemos ser como o Bom Samaritano e operar não apenas os ucranianos feridos, o povo e os militares, mas devemos ajudar a todos, até mesmo os russos". Uma coisa difícil para ele, agir sabendo que tem homens à sua frente que podem ter matado muita gente. Mas ele disse: "Isso significa ser médico, samaritano e homem, apesar da amargura do coração e dos sentimentos que se tem dentro". Estas palavras para mim são puro Evangelho: é difícil, mas quando o seguimos, é lindo como a primavera e tudo floresce. Aprendi muito com esse diretor, valeu a pena viajar milhares de quilômetros de ambulância e ouvir um diretor que falou assim diante de cerca de 150 médicos. A dele foi para mim a verdadeira "homilia" de hoje.
Que atmosfera o senhor encontrou em Kiev, especialmente agora que a Páscoa está próxima?
Parece que a cidade está começando a viver, mas não é verdade. Há grupos de assalto aqui, sirenes tocando e pessoas se escondendo. Basta sair um pouco de Kiev para ver os sinais mais profundos da guerra, até mesmo pessoas sem vida. Na sexta-feira, vou tentar chegar a esses lugares e celebrar a Via-Sacra, enquanto o Papa a fará no Coliseu. Com o núncio, de forma privada, faremos a nossa Via-Sacra onde existe a verdadeira Paixão de Jesus, onde as pessoas sofrem e morrem. Terminaremos a Via-Sacra com a estação da ressurreição.
Será um calvário para subir junto com os ucranianos...
Exatamente, o Papa queria assim: que eu passasse a semana inteira para viver o Tríduo com os ucranianos. A presença é o primeiro nome do amor. O Papa ama dizer que um sacerdote deve ter "o cheiro das ovelhas" e por isso me enviou aqui: para estar entre as pessoas e não para tirar fotos ou viajar, mas para ficar e rezar.
O senhor ficará até a Páscoa, então?
É claro, e espero que seja o Domingo da Ressurreição para este país. Farei as celebrações em várias igrejas. Devemos lembrar que, para a Igreja ortodoxa, a Páscoa cai uma semana depois do nosso domingo. Portanto, aqui o tempo se prolonga e podemos, por assim dizer, celebrar a Ressurreição de Cristo duas vezes, mesmo que possamos celebrá-la em todas as missas.
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