Vaticano: novo processo a quatro r¨¦us
Salvatore Cernuzio ¨C Pope
A sexta audiência do julgamento no Vaticano sobre supostos crimes cometidos com os fundos da Santa Sé, ocorreu na sala multifuncional dos Museus do Vaticano e começou com mais de duas horas de atraso. A audiência, que ocorreu na terça-feira (25/01), foi convocada pelo presidente do Tribunal do Vaticano, Giuseppe Pignatone. O encontro visava estabelecer a acusação ou o arquivamento do processo sobre os quatro suspeitos ¨C que já foram afastados dos cargos ¨C porque não foram interrogados na fase preliminar. Na última sessão, que havia ocorrido em 14 de dezembro, Pignatone definiu o encontro desta terça-feira ¡°mero trânsito¡±.
Assinada nova solicitação
Assim foi. O atraso na sessão ¨C que durou cerca de 40 minutos ¨C foi motivado pelo próprio presidente do Tribunal, com a assinatura de um novo pedido de intimação, apresentado pelo Escritório do Promotor de Justiça, diante das posições pendentes. Portanto: o financista Rafaele Mincione; o ex-funcionário da Secretaria de Estado Fabrizio Tibassi; o advogado Nicola Squillace; e o padre Mauro Carlino, então secretário do cardeal Becciu.
O próprio Becciu está sendo novamente chamado em causa pelos crimes cometidos na primeira fase de suborno (pela a tentativa de fazer que a testemunha mons. Alberto Perlasca retratasse o que declarou aos magistrados) e peculato (pelos pagamentos de valores sacados dos fundos da Secretaria de Estado e destinados à cooperativa Ozieri, na Sardenha, legalmente representada por seu irmão).
Enquanto isso, a acusação de peculato para o ex-presidente da Associazione Imprese Fondazioni (AIF), Tommaso Di Ruzza foi arquivada; os outros crimes que lhe são imputados permanecem sendo investigados.
Nos últimos meses, os suspeitos pediram mais informações e sobretudo a possibilidade de serem interrogados. Segundo a declaração do promotor adjunto Alessando Diddi, até dezembro passado, apenas um deles tinha respondido à intimação. Entretanto, o Escritório do Promotor procedeu à investigação e arquivou ¡°sete pastas¡± com novas investigações no Tribunal.
Adiamento para o próximo dia 18 de fevereiro
Pignatone, por sua vez, explicou que havia ¡°simplesmente¡± assinado o decreto de citação ¨C ao qual foram anexadas cerca de dez páginas de motivações ¨C, porque nesta fase ¡°o Código não deixa discricionariedade¡±. Tudo foi adiado para o próximo dia 18 de fevereiro, dia em que ¡°se espera¡± que seja possível reunir as duas partes do processo: ¡°acho que é uma esperança geral¡±.
Defesa de Becciu: ainda faltam documentos
O advogado de defesa de Becciu, Fabio Viglione, interveio então, renovando o pedido de nulidade ¡°radical e absoluta¡± da acusação, por falta de documentos solicitados pela defesa, já relatados desde o início do julgamento, em 27 de julho do ano passado. ¡°Chegamos a janeiro ¨C disse o advogado ¨C ainda com omissão de deposição de atos e documentos eletrônicos¡±. Seria uma ¡°grande parte que ainda está faltando¡± no ¡°hard disk¡± depositado pela promotoria em 23 de dezembro passado.
Segundo o exame de um consultor técnico de confiança da defesa, Luca Governatori, da totalidade dos 255 meios informáticos apreendidos, 239 não teriam sido emitidos em cópias. Dos 16 dispositivos, nenhum ¡°pode ser qualificado como cópia forense¡±. Além disso, os dados examinados seriam resultado de uma exportação seletiva e parcial com o uso de palavras-chave.
Os interrogatórios a Perlasca
A principal lacuna, no entanto, seria relativa aos interrogatórios a mons. Alberto Perlasca, então chefe do escritório administrativo da primeira seção da Secretaria de Estado. Dos 31 aparelhos informáticos ¨C entre celulares, tablets, PCs, pendrives e endereços de e-mail ¨C a defesa teria obtido acesso ao conteúdo de um e-mail e de um iPhone 7, no qual havia apenas conversas de Whatsapp entre interlocutores selecionados. Viglione falou de ¡°parcelas de depósitos¡± que evidenciam a nulidade.
Violações e lacunas nas atas
A advogada Maria Concetta Marzo, da defesa de Becciu, tomou a palavra na sessão, justificando a ausência de seu cliente (presente em cada sessão) pelo fato de ¡°não querer ouvir aspectos desagradáveis que emergiram da leitura dos diálogos com Perlasca. A referência que advogada faz é a um interrogatório ao qual o monsenhor foi submetido em 23 de novembro de 2020, no qual há fortes alusões à moralidade de Becciu. Um interrogatório ¡°falho¡±, segundo a advogada, porque os promotores fizeram ao monsenhor uma série de perguntas, com insistência e linguagem muito forte, sobre ¡°vozes correntes públicas¡±, como as imitações do cardeal pelo comediante Maurizio Crozza, que minou a reputação de Becciu. Essa ação violaria o artigo 246 do atual Código Penal. Além disso, essas passagens não foram relatadas nas atas, nem as respostas de Perlasca: ¡°há provas não relatadas nem mesmo com uma palavra ou um ¡®omissis¡¯¡±, disse Marzo.
Outra violação seria encontrada em um interrogatório ocorrido em 15 de março de 2021, no qual, falando de resgates pelo sequestro de missionários católicos, foram feitas insinuações sobre a proveniência do cardeal Becciu de Barbagia, uma terra tristemente conhecida por resgates e sequestros. A advogada então pediu a nulidade de ambos os interrogatórios.
Outras exceções
A todas as exceções se associou o advogado do financista Enrico Crasso, Luigi Panella, que reiterou ¡°a nulidade radical do procedimento de citação¡± e lamentou o fato que a Perlasca teria sido solicitado prestar contas, em 29 de abril de 2020, de uma suposta reunião no final de 2018 entre Crasso, Tirabassi e Torzi em Milão. Segundo o advogado, o encontro ¡°nunca aconteceu¡±. Algumas conversas atestariam que Crasso estava a Lugano. ¡°Não sei¡±, respondeu Perlasca e depois se retratou diante da insistência dos promotores, dizendo ¡°duvidar da transparência das relações entre Crasso e Tirabassi¡± ¨C frase colocada em ata.
A resposta da defesa
A resposta de Alessandro Diddi: ¡°Eu me abstenho de responder a julgamentos sobre meu trabalho. Estamos confiantes no trabalho realizado, não vemos a hora de iniciar o processo¡±. Dos perfis técnicos, acrescentou o promotor, ¡°não sei o que não foi entregue¡±, visto que as cópias dos meios eletrônicos foram feitas pela polícia judiciária. A este respeito, a Corte estabeleceu um novo prazo, 31 de janeiro, para permitir verificar quais documentos faltariam e, se necessário, depositá-los na chancelaria. Novamente Diddi, sobre a questão da ata, destacou que nas cerca de 1.200 páginas escritas ¡°tentamos representar tudo o que foi declarado, sem deixar rastro das coisas que poderiam prejudicar a reputação dos suspeitos¡±. ¡°Tentamos proteger sua moral¡±, o que, segundo o advogado, seus defensores deveriam ter feito também ao não relatar certas frases e circunstâncias. Quanto à suposta reunião em Milão, Diddi disse: ¡°acreditamos que a reunião ocorreu e tentaremos comprová-la com base nas circunstâncias de lugar e tempo, reconstruídas pela polícia judiciária. Se não for verdade, tomaremos nota¡±.
Próxima audiência
Pignatore adiou o julgamento para o dia 18 de fevereiro, às 9h30min. Durante este tempo, ¡°serão examinadas as exceções preliminares sobre as quais a Corte deve decidir¡±.
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