Igreja, casa de comunhão
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
“Fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão, eis o grande desafio que nos espera no milênio que começa, se quisermos ser fiéis ao desígnio de Deus e corresponder às expectativas mais profundas do mundo”. Palavras de São João Paulo II na Carta Apostólica recordadas pelo Papa Francisco no discurso aos bispos amigos do Movimento dos Focolares, em 28 de fevereiro de 2014.
“’Fazer da Igreja a casa e a escola da comunhão’ – ressaltou - é realmente fundamental para a eficácia de qualquer empenho na evangelização, enquanto revela o profundo desejo do Pai: que todos os seus filhos vivam como irmãos. Da mesma forma, revela a vontade do coração de Cristo: que todos sejam um, e revela o dinamismo do Espírito Santo, a sua força de atração livre e libertadora.”
De fato, “a sociedade de hoje tem uma grande necessidade do testemunho de um estilo de vida que transpareça a novidade que nos foi dada pelo Senhor Jesus: irmãos que se amam, apesar das diferenças de caráter, de idade. Este testemunho dá origem ao desejo de ser envolvido na grande parábola de comunhão que é a Igreja”.
Em nosso primeiro programa de 2022, padre Gerson Schmidt* dá continuidade a suas reflexões sobre a Igreja - a partir da Constituição Dogmática Lumen Gentium - falando hoje sobre "Igreja, casa de comunhão":
"No início de nossas reflexões sobre a , falamos aqui sobre a Eclesiologia de Comunhão, pensando na profunda comunhão, de onde se origina a vida e a missão da Igreja, a partir do conceito do Concílio Vaticano II sobre a realidade da Igreja – sua genuína identidade. Por isso, é também chamada de Eclesiologia de Comunhão do Vaticano II.
Compreende-se, pela Eclesiologia de Comunhão, uma Igreja que se revela como Comunhão em Cristo e por meio d’Ele com a Trindade, onde todos os seus membros estão intimamente interligados, conectados assim como os membros de um corpo humano, imagem paulina. A vinculação das várias partes desse Corpo Místico se dá, sobretudo, com sua cabeça, que na Igreja é Cristo. Por meio d’Ele e por Ele é que todas as partes recebem vida.
Existir em comunhão e em comunidade é exigência da vida cristã. O essencial do mistério da Igreja é ser ela uma comunhão com o Pai, o Filho, no Espírito Santo, e ela viver em comunhão fraterna. Aqui valem os princípios de corresponsabilidade, colegialidade, subsidiariedade, participação, sinodalidade.
O Papa Francisco quer uma Igreja sinodal, que caminha junto. Por isso essa caminhada sinodal de comunhão, participação e missão, termos próprios na preparação do Sínodo. A pastoral eclesiológica do Vaticano II não é de segregação, mas de comunhão com os outros. Por isso, aponta no número 9 da Lumen Gentium, assim: “Contudo, aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O conhecesse na verdade e O servisse santamente”.
O Papa Francisco, em seu primeiro livro “A Igreja da Misericórdia”, diz que quer uma Igreja pobre para os pobres. Apresenta nesse livro, que não é um documento oficial, um título se referindo a Igreja como “Casa de comunhão”. Nesse livro o Papa diz: “Deus nos concede a unidade, mas nós temos dificuldade em vê-la. É preciso procurar, construir a comunhão, educar para a comunhão, para superar incompreensões e divisões, a começar pela família, pelas realidades eclesiais, inclusive no diálogo ecumênico. O nosso mundo precisa de unidade; vivemos numa época em que todos precisamos de unidade, temos necessidade de reconciliação e de comunhão; e a Igreja é uma casa de comunhão”[1].
O Papa Francisco nesse livro, como um ensaio para seu Pontificado, faz uma bonita pergunta: “Quem é o motor da unidade da Igreja? É o Espírito Santo que todos nós recebemos no batismo e também no sacramento da confirmação. É o Espírito Santo! A nossa unidade não é primariamente fruto do consenso, nem da democracia no seio da Igreja, nem sequer do esforço de estar em sintonia, mas deriva Daquele que faz a unidade na diversidade, porque o Espirito Santo cria a harmonia na Igreja. Trata-se de uma unidade harmoniosa no meio de toda a diversidade de culturas, línguas, pensamentos. O motor é o Espírito Santo. Por isso – continua o Papa Francisco – é importante a oração, que constitui a alma do nosso compromisso de homens e mulheres de comunhão e unidade. A oração ao Espírito Santo, a fim de que venha e construa a unidade na Igreja”[2].
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] PAPA FANCISCO, a Igreja da Misericórdia – Minha visão para a Igreja, Editora Schwacz, SP, p. 29.
[2] Idem, p. 30.
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