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Papa Francisco na Audiência Geral na Sala Paulo VI em 27 de outubro de 2021 Papa Francisco na Audiência Geral na Sala Paulo VI em 27 de outubro de 2021 

Igreja, comunidade de amor

"O amor ao outro por ser quem é, impele-nos a procurar o melhor para a sua vida. Só cultivando esta forma de nos relacionarmos é que tornaremos possível aquela amizade social que não exclui ninguém e a fraternidade aberta a todos”.

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

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“A missão de Cristo e do Espírito Santo completa-se na Igreja, corpo de Cristo e templo do Espírito Santo. Esta missão conjunta associa, doravante, os fiéis de Cristo à sua comunhão com o Pai no Espírito Santo” (CIC 737). A Igreja, instituída por Jesus Cristo, é o redil, cuja única e necessária porta é o próprio Cristo, é o campo, a construção de Deus, a “Jerusalém do Alto”. Ela está na história, mas ao mesmo tempo transcende-a, é visível e espiritual, “sociedade dotada de órgãos hierárquicos e corpo místico de Cristo”, “agrupamento visível e comunidade espiritual”. Na Igreja, a “comunhão dos homens com Deus pela «caridade, que não passa jamais» (1 Cor 13, 8), é o fim que comanda tudo quanto nela é meio sacramental, ligado a este mundo que passa”. Neste sentido, o Papa Francisco reiterou no Angelus do último domingo que “o coração pulsante da Palavra de Deus (...), o que dá solidez à vida e nunca acabará”, é a caridade. E “quem faz o bem, investe para a eternidade (...), porque o bem nunca se perde, o bem permanece para sempre (...). A cena deste mundo passa. E só o amor permanecerá.” "Igreja, comunidade de amor" é o tema da reflexão do padre Gerson Schmidt*:

"A Igreja sempre apareceu na sua caminhada e construção como uma comunidade de amor. O essencial do mistério da Igreja é ser ela uma comunhão com o Pai, o Filho, no Espírito Santo, e ela viver em comunhão fraterna. O amor é o mistério mais profundo da Igreja. Jesus mesmo disse: “Nisso conhecereis que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13,35). Ou seja, pelo amor nós revelamos que somos a Igreja de Cristo. O amor nos torna a verdadeira Igreja de Cristo. "A Igreja é comunidade de amor não apenas como associação de seus membros, mas por uma aliança decretada por Deus pelo amor de Deus que precede toda decisão humana”[1].

 

 

A no número 8, aponta assim: “Cristo, mediador único, estabelece e continuamente sustenta sobre a terra, como um todo visível, a Sua santa Igreja, comunidade de fé, esperança e amor, por meio da qual difunde em todos a verdade e a graça” (LG, 8). Na comunidade, o amor adquire a feição de um mandamento. Não se trata apenas de amar-nos por zelo, por afeição, por companhia e por agrado. Na Igreja não nos amamos por querermos agradar uns aos outros, mas para cumprir uma ordem, um mando, um mandamento de Cristo Jesus, na perfeita liberdade e reciprocidade. Amamo-nos por obediência a uma ordem do Mestre: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.

Em todas as circunstâncias, o direito, as estruturas e as leis devem estar a serviço da caridade e não o contrário. “O direito ordena a execução do amor e da caridade em situações importantes da comunidade. Quanto mais complicadas se tornarem as estruturas sociais, quanto mais o amor esfriar, quanto mais impessoal se tornar a prática da existência cristã, quanto mais se perder o caráter pessoal e descambar para a ação objetiva, tanto mais serão necessárias as diretivas jurídico-eclesiásticas”[2].

O Papa Francisco, na Carta Encíclica aponta, no número 92, assim: “ A estatura espiritual duma vida humana é medida pelo amor, que constitui «o critério para a decisão definitiva sobre o valor ou a inutilidade duma vida humana». Todavia há crentes que pensam que a sua grandeza está na imposição das suas ideologias aos outros, ou na defesa violenta da verdade, ou em grandes demonstrações de força.

Todos nós, crentes, devemos reconhecer isto: em primeiro lugar está o amor, o amor nunca deve ser colocado em risco, o maior perigo é não amar (cf. 1 Cor 13, 1-13).”  O Papa comenta o valor único de amor, expressando ainda assim no número 93: “Procurando especificar em que consiste a experiência de amar, que Deus torna possível com a sua graça, São Tomás de Aquino explicava-a como um movimento que centra a atenção no outro «considerando-o como um só comigo mesmo». A atenção afetiva prestada ao outro provoca uma orientação que leva a procurar o seu bem gratuitamente. Tudo isto parte duma estima, duma apreciação que, em última análise, é o que está por detrás da palavra «caridade»: o ser amado é «caro» para mim, ou seja, é estimado como de grande valor. E «do amor, pelo qual uma pessoa me agrada, depende que lhe dê algo grátis».

O amor não é apenas um solidarismo ou assistencialismo, mas “o amor implica algo mais do que uma série de ações benéficas. As ações derivam duma união que propende cada vez mais para o outro, considerando-o precioso, digno, aprazível e bom, independentemente das aparências físicas ou morais. O amor ao outro por ser quem é, impele-nos a procurar o melhor para a sua vida. Só cultivando esta forma de nos relacionarmos é que tornaremos possível aquela amizade social que não exclui ninguém e a fraternidade aberta a todos” (FT, 94)."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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[1] SCHMAUS, Michael. A fé da Igreja, Volume IV, 2ª Edição, Vozes, Petrópolis, 1983, p.68. 

[2] Idem, 69.  

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17 novembro 2021, 08:03