Confer¨ºncia de Vars¨®via: convers?o pastoral essencial para um sincero pedido de perd?o por abusos
Amedeo Lomonaco - Cidade do Vaticano
A conferência que tem como tema "Nossa missão comum de proteger os filhos de Deus", foi aberta em Varsóvia na tarde deste domingo, 19, com a saudação do presidente da Conferência Episcopal da Polônia, de Dom Stanis?aw G?decki, que recordou as palavras de Jesus citadas no Evangelho: "E quem acolher em meu nome uma criança como esta, estará acolhendo a mim mesmo. Quem provocar a queda de um só destes pequenos que creem em mim, melhor seria que lhe amarrassem ao pescoço uma pedra de moinho e o lançassem no fundo do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos. É inevitável, sem dúvida, que eles ocorram, mas ai daquele que os provoca.¡± (Mt 18,5-7).
Curar da indiferença
Jesus ¨C disse Dom G?decki - ¡°usa palavras muito duras contra quem faz mal às crianças, mas também contra aqueles que poderiam ignorar este mal¡±: ¡°Cuidado! Não desprezeis um só destes pequenos! Eu vos digo que os seus anjos, no céu, contemplam sem cessar a face do meu Pai que está nos céus. Porque o Filho do homem veio salvar o que se havia perdido¡± (Mt 18: 10-11).
¡°Estamos aqui reunidos - disse ele - para sermos curados da indiferença e mais ainda do desinteresse pela injustiça¡±. ¡°O Santo Padre também nos lembra que não se trata somente de abusos sexuais, mas também de abusos de poder e de consciência. Quando encontrei as vítimas, muitas vezes ouvi histórias em que o abuso sexual foi precedido por uma manipulação voltada a obter uma confiança ilimitada e, portanto, um poder sobre a vida da pessoa, que se encontra indefesa contra tal manipulação¡±.
Abusos sexuais e abuso de poder
Aquele que abusa, acrescentou o presidente da Conferência Episcopal polonesa, ¡°não raramente convence a vítima de que aquilo que a exorta e a força a fazer não é errado, na verdade é certo. Desta forma, o abuso sexual muitas vezes está vinculado a um abuso de poder e de consciência, aprofundando a devastação que esse crime causa não só no psiquismo, mas também na alma da pessoa lesada¡±.
Em seguida, o arcebispo G?decki descreve o compromisso da Igreja na Polônia no campo da proteção das crianças, na prevenção dos abusos e na escuta e acolhida das vítimas. Cada diocese e congregação religiosa masculina tem um delegado com a tarefa de receber e relatar casos de abuso. Após a publicação do Motu Proprio do Papa Francisco Vos estis lux mundi, seu papel aumentou ainda mais.
Reconhecer erros
¡°Ao mesmo tempo, devemos reconhecer que este processo de mudança se deve não somente ao trabalho persistente de muitas pessoas e instituições da Igreja, mas também à pressão da opinião pública, que justamente exige de nós atitudes e ações claras em este assunto".
O prelado disse que existe o perigo de pensar "que já estamos fazendo muito", enquanto a realidade é que "diante da enormidade da dor e dos grandes prejuízos, muitos esforços heroicos permanecem insuficientes" e "novas tragédias são descobertas".
¡°Também temos necessidade de reconhecer honestamente que cometemos muitos erros e também negligenciamos aqueles que foram feridos na Igreja. Este enfrentar a verdade, entretanto, não deve nos levar ao derrotismo ou ao desespero. É necessária a conversão pastoral de que fala o Papa Francisco, uma mudança de pensamento e de ação em que acolher e proteger a criança e ajudar as vítimas setorne uma prioridade¡±.
Um compromisso comum
Por fim, Dom G?decki convidou à esperança na consciência do compromisso comum de toda a Igreja: ¡°Estamos aqui como leigos, consagrados, sacerdotes e bispos. Somente assim poderemos assumir de forma frutífera e eficaz esta importante e exigente tarefa. Antes que possamos dar àqueles que foram injustiçados a sensação de não estarem sendo abandonados, devemos experimentar isso também nós. O Senhor ressuscitado e a comunidade do seu povo estão conosco. Nós não estamos sozinhos".
Cardeal O'Malley: é preciso corações que escutem
Depois da saudação de Dom Stanis?aw G?decki e da projeção da mensagem em vídeo do Papa Francisco por ocasião do encontro organizado pela Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores e pelas Conferências dos Bispos da Europa Central e Oriental, tomou a palavra o cardeal Seán Patrick O 'Malley, presidente da Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores.
O purpurado, aprofundando o tema da necessária conversão pastoral, disse que se trata de um ¡°caminho essencial para o que o Papa Francisco chama de transformação missionária da Igreja¡±. Este caminho de ¡°conversão reconhecendo a verdade do ocorrido¡± não pode prescindir da abordagem ¡°de um coração que escuta¡±.
¡°As pessoas que ouviram os testemunhos dos sobreviventes - disse o cardeal - sabem como são difíceis essas experiências e como representam um desafio¡±. ¡°Pessoalmente - acrescentou - conheci centenas de sobreviventes: seus testemunhos são de partir o coração, especialmente quando dizem que ninguém queria acreditar neles quando relataram o abuso pela primeira vez¡±.
Reconhecer os sobreviventes e pedir seu perdão
O presidente da Pontifícia Comissão para a Proteção dos Menores sublinhou que quando as pessoas vítimas de abusos por parte de um sacerdote, religioso ou outra pessoa da Igreja contam a sua história, devem receber "eles e o seu testemunho com o mais profundo respeito". É preciso também ter consciência do fato de que há muitas pessoas, "que sofreram a tragédia dos abusos sexuais na Igreja", que "nunca falaram com ninguém sobre sua experiência".
Para alcançar a conversão pastoral, é preciso ¡°reconhecer de maneira honesta e transparente as pessoas foram abusados??". ¡°Ouvir a dor dos outros, os sofrimentos do povo de Deus leva a admitir o mal cometido e o sofrimento infligido¡±. E é importante "pedir desculpas sinceras aos sobreviventes". Mas 'pedir perdão', sublinhou o Cardeal O'Malley, "requer mais do que fazer uma declaração ou realizar um encontro". Trata-se de um processo ¡°que raramente acontece em um momento e que às vezes nunca será concluído¡±. ¡°Ouvir os sobreviventes, reconhecê-los e pedir-lhes com sinceridade o seu perdão - concluiu o purpurado - são passos indispensáveis ??neste caminho de renovação¡±.
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