Pe Zollner: boas notícias de Varsóvia, mas ainda há muito a ser feito
Fabio Colagrande - Cidade do Vaticano
“Penso que estamos fazendo bons progressos, quer do ponto de vista dos conteúdos que pretendíamos transmitir, como do clima de partilha e de compromisso comum que pretendíamos criar. Sinto uma grande vontade de cooperar com as pessoas que estão aqui presentes e acho que há uma vontade de continuar e intensificar o trabalho de prevenção”.
Essas são as considerações ao Pope desde Varsóvia do padre Hans Zollner, jesuíta, psicólogo, diretor do Instituto de Antropologia da Pontifícia Universidade Gregoriana, dedicado aos estudos interdisciplinares sobre a dignidade humana e o cuidado das pessoas. Zollner faz parte da Pontifícia Comissão para a Proteção de Menores que, junto com a Conferência Episcopal da Polônia, organizou a Conferência Internacional sobre a Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis para as Igrejas da Europa Central e Oriental, que será concluído nesta quarta-feira, 22, na capital polonesa.
A conscientização cresceu também na Polônia
“Até poucos anos atrás - explica ele - nas Igrejas da Europa Central e Oriental, era difundida a opinião de que os abusos sexuais cometidos por clérigos era um fenômeno ocidental, típico das sociedades secularizadas, enquanto na Europa Central não havia casos por causa dos regimes comunistas não os teriam tolerado”.
Em vez disso, nos últimos anos, o vento mudou também nas Igrejas desta área do velho continente e agora há muito mais sensibilidade sobre essas questões. “Na Polônia, graças ao cinema e outros meios de comunicação, cresceu a consciência de que ocorreram casos de abusos também durante o comunismo e o mesmo aconteceu noutros países da região. E agora existem movimentos criados por vítimas de abusos que ajudam a trazer à tona esses horrores e crimes do passado”.
Há quem acredite que a crise já foi superada
Porém, segundo Zollner, o conhecimento do que a Santa Sé fez nos últimos anos no setor da luta contra os abusos ainda precisa ser aprimorado. “Como em toda parte, a recepção das novas normas que a Igreja lançou nos últimos anos é muito variada e nem todas as Igrejas locais alcançaram o mesmo grau de implementação. Este foi um dos propósitos que tínhamos em mente quando trouxemos esta conferência para a Europa Central, onde - como acontece em outras regiões - existem Conferências Episcopais, Bispos e Congregações religiosas que realizam progressos, percebem a gravidade da situação e se esforçam consideravelmente em mudá-la e outros que estão à espera que esta crise passe ou acreditam que já foi superada”. Para o jesuíta, “precisamente nesta região ainda existem Igrejas locais que deverão enfrentar esses, porque não o fizeram antes”.
Os frutos do trabalho do Centro para a Proteção de Menores da Gregoriana
Padre Zollner recorda que na Europa Centro-Oriental, porém, já existem boas práticas em relação à prevenção de abusos. "Aqui em Varsóvia - explica ele - reunimos algumas pessoas que na Polônia, Ucrânia, Croácia, Eslováquia, República Tcheca e Hungria vêm trabalhando há anos para melhorar a situação na luta contra os abusos, especialmente pela formação acadêmica e a formação contínua para sacerdotes, professores de escolas católicas e outras profissões”.
Esta, recorda ainda, foi também a contribuição específica que o Centro Gregoriano para a Proteção de Menores da Gregoriana, hoje Instituto de Antropologia, quis implementar nos últimos anos. “Estamos satisfeitos - comenta ele - que alguns ex-alunos de nossos programas tenham podido apresentar seu trabalho aqui a todos os participantes”.
Não deixamos sozinhos aqueles que lutam para prevenir o abuso
Outro dos objetivos do encontro de Varsóvia era criar plataformas de colaboração e intercâmbio. “Em muitos países, de fato - explica Zollner - o trabalho de prevenção e de escuta das vítimas é delegado somente a especialistas que muitas vezes se sentem sozinhos, isolados, quer pelas dioceses como pelas congregações religiosas”. É necessário, portanto, ajudá-los a se relacionarem em rede entre si, para que se encorajem e possam trocar boas práticas para melhorar o serviço e encontrar novas forças, para que não se sintam abandonados. “A esperança é que a situação possa melhorar também nesta região”.
Ainda há muito a ser feito
“Nos últimos dez, doze anos, os dirigentes da Santa Sé compreenderam que era necessário avançar com mais determinação para que a Igreja prestasse contas dos abusos contra menores cometidos por clérigos, perante os fiéis, o Estado e o meios de comunicação", observa o sacerdote jesuíta.
“A Igreja comprometeu-se em denunciar os responsáveis e os bispos que não colaboraram, violando as leis canônicas e civis. Também na Polônia, nos últimos anos, alguns bispos que renunciaram, mesmo que a razão não tenha sido tornada pública, foram negligentes em relação às vítimas de abusos e aos processos que deveriam ter aberto”. “Claro - conclui o diretor do Instituto Gregoriano de Antropologia - desde 2019 o Motu proprio Vos Estis lux mundi ajudou a mudar a mentalidade e a criar maior corresponsabilidade, mas ainda há muito por fazer”.
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