Vaticano, vacinas: dispon¨ªveis para todos e com informa??es corretas
Debora Donnini/Mariangela Jaguraba ¨C Pope
Garantir o acesso global justo às vacinas e enfrentar a hesitação de vacinas, enviando uma mensagem clara sobre a segurança. Estes são os pedidos que emergem do esforço comum da Associação Médica Mundial, da Pontifícia Academia para a Vida e da Associação Médica Alemã, que se reuniram on-line, nesta quinta-feira (1°/07), numa Mesa Redonda Internacional sobre Vacinação. A colaboração internacional é central, foi dito na coletiva de imprensa de apresentação do comunicado final, realizada na manhã desta sexta-feira (02/07), na Sala de Imprensa da Santa Sé.
Enquanto a pandemia da Covid-19 continua causando vítimas, o foco está nas desigualdades no acesso às vacinas entre países ricos e países em desenvolvimento, mas também no que é definido como "hesitação vacinal" que diz respeito a ambos. Na verdade, são evidenciados "mitos infundados e enganosos", desinformação ampliada pelas redes sociais sobre os efeitos colaterais e, nos países desfavorecidos, uma certa relutância "enraizada nas desigualdades históricas, violações da confiança na pesquisa médica, experiências negativas com a assistência à saúde e suspeitas sobre o comportamento das empresas farmacêuticas". A urgência de superar esses obstáculos é a grande mensagem que saiu da Mesa Redonda, pois as vacinas desempenham um papel fundamental na prevenção de doenças infecciosas, evitando milhões de mortos e protegendo milhões de pessoas contra doenças, todos os anos.
Encontrar o equilíbrio num sistema complexo
"As vacinas devem estar disponíveis para todos e em todos os lugares, sem restrições devido a aspectos econômicos, mesmo em países de 'baixa renda'". Foi o que disse o presidente da Pontifícia Academia para a Vida, dom Vincenzo Paglia, durante a coletiva de imprensa. Muitas vezes o Papa exortou a tornar concreto o direito à saúde para todos, caso contrário, esvazia-se o seu real valor. Para que a vacina esteja disponível para todos, deve haver uma sinergia entre os sujeitos envolvidos. Isso significa entrar num conjunto complexo de problemas envolvendo aspectos científico-tecnológicos, econômico-comerciais e geopolíticos ("nacionalismo vacinal"). "Algumas destas vacinas contra a Covid19", explicou ele, "são produtos muito sofisticados, em que na preparação foram empregados conhecimentos avançados, provenientes de diferentes campos de pesquisa farmacológica". "Isto torna mais difícil superar os problemas de transferência de competências tecnológicas e a gestão de patentes. Portanto, é necessário reconhecer o significado dessas patentes, mas não absolutizá-las", disse dom Paglia, lembrando as palavras de dom Ivan Jurkovic quando falou sobre a necessidade de "encontrar um equilíbrio entre os direitos privados dos inventores (e dos investidores)" e as necessidades públicas da sociedade.
Não transcurar outras doenças
A hesitação vacinal é um fenômeno variegado. ¡°É um gesto delicado pedir a confiança de quem hesita, especialmente nos países que sofreram abusos por parte de outros em posição de força, de onde vêm as vacinas¡±, observou dom Paglia, destacando também a questão das prioridades. Deve-se levar em consideração, por exemplo, que a malária e a tuberculose que causam muito mais vítimas na África do que a Covid-19. Mas, mesmo antes disso, a falta de saneamento básico e água potável são uma séria ameaça à saúde e sobrevivência. Portanto, é importante que as intervenções agora empreendidas para responder à emergência da Covid-19 levem em conta as necessidades futuras, reforçando, por exemplo, as campanhas de vacinação para outras doenças muito difundidas, que a atual pandemia leva a transcurar.
Dom Paglia contou que a intenção inicial, antes da pandemia explodir, era fazer uma conferência sobre vacinas em geral, mas as dificuldades que surgiram obrigaram a restringir o tema e a realizar o webinar on-line de quinta-feira. "Em todo caso, o projeto inicial foi apenas adiado, não cancelado", disse ele.
Isto também foi apontado pelo dr. Ramin Parsa-Parsi, que participou remotamente da coletiva de imprensa. Médico e membro do Conselho da Associação Médica Mundial, o dr. Parsa-Parsi chefia o departamento internacional da Associação Médica Alemã, uma organização central no sistema de autoministração médica da Alemanha que regula a formação médica especializada e a formação médica contínua e defende a prestação de cuidados equitativos e sistemas de saúde resilientes.
Explicando a importância das colaborações internacionais e intersetoriais, o médico contou que há mais de dois anos, a Associação Médica Mundial, a Pontifícia Academia para a Vida e a Associação Médica Alemã decidiram unir forças para enfrentar os desafios da equidade e da hesitação vacinal.
Superar as barreiras da produção local de vacinas
A atual pandemia ilustrou a importância da vacinação, mas também expôs a grande desigualdade no acesso às vacinas e os perigos evidenciados pelo nacionalismo das vacinas. Ainda não há um fornecimento adequado de vacinas disponíveis, e mesmo que a produção fosse aumentada, "não seria suficiente para atender às demandas de todas as regiões do mundo de forma racional e tempestiva". Segundo o dr. Parsa-Parsi, "as vacinas devem ser produzidas localmente, mas para que isso aconteça, várias barreiras devem ser superadas". Uma questão importante é a das patentes e por isso, vários pontos precisam ser abordados: a transferência de conhecimentos e competências, a formação de funcionários, investimentos internacionais em locais de produção de vacinas em ambientes com poucos recursos e a garantia de um controle de qualidade adequado. Portanto, precisamos construir confiança, aumentar a transparência e enfrentar os problemas de comunicação.
Esses temas também foram retomados em suas observações à distância pelo professor e doutor Frank Ulrich Montgomery, presidente do Conselho da Associação Médica Mundial, que destacou a importância da equidade no acesso às vacinas, concentrando-se na solidariedade.
Responsabilidade
"Para favorecer a confiança, um gesto pontual não é suficiente, mas é necessária uma política sistêmica, que inclua uma visão integral do desenvolvimento e relações internacionais mais justas", disse ainda dom Paglia que, respondendo a perguntas de jornalistas, enfatizou que a questão das vacinas não é apenas uma questão técnico-científica, mas um tema ético, político e social. "Continuaremos a debater sobre o tema das vacinas e, em particular, a questão da liberdade individual e da responsabilidade para com a sociedade". A pandemia trouxe à tona esta perspectiva que coloca em crise o individualismo exasperado, baseado na liberdade absoluta, ou seja, livre de vínculos", disse ele, afirmando que o próximo congresso também levará em conta aqueles que são críticos em relação às vacinas, procurando uma possível solução. Sobre o tema das vacinas, esclareceu dom Paglia, na Pontifícia Academia para a Vida nunca se falou de obrigação, mas de responsabilidade, que é muito séria, "porque não é apenas a minha saúde que está em jogo, mas também a dos outros".
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