A esponsalidade de Cristo nos sinóticos - II parte
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
A Constituição Dogmática tem oferecido ao padre Gerson Schmidt* a oportunidade para nos falar sobre as diferentes imagens da Igreja presentes nos textos sagrados. Em particular, o sacerdote gaúcho tem aprofundado a imagem da "Igreja como esposa de Cristo”. E visto a importância deste tema, na edição de hoje deste nosso espaço padre Gerson nos propõe uma segunda reflexão sobre a esponsalidade de Cristo nos Sinóticos, dando continuidade ao programa precedente:
"Estamos aprofundando o tema da esponsalidade de Cristo com a Igreja, tendo como base a imagem da Lumen Gentium da Igreja como “esposa de Cristo”, que mais do que simbólica, é teológica. Acreditamos não ser apenas um símbolo, uma imagem ou uma analogia qualquer. Cremos que, de um rico simbolismo bíblico, passa-se a compreensão da essência e identidade de Cristo e da Igreja. No Novo Testamento, distintos testemunhos nos dão a compreensão da Nova Aliança com característica nupcial, na qual Cristo é o Esposo e, aos poucos, aparecendo a Igreja como a Esposa. Jesus, usando parábolas, compara o Reino dos céus a um banquete organizado por um rei para o casamento do filho (cf. Mt 22, 2), ou então das virgens saindo ao encontro do noivo que chega (cf. Mt 25, 1-13), ou a servos que esperam seu senhor voltar das núpcias (cf. Lc 12, 36).
Nas parábolas dos evangelhos há um rico simbolismo nupcial. Já refletimos a parábola do banquete nupcial. Na parábola das dez virgens, descrita em Mt 25, 1-13, encontra-se a analogia esponsal usada por Jesus para fazer compreender o seu pensamento acerca do Reino de Deus e da Igreja, ou seja, naquilo em que ele se concretiza. Chama-se à prontidão, à vigilância, ao empenho fervoroso na expectativa do Esposo. Só cinco das dez virgens preocuparam-se para que suas lâmpadas se acendessem à chegada do esposo para a realização do cortejo nupcial. As outras são insensatas, improvidentes, não levando azeite consigo para manter a tocha acesa. O relato não se detém em descrever o cerimonial das núpcias. Nem menciona a noiva. A atenção centraliza-se no comportamento das dez virgens que esperam pelo noivo. Do início ao fim do escrito, conta-nos o comportamento e as atitudes das dez virgens. É em função do noivo que se define toda a dinâmica da parábola.
Jesus utilizou a descrição de um típico casamento judaico da época nessa parábola. Era costume que o noivo fosse acompanhado de seus amigos, tarde da noite, à casa da noiva. Lá, a noiva o esperava com suas damas de honra (as virgens), que, ao serem avisadas da aproximação do esposo, deviam sair com suas lâmpadas para iluminar o caminho do noivo até a casa, onde haveria a celebração das núpcias. Ao longo dos anos, grandes teólogos aplicaram interpretações diferentes sobre essa Parábola das Dez Virgens. Todos concordam que o Noivo é Cristo. A Igreja é a noiva e não as madrinhas. O fato de todas cochilarem, seria a nossa morte. Também os exegetas defendem que a voz que anuncia o Noivo é a voz dos profetas que proclamaram que o Messias viria. Sob este aspecto as virgens insensatas são os judeus que acreditavam que sua religiosidade seria suficiente e não se prepararam para a chegado do Messias(noivo), enquanto as prudentes seriam os judeus que reconheceram que Jesus é o Cristo e, estes, pertencem então aos remanescentes que serão salvos e entrarão na festa nupcial.
“O ensinamento principal da parábola é a exortação à vigilância: na prática é ter a luz da fé, que se mantém viva com o azeite da caridade. Entre os Hebreus as bodas celebravam-se em casa do pai da desposada. As virgens são as jovens não-casadas, damas de honra da noiva, que esperam em casa desta a vinda do esposo. A atenção da parábola centra-se na atitude que se deve adotar até à chegada do esposo. Com efeito, não é suficiente saber-se dentro do Reino, a Igreja, mas é preciso estar vigilante e prevenir com boas obras a vinda de Cristo”.
Comentando essa Parábola das Virgens que esperam o noivo, o Papa Francisco dizia: “Ao contrário, se formos vigilantes e procurarmos praticar o bem com gestos de amor, partilha e serviço ao próximo em dificuldade, poderemos permanecer tranquilos enquanto esperamos a vinda do esposo: o Senhor poderá chegar a qualquer momento, e nem sequer o sono da morte nos apavora, porque dispomos de uma reserva de óleo, acumulada com as boas obras de todos os dias. A fé inspira a caridade, e a caridade preserva a f锹. O óleo é para Hilário de Poitiers as boas obras, para São João Crisóstomo o amor ao próximo, esmolas e ajuda aos pobres e necessitados, e para Orígenes, a Palavra e o ensinamento de Deus, com quem a alma é enchida como um vaso".
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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¹Papa Francisco, , Praça São Pedro, Domingo, 12 de novembro de 2017.
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