A imagem da Igreja como lavoura ou campo de Deus
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
“Assim como, no Antigo Testamento, a revelação do Reino é muitas vezes apresentada em imagens, também agora a natureza íntima da Igreja nos é dada a conhecer por diversas imagens tiradas quer da vida pastoril ou agrícola, quer da construção ou também da família e matrimônio, imagens que já se esboçam nos livros dos Profetas”. Assim reza o n. 6 da Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja do Concílio Vaticano II, ao apresentar as diversas “figuras da Igreja”, como por exemplo, Igreja Esposa de Cristo, Igreja rebanho de Cristo, Igreja-Povo de Deus. Padre Gerson Schmidt*, na sua sequência de reflexões sobre este tema, nos propõe hoje a imagem da “Igreja como lavoura ou campo de Deus”:
"Nós seguimos comentando e atualizando a , tentando aprofundar nessa etapa as diversas figuras comparativas da Igreja, utilizadas pelo documento conciliar. Já acentuamos a Igreja como Povo de Deus, Corpo de Cristo, como verdadeira Esposa de Cristo e, na ultima oportunidade, como rebanho de Cristo. O acento demasiadamente da imagem da Igreja como Povo de Deus – a mais forte na Lumen Gentium, pode, nesses mais de 50 anos de Concílio, ter reduzido a Igreja simplesmente a uma organização puramente humana.
Hoje queremos aprofundar uma nova imagem utilizada pela Lumen Gentium: a Igreja como lavoura ou campo de Deus. A Igreja é a lavoura ou o campo de Deus, imagem essa fundamentada na primeira Carta de São Paulo aos Corintios (1 Cor 3,9), que diz: “Pois que é Apolo? E que é Paulo? Simples servos, por cujo intermédio abraçastes a fé, e isto conforme a medida que o Senhor repartiu a cada um deles: eu plantei, Apolo regou, mas Deus é quem fez crescer. Assim, nem o que planta é alguma coisa nem o que rega, mas só Deus, que faz crescer. O que planta ou o que rega são iguais; cada um receberá a sua recompensa, segundo o seu trabalho. Nós somos operários com Deus. Vós, o campo de Deus, o edifício de Deus” (1 Cor 3,5-9).
Diz a Lumen Gentium: “Nesse campo, que é a Igreja, cresce a oliveira antiga de que os patriarcas foram a raiz santa e na qual se realizou e realizará a reconciliação de judeus e gentios (Rom 11, 13-26). Ela foi plantada pelo celeste agricultor como uma vinha eleita (Mt 21, 33-43; Is. 5,1 ss.). A verdadeira videira é Cristo que dá vida e fecundidade aos sarmentos, aos ramos, isto é, a nós que pela Igreja permanecemos n'Ele, sem o qual nada podemos fazer (Jo 15, 1-5)” (LG, 6).
A comparação do povo do Senhor como uma vinha plantada por Deus é também descrita amplamente na Sagrada Escritura. Na verdade, todas essas imagens comparativas da Igreja são tiradas pelos padres conciliares da Sagrada Escritura. Na parábola do semeador, de Mateus 13, Jesus nos ensina que a Igreja tem o dever de semear a Palavra em todos os corações, sem nenhuma preocupação com escolha de lugar, hora e público-alvo. Nem todos aceitarão e receberão a mensagem – o próprio Cristo reconheceu que existem corações duros, solos pedregosos e muitos obstáculos espinhosos para que a semente germine, se desenvolva e produza frutos. E há também o Maligno que vem e rouba a semente solta ao chão como um pássaro que come a semente jogada ao leu.
O dono da vinha, da lavoura, da plantação é Deus. É Deus quem faz crescer a semente do Reino. Não é fruto do esforço humano. Cabe aos operários da vinha semear, cuidar da lavoura, do campo do Senhor. Em diversas parábolas, Cristo aponta que Deus, o dono da plantação, retornará para colher os frutos. A palavra de Deus contém força vivificante. O que é necessário é homens e mulheres que permitam que a palavra cresça e produza frutos em suas vidas. Deus um dia virá para a ceifa, para colher o que de bom nasceu e frutificou."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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