Igreja-Corpo de Cristo nas Cartas Paulinas
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
Também no intuito de melhor conhecer a fé que professamos e a Igreja que amamos, padre Gerson Schmidt* tem nos proposto uma série de reflexões sobre a Constituição Dogmática Lumen Gentium. Esse importante documento do Concílio Vaticano II traz, entre outros, diversas imagens da Igreja. Uma delas, tratada em nossos programas anteriores, é a Igreja como Povo de Deus. No programa de hoje, o sacerdote gaúcho aprofunda o documento, falando sobre Igreja como Corpo Místico de Cristo, que é apresentada no Capítulo I da Constituição Dogmática. E para tal, nos remete às Cartas de São Paulo onde este conceito vem apresentado de forma eloquente:
"O Concílio Vaticano II dedicou a imagem da Igreja como corpo de Cristo no número 07 do capítulo I da constituição dogmática , que trata sobre o mistério da Igreja e sua missão. Uma apresentação mais minuciosa da Igreja como Corpo de Cristo é oferecida pelo Papa Pio XII na , de 1950, que fala da Igreja como Corpo Místico de Cristo.
O conceito figurado da Igreja como Corpo Místico de Cristo encontra-se tão somente nas epístolas de São Paulo, na 1ª Epístola aos Coríntios e na Epístola aos Romanos. Bem como nas Cartas aos Efésios e na Carta aos Colossenses. Nem no Antigo Testamento, nem no âmbito da tradição apostólica o apóstolo Paulo encontrou a imagem da Igreja como um organismo. É uma criação dele mesmo. Talvez a imagem da vinha como o Povo de Israel pudesse sugerir uma ligação entre os membros do povo de Deus. Mas foi o próprio Cristo que utilizou essa imagem bíblica da videira como um corpo orgânico, do qual nós somos os ramos, ele a videira; tal qual o corpo, onde somos os membros e ele a cabeça.
Foi depois do século XII que o termo “místico” foi acrescentado e unido ao termo “corpo”, ganhando cada vez mais influência e aceitação. Devido a uma falsa compreensão da liberdade cristã, Paulo utiliza essa imagem da Igreja como um corpo no capítulo sexto da primeira Carta aos Coríntios. Os cristãos não poderiam dispor a si próprios a bel-prazer. Devido ao batismo, o homem todo, de corpo e alma, é propriedade do Senhor. Portanto, não pode fazer simplesmente o que lhe apraz[1].
No capítulo 10 da mesma epístola desenvolve essa imagem do corpo de Cristo com mais clareza e de modo mais completo (1Cor 10,14-17). No corpo de Cristo, formamos uma unidade indissolúvel. “Não é verdade que o cálice da bênção que abençoamos é a participação no sangue de Cristo e que o pão que partimos é a participação no corpo de Cristo? Como há somente um pão, nós, que somos muitos, somos um só corpo, pois todos participamos de um único pão”. Visto ser o pão um só, nós somos um único corpo, em que pesem todas as multiplicidades.
Por fim, também no capítulo 12 da Epístola aos Coríntios: “Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também. Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito. Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; não será por isso do corpo? E se a orelha disser: Porque não sou olho não sou do corpo; não será por isso do corpo? Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis” (1 Cor 12,12-18).
É o único e mesmo Espírito que suscita os diversos dons da comunidade. Os muitos dons por ele doados formam uma unidade. Paulo ilustra essa tese da unidade dos dons e dotes espirituais. Pois, assim como o corpo humano é um, embora possua muitos membros, todos os membros, porém, embora sejam muitos, forma um só corpo, assim também Cristo. Paulo quer representar a união dos fiéis em Cristo."
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] SCHMAUS, Michael. A Fé da Igreja, Volume IV – A Igreja, Vozes, Petrópolis, 1983, p. 59.
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