Parolin: nenhum pedido para retirada do projeto de lei Zan, a liberdade de opini?o diz respeito a todos
ANDREA TORNIELLI
Nenhum pedido para retirar o projeto de lei contra a homotransfobia, nem pressão indevida sobre o trabalho do Parlamento italiano, mas a assinalação de algumas preocupações quanto à interpretação de algumas passagens do Projeto de Lei Zan e a decisão de expressá-las aos canais diplomáticos habituais. Em síntese é o que explica o cardeal secretário de Estado Pietro Parolin ao retornar do México, a respeito da publicação de alguns trechos da Nota Verbal, que compreensivelmente atraiu a atenção da opinião pública.
Eminência, era de se esperar essa reação?
¡°Eu tinha aprovado a Nota Verbal enviada ao embaixador italiano e certamente havia pensado que poderia haver reações. Tratava-se, porém, de um documento interno, trocado entre administrações governamentais por via diplomática. Um texto escrito e pensado para comunicar algumas preocupações e certamente não para ser publicado¡±.
Quais são, em essência, as preocupações da Santa Sé em relação ao Projeto de Lei Zan?
¡°Em primeiro lugar, gostaria de salientar que de forma alguma foi solicitada a suspensão do projeto de lei. Somos contra qualquer atitude ou gesto de intolerância ou de ódio contra as pessoas devido à sua orientação sexual, bem como à sua etnia ou credo. Nossa preocupação diz respeito aos problemas interpretativos que poderiam surgir caso fosse adotado um texto com conteúdo vago e incerto, o que acabaria deslocando para a esfera judicial a definição do que é crime do que não é sem, no entanto, dar ao juiz os parâmetros necessários para fazer a distinção. O conceito de discriminação permanece muito vago no conteúdo. Na ausência de uma especificação adequada, corre o risco de conjugar os mais diversos comportamentos e, portanto, punir qualquer distinção possível entre homem e mulher, com consequências que podem revelar-se paradoxais e que, a nosso ver, devem ser evitadas, enquanto ainda há tempo. A exigência de definição é particularmente importante porque a legislação se move em um âmbito de relevância penal onde, como se sabe, deve ser bem definido o que é permitido e o que é probido fazer¡±.
A intervenção "preventiva" sobre uma lei ainda em discussão recebeu comentários negativos. Como responder a isso?
¡°A intervenção foi sim 'preventiva', mas precisamente para fazer presente os problemas, antes que seja tarde. O esboço de lei já foi aprovado, no entanto, por uma parte do Parlamento. Uma intervenção posterior, ou seja, uma vez aprovada a lei, teria sido tardia. A Santa Sé poderia ter sido acusada de silêncio culposo, especialmente quando o assunto diz respeito a aspectos que são objeto de um acordo.
A iniciativa do Vaticano é considerada por alguns comentaristas como uma interferência indevida ...
¡°Não foi uma interferência. O Estado italiano é laico, não é um Estado confessional, como reiterou o primeiro-ministro. Concordo plenamente com o presidente Draghi sobre a laicidade do Estado e sobre a soberania do Parlamento italiano. Por essa razão, optou-se pelo instrumento da Nota Verbal, que é o meio próprio de diálogo nas relações internacionais. Ao mesmo tempo, apreciei o apelo feito pelo primeiro-ministro no sentido de respeitar os princípios constitucionais e os compromissos internacionais. Nesse contexto, vigora um princípio fundamental, o da pacta sunt servanda. É neste contexto que, com a Nota Verbal, nos limitamos a recordar o texto das principais disposições do Acordo com o Estado italiano, que poderiam ser afetadas. Fizemo-lo numa relação de colaboração leal e ousaria dizer de amizade que caracterizou e caracteriza as nossas relações. Também saliento que até agora o tema da Concordata não havia sido considerado de modo explícito no debate sobre a lei. A Nota Verbal quis chamar a atenção para este ponto, que não pode ser esquecido. Como também foi apontado por alguns dos comentaristas, a questão da liberdade de opinião não diz respeito apenas aos católicos, mas a todas as pessoas, tocando no que o Concílio Vaticano II define como o 'santuário' da consciência¡±.
Por que interveio a Santa Sé e não a Conferência Episcopal Italiana? Existem diferenças de pontos de vista?
¡°A Conferência Episcopal Italiana fez todo o possível para fazer presente as objeções ao projeto de lei. Houve duas declarações sobre o assunto e o diário católico italiano Avvenire acompanhou o debate de muito perto. Mesmo a CEI, com a qual há plena continuidade de visões e ações, não pediu para retirar a lei, mas sugeriu mudanças. Assim, também a Nota Verbal, conclui com o pedido de uma 'modulação' diferente do texto. Debater é sempre lícito¡±.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp