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Basílica de São Pedro durante a celebração da Paixão do Senhor Basílica de São Pedro durante a celebração da Paixão do Senhor 

A Igreja de Cristo animada pelo Espírito Santo

"O Espírito Santo habita, guia na verdade, unifica e rejuvenece a Igreja. Não vem apenas para dar vigor a estrutura da Igreja, mas é verdadeiramente seu co-fundador, animando-a por dentro. A relação não é mera “assistência” à Igreja, mas é essencial, a ponto de constituí-la".

Jackson Erpen - Pope

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Damos continuidade neste nosso espaço ao aprofundamento da Constituiçã sobre a Igreja. Em nosso último programa, padre Gerson Schmidt*  - que nos acompanhado na exposição dos documentos conciliares – falou sobre a Dimensão Pneumatológica da Igreja, recordando que “a dimensão cristocêntrica da Igreja não pode estar separada da dimensão pneumatológica, ou seja, a Igreja constituída, guiada e conduzida pelo Espírito Santo.” No programa de hoje, o sacerdote gaúcho dá continuidade a essa dimensão, falando sobre “A Igreja de Cristo animada pelo Espírito Santo”:

 

“O número 4 da Constituição Dogmática Lumen Gentium retrata muito bem a consciência pneumática da Igreja, porque a entende como a última determinação da Igreja. Diz assim: “O Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis, como num templo (cfr. 1 Cor. 3,16; 6,19), e dentro deles ora e dá testemunho da adoção de filhos (cfr. Gál. 4,6; Rom. 8, 15-16. 26). A Igreja, que Ele conduz à verdade total (cfr. Jo. 16,13) e unifica na comunhão e no ministério, enriquece-a Ele e guia-a com diversos dons hierárquicos e carismáticos e adorna-a com os seus frutos (cfr. Ef. 4, 11-12; 1 Cor. 12,4; Gál. 5,22)”.

Santo Irineu expressa poeticamente, na imagem de duas mãos de Deus, a ideia de que a Igreja procede de duas missões, a do Verbo e a do Espírito¹. Santo Agostinho une sempre a santa Igreja com o Espírito Santo, do qual ela é o templo². O Espírito Santo habita, guia na verdade, unifica e rejuvenece a Igreja. Não vem apenas para dar vigor a estrutura da Igreja, mas é verdadeiramente seu co-fundador, animando-a por dentro. A relação não é mera “assistência” à Igreja, mas é essencial, a ponto de constituí-la. Por isso, a Igreja é o que é pela ação do Espírito Santo. Nele, ela adquire o seu “eu”, a sua identidade³.

Portanto, o Espírito Santo unifica, rejuvenece a Igreja, animando-a por dentro, constituindo-a em sua identidade. Essa consciência que a Igreja é constituída do alto tem duas consequências. Uma, a superação de uma eclesiologia jurídica; e a outra, a consciência de uma nova relação com o Reino de Deus e com o mundo. Essa mudança de perspectiva faz com que a Igreja deixe de ser vista horizontalmente e a partir de si mesma, para ser compreendida verticalmente, isto é, a partir de Deus e de sua presença nela.

Como consequência, a Igreja é o instrumento de Deus no mundo e tem a missão de proclamar a Boa-Nova do Reino de Deus. O que não significa afastamento do mundo, mas o assentamento de sua missão no essencial. Hoje, a Igreja, passados os primeiros anos de indecisão quanto à sua identidade, proclama, por meio do Papa Paulo VI, que, desde as suas origens, passando pelos séculos de sua história, a evangelização é o que a Igreja tem de mais íntimo (cf. 15). A Igreja existe para evangelizar. É a sua identidade mais genuína. Como diz a Evangelii Nuntiandi de Paulo VI, no número 14: “Evangelizar constitui, de fato, a graça e a vocação própria da Igreja, a sua mais profunda identidade. Ela existe para evangelizar, ou seja, para pregar e ensinar, ser o canal do dom da graça, reconciliar os pecadores com Deus e perpetuar o sacrifício de Cristo na santa missa, que é o memorial da sua morte e gloriosa ressurreição”.

A Igreja deixa igualmente de se identificar com o Reino para ser seu sinal e instrumento, seu germe e início e ter a missão de anunciá-lo e estabelecê-lo em todo o mundo, conforme aponta a Lumen Gentium, número 5. Assim, a única Igreja de Cristo subsiste na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele, embora fora de seu corpo se encontrem vários elementos de santificação e de verdade (cf. Lumen Gentium 8). Aqui não se trata de um relativismo eclesiológico, como se Jesus Cristo não quisesse ter fundado a Igreja ou como se ela tivesse surgido com o processo de perda da tensão escatológica, mas de afirmar seu lugar e seu papel no mundo como subsistência da única Igreja de Jesus Cristo.

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

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¹ CIPRIANO, Oratio Dominicalis, 23.

² AGOSTINHO, De Baptismo 6. In: Sources Chrétiennes 35(1952), p.75.

³ HACKMANN, Geraldo B. Concílio Vaticano II. 40 anos da Lumen Gentium (Coleção Teologia 27). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2005, p.95.

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21 abril 2021, 08:06