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Debora Donnini - Pope
As palavras do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira (26), tiveram ampla ressonância sobre as consequências de um "crescimento econômico desigual" que levou a "uma economia doente" para a qual poucos no mundo, muito ricos, possuem mais do que o resto da humanidade. E isso não é tudo. Lembrando as muitas crianças que morrem de fome ou não têm acesso à educação no mundo, Francisco exortou, com determinação, a sairmos melhores da crise.
As desigualdades sociais agravadas pela pandemia e pela indiferença aos danos infligidos à Criação são um teste decisivo para esta situação. Sobre a riqueza de temas da catequese do Papa, o Pope entrevistou o presidente da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, o economista Stefano Zamagni:
Stefano ¨C ¡°O Papa quer curar o atual modelo econômico da sua doença. O Papa é a favor de uma ordem de mercado que, porém, não ¡®sinta¡¯ as duas principais doenças mencionadas. Esta transformação a partir de dentro é possível hoje, operando em várias frentes que, no entanto, devem ser convergentes. Até recentemente, pensava-se que seria suficiente aumentar a riqueza, aumentar a renda nacional, porque assim tudo ficaria bem. Vimos o que aconteceu: a renda aumentou em nível global, mas, ao mesmo tempo, as desigualdades aumentaram. Portanto, aqui está o primeiro ponto: a proposta do Papa é aquela da prosperidade inclusiva, que inclui todos. A segunda é garantir a harmonia entre o equilíbrio ecológico e o equilíbrio interior. No número dez da Laudato si¡¯, o Papa fala de ¡®paz interior¡¯...¡±
Na sua opinião, então, como essas distorções podem ser atenuadas de alguma forma?
Stefano ¨C ¡°Basta querer, porque, do ponto de vista técnico, dá para fazer. A primeira necessidade é mudar as regras de funcionamento dos mercados financeiros. As finanças estão doentes porque se baseiam em leis erradas. Precisamos que os governos se reúnam à mesa de uma vez por todas e digam: ¡®Vamos reescrever os códigos¡¯. Por exemplo, fechar os paraísos fiscais, porque hoje são uma das principais causas do aumento das desigualdades. Em segundo lugar, devemos assegurar que as finanças sejam colocadas a serviço da economia real. Hoje, o oposto é verdadeiro. Há séculos, as finanças serviam para ajudar empresas, as famílias, todos aqueles que precisavam de ferramentas, e também sobre isso precisamos escrever: basta com a autorreferencialidade. Porque as finanças não produzem valor agregado, elas o redistribuem. Isso pode até ser tolerado, mas hoje se tornou macroevidente, como as crises de 2007-2008 e a subsequente destacaram. Em terceiro lugar, basta dizer que o objetivo da empresa não é apenas a maximização do lucro; os mesmos grandes empresários americanos na sua última declaração, datada de dez dias atrás, disseram: ¡®queremos uma economia que tenha como primeiro objetivo não a maximização do lucro dos diversos acionistas, mas a produção de valor social¡¯.¡±
O Papa também exortou as comunidades cristãs do século 21 a fazer com que os próprios bens produzissem frutificassem também para os outros, seguindo o exemplo das primeiras comunidades cristãs. Esse também é um caminho importante a ser perseguido?
Stefano ¨C ¡°Perto dos bens privados e dos bens públicos, existem os bens comuns. O meio ambiente é um bem comum; a água é um bem comum; a vacina contra o coronavírus, por exemplo, é um bem comum, ou seja, são bens que não são nem do indivíduo nem do organismo público, do Estado, mas são da comunidade. A fim de revitalizar a lógica do bem comum, há necessidade de comunidade, ou seja, grupos de pessoas que realizem concretamente, em sua vida diária, a lógica da aplicação do bem comum. É assim que o convite do Papa deveria ser visto: ¡®vocês, comunidades cristãs, trabalhem duro¡¯. Isso deve começar com testemunhos concretos, que já estão acontecendo, de realidades de pessoas que se reúnem para aplicar a lógica do bem comum. É por isso que, por exemplo, nasceram as cooperativas comunitárias.¡±
Para as sociedades ocidentais, apoiar a família com filhos, especialmente as mães ¨C que trabalham ou não, em realidades onde a taxa de natalidade está caindo, e também se concentrar na formação dos jovens, são formas de sair melhor da crise?
Stefano ¨C ¡°São indispensáveis porque o Papa - não ontem, mas em outras ocasiões - insistiu apropriadamente na recuperação do papel e da função da família. Mas, em todo o mundo, ¡®maus professores¡¯ pensaram que, destruindo a família como instituição e concentrando tudo no individualismo exasperado, poderíamos melhorar a situação. Esse é o maior erro porque a família é a primeira economia. Se esquecermos isso, perdemos a oportunidade de entender uma das principais forças de transformação da estrutura atual. Quem é o primeiro médico das crianças? A família. Qual é o primeiro lugar para a educação e a formação dos jovens? A família. Colocá-lo de volta ao centro significa colocar a figura da pessoa e, em particular, da mulher de volta ao centro.¡±
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