Nos albores do Concílio Vaticano II
Jackson Erpen – Cidade do Vaticano
No nosso espaço Memória Histórica, 50 anos do Concílio Vaticano II, damos continuidade aos nossos programas dedicados à liturgia.
No programa passado, Padre Gerson Schmidt, que tem nos acompanhado neste percurso de exposição dos documentos conciliares, nos trouxe uma reflexão sobre o Congresso Internacional realizado em Assis, como embrião pastoral da Sacrosanctum Concilium. No programa de hoje, o sacerdote incardinado na Arquidiocese de Porto Alegre aprofunda o discurso de Pio XII na conclusão do encontro. “Nos albores do Concílio Vaticano II é o tema de sua reflexão”:
“Em 1956, aconteceu um fato interessante, ou seja, o primeiro Congresso Internacional de Pastoral Litúrgica, celebrado em Assis, que foi um verdadeiro encontro de especialistas e troca de experiências pastorais. Tudo isso vai ter sua culminância, em forma de compêndio, na reforma litúrgica do Vaticano II. Para esse Congresso de 1956, Papa Pio XII fez um precioso discurso conclusivo, excelente complemente da anterior Encíclica sobre a música sagrada, colocando a excelência e elevada significação da liturgia católica, como símbolo da graça e da pessoa de Cristo[1].
Embora houvesse controvérsias e até discussões sobre o uso da língua latina, Pio XII, em Roma, no dia 22 de setembro, fez um belo discurso conclusivo com a seguinte frase histórica: “O movimento Litúrgico apareceu como um sinal das disposições providenciais de Deus em relação ao tempo presente, como uma passagem do Espírito Santo na Igreja”.
O Papa Pio XII na ocasião ainda disse muitas coisas interessantes, para a sua época, falando assim, ainda antes do Concilio: “Se se compara a situação atual do movimento litúrgico com o que já foi há trinta anos, constata-se que alcançou um progresso inegável, tanto na extensão quanto na profundidade. O interesse pela liturgia, as realizações práticas e a participação ativa dos fiéis conquistaram um desenvolvimento que seria difícil de prever naquele momento”. Pio XII já falava da participação ativa dos fiéis, tônica endossada pela SC.
Na mensagem enviada por Pio XII aos participantes, o Papa falou que é no coração da liturgia que se desenrola a celebração da Eucaristia, sacrifício e banquete, dois adjetivos importantes aqui que resumem grandes controvérsias até então discutidas amplamente. E falou da participação não passiva dos fiéis: “Se a Hierarquia comunica pela liturgia a verdade e a graça de Cristo, os fiéis, por sua vez, têm por dever de recebê-las, com toda a alma, e transformá-las em valores vitais. Tudo que lhes é oferecido, as graças do sacrifício do altar, dos sacramentos e dos sacramentais, que eles aceitem, não de modo passivo, deixando apenas que sejam derramadas sobre si, mas colaborando com toda a vontade e com toda força e, sobretudo, participando dos ofícios litúrgicos ou ao menos seguindo o seu desenrolar com fervor”.
Também o Papa Pio XII já faz ponderações sobre o tabernáculo, a capela do Santíssimo, como hoje entendemos, afirmando que o altar é mais importante que o tabernáculo. Disse assim: “A estas considerações devemos acrescentar algumas indicações sobre o tabernáculo. Assim como dissemos acima: “O Senhor é de alguma forma maior que o altar e que o sacrifício”, poderíamos dizer em seguida: “O tabernáculo, onde habita o Senhor que desceu no meio do seu povo, é maior que o altar e que o sacrifício”? O altar é mais importante que o tabernáculo, porque nele é oferecido o sacrifício do Senhor. Sem dúvida o tabernáculo guarda o Sacramentum permanens (Sacramento permanente), mas não é um altare permanens (altar permanente), pois o Senhor se oferece em sacrifício apenas sobre o altar durante a celebração da Santa Missa, não depois ou fora da Missa. No tabernáculo, por sua vez, ele está presente por todo o tempo em que perdurarem as espécies consagradas, sem, no meio tempo, oferecer-se de modo permanente”. Por isso, a Sacrosactum Concilium recolhe essa renovação litúrgica colocando o sacrário não mais no centro da nave das Igrejas, mas, nas igrejas novas e novas construções dos templos, num espaço lateral especial, para justamente primar pelo altar, o principal lugar do sacrifício eucarístico, centro de todo o Mistério Pascal, celebrado em cada Missa.”
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[1] FRANCISCO J. MONTALBAN e VV.AA. História de La Iglesia Catolica, IV Edad Moderna, Biblioteca de autores Cristianos, Madrid, 1958, p.843.
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