A Paz do Menino de Belém, a verdadeira Paz
Silvonei José – Cidade do Vaticano
Renova-se também este ano a tradição da Livraria Editora Vaticana de acompanhar os principais eventos litúrgicos do ano com uma publicação que ajude o leitor a descobrir o sentido profundo do Natal. O último volume deste gênero, como parte da série 'Vida no Espírito', intitula-se 'A maravilha do Natal': realizado por Lucio Coco e baseia-se numa antiga homilia de São João Crisóstomo pronunciada no ano 386. O prefácio deste livro é do arcipreste da Basílica de São Pedro, cardeal Angelo Comastri.
Numa conversa com Pope falou sobre o valor da iniciativa editorial, afirmando que é “uma ideia feliz". O cardeal sublinha em primeiro lugar, que é um testemunho de que a festa do Natal foi imediatamente sentida como uma festa de alegria, esperança e luz. Além disso, confirma a convicção de que Jesus nasceu em dezembro, porque - explica ele - esse foi o mês em que foi divulgado o edito de César Augusto, que ordenou o censo de todo o Império, e Maria e José se colocaram em viagem impulsionados por aquele decreto imperial.
Lendo o prefácio do livro nos deparamos com a constatação do cardeal Comastri de que há algum tempo está em curso "uma operação desonesta para transformar o Natal numa festa sem o Menino Jesus", apesar do fato de a maior e mais benéfica transformação da humanidade ter começado a partir deste Menino. Diante da Natividade devemos parar, refletir e abrir nosso coração para a grande lição que ainda é atual e ainda verdadeira: a lição de Belém".
'Admirabile Signum'
Segundo dom Comastri, a única coisa a fazer para recolocar esta mensagem no centro é "sintonizar-se com as escolhas de Belém": a do amor, da pobreza e da humildade, como sublinhou o Papa Francisco na carta apostólica 'Admirabile Signum' publicada por ocasião da sua recente visita a Greccio. Com a Natividade entrou no mundo uma luz que percorre toda a história, adverte o cardeal que cita vários pensadores - como Benedetto Croce e Emanuele Kant - que reconheceram no cristianismo e no Evangelho a única novidade na história como também a fonte da nossa civilização.
Não devemos esquecer que a nossa sociedade atual tenta de todas as maneiras revisitar o Natal, mas certamente não uma revisitação cristã. Recentemente – escreveu dom Comastri - alguns professores italianos pensaram em retirar o nome de Jesus de uma canção de Natal para substituí-lo pela palavra 'virtude': o nome de Jesus obviamente incomodou. Outros professores chegaram a substituir a verdadeira história do Natal de Jesus pela fábula do Chapeuzinho Vermelho: este gesto é didaticamente inqualificável porque coloca a história e a fábula no mesmo nível. E mesmo assim fizeram isso.
Ter medo de Jesus
Quando nos distanciamos de Jesus a civilização do amor acaba. Falando sobre isso no seu prefácio dom Comastri evocou as confidências de Svetlana Stalin, a filha do ditador do século passado, segundo a qual a ferocidade de seu pai tinha apenas uma causa. Meu pai - disse ela - tinha virado as costas para Jesus e para o Evangelho. E quando morreu, o último olhar que deu foi coerente com a sua vida: um olhar de ódio para com todos os que o rodeavam. Um processo que é evidente ainda hoje. Sem Jesus torna-se quase impossível falar sequer de paz: o Papa o recordou isso no Japão, quando disse que é uma loucura até mesmo preparar as armas atômicas.
O Amor salva
O Natal está se aproximando e é sempre mais difícil, ainda hoje, para todos nós, reconhecer o Deus que se faz homem. Os cristãos de todo o mundo se preparam para celebrar o nascimento d’Aquele a quem nos dirigimos como Príncipe da Paz. A paz disse esta semana o Papa recebendo alguns embaixadores que apresentaram sua cartas credenciais é um desejo profundo, inscrito no DNA do ser humano, que, mesmo que não o conheça, espera não tanto a paz como algo, mas a paz como Alguém. Vem a Paz. Contra o mal que invade a nossa sociedade, Francisco traça um caminho feito de palavras simples: honestidade, verdade, solidariedade fraterna, respeito mútuo, dignidade. Aqui está a esperança: vem a paz, mas não é tanto uma situação, é Alguém, é Jesus que nasce numa gruta à margem do mundo. É Jesus o senhor da história, da nossa história. É o amor que salva. E o amor é Deus: "Deus caritas est".
"O único que salva é o Senhor", lembrou Francisco na missa na Casa Santa Marta esta semana, e esta salvação é gratuita porque nenhum de nós pode se salvar sozinho, ninguém pode se orgulhar de ser justo. Podemos somente confiar-nos "à gratuidade da salvação do Senhor". Só assim o nosso deserto, a esterilidade do nosso egoísmo, florescerá: florescerá nas obras da fé, o amor que dá vida. Esta é a verdadeira paz, paz que nos traz o Menino de Belém. Feliz Natal a todos vocês.
Obrigado por ter lido este artigo. Se quiser se manter atualizado, assine a nossa newsletter clicando aqui e se inscreva no nosso canal do WhatsApp