#SinodoAmazonico. Educação integral por uma “cidadania ecológica"
Pope – Cidade do Vaticano
No dia em que a Igreja recorda Nossa Senhora Aparecida, a Sala do Sínodo elevou um canto em homenagem à Virgem, Padroeira do Brasil, e a Ela confiou os trabalhos da Assembleia. Depois, foi aberto espaço aos pronunciamentos de vários padres sinodais e de alguns auditores e auditoras. Entre os temas examinados, o da educação integral, instrumento de integração e de promoção dos povos amazônicos: por um desenvolvimento sustentável, destacou-se, é necessário um acesso paritário à informação através da interdisciplinariedade e da transdisciplinariedade, distante da cultura do descarte e próximo à cultura do encontro. A tarefa dos educadores, portanto, deve ser renovada através da perspectiva da evangelização para que esteja à altura deste grande desafio que é a educação. Foi feita uma reflexão sobre a urgência de um pacto educativo, em perspectiva ecológica e em chave amazônica, de modo a promover o “bem viver”, “o bem conviver” e o “bem agir”.
Cidadania ecológica
A Amazônia é uma região rica de diversidade não somente biológica, mas também cultural: hoje, as comunidades que a habitam se veem ameaçadas pela expansão do mundo assim dito “civilizado” que, na realidade, se preocupa somente com a exploração dos recursos naturais para capitalizar a riqueza. Por isso, é necessária uma educação integral que restabeleça a conexão entre o homem e o meio ambiente, formando indivíduos capazes de cuidar da casa comum, em nome da solidariedade, da consciência comunitária e da “cidadania ecológica”. A ecologia integral, afirmou-se, deve se tornar parte do modo de viver na Igreja para o mundo. O tema da Encíclica Laudato si’ deve ser levado seriamente em consideração, porque enquanto o homem aposta numa homologação forçada, Deus quer uma harmonia de diferenças. E disto a Amazônia é um modelo virtuoso, enquanto representa a unidade na diversidade do seu sistema ecológico e dos povos que a habitam. Eis então o chamado a não homologar, excluir ou dominar os povos e a Criação, para que não prevaleçam injustiças e violências, como por exemplo o land grabbing ou as perfurações em zonas marinhas protegidas.
O tema do trabalho e o drama do tráfico
Outro pronunciamento enfrentou o tema da interação entre ecologia e trabalho, dois âmbitos que têm em comum, muitas vezes, dinâmicas tecnocráticas ou de exploração. Pelo contrário, se recordou que é necessário promover uma teologia da Criação, de modo a reconstruir uma relação não predatória com a natureza. O tema do trabalho também foi mencionado em outro pronunciamento sobre o desemprego juvenil: é a primeira e mais grave forma de exclusão e marginalização da juventude, afirmou-se, com situações alarmantes de escravidão nos campos ou na cidade; também é trágico o drama do trabalho infantil. Houve uma reflexão sobre a necessidade de promover os direitos dos trabalhadores, relançando a economia solidária, as bioeconomias locais e a energia renovável, priorizando o bem comum e não o lucro. Outro tema tocado foi o tráfico de seres humanos, em todas as suas dramáticas facetas, entre as quais prostituição, trabalho forçado e tráfico de órgãos. Trata-se de crimes de lesa humanidade, foi dito na Sala, e por isso se impõe um novo imperativo moral, junto a um esforço legislativo internacional para libertar a sociedade desses delitos.
O papel das mulheres
Voltou-se a falar, depois, do papel das mulheres, muito ativas nas comunidades amazônicas e prontas a compartilhar as responsabilidades pastorais com os sacerdotes. Trata-se de uma questão profunda, que não pode ser contornada superficialmente, declarou-se. Por isso, num pronunciamento foi pedido que as mulheres sejam de fato equiparadas à mesma dignidade dos homens no âmbito dos ministérios não ordenados, já que muitas Congregações religiosas femininas foram e ainda são verdadeiras heroínas da Amazônia pelo nascimento de comunidades em diversos pontos da região. Também os auditores e as auditoras falaram da experiência da vida consagrada na Amazônia e sobre seu empenho para a promoção das vocações indígenas, respeitosas das identidades e verdadeiro enriquecimento para a espiritualidade da Igreja. Em especial, foi reiterado o empenho das consagradas nas regiões de periferia e a versatilidade de sua atuação. Portanto, requer-se um maior reconhecimento e uma maior valorização das mulheres consagradas, para que não caminhem mais “para trás”, mas “ao lado”, na ótica de uma sinodalidade eclesial distante do clericalismo.
A questão das vocações
Quanto ao tema dos viri probati, na Sala se refletiu sobre por qual motivo faltam vocações e a incapacidade da Igreja de despertá-las. Um pronunciamento sugeriu a promoção de experiências locais de ministérios temporários para homens casados, desde que sejam reconhecidos e aprovados pelo ordinário local e pela comunidade eclesial. Outro orador sugere a instituição de uma Comissão pan-amazônica ou regional para a formação de futuros sacerdotes, de modo a ir ao encontro das dificuldades econômicas das dioceses e da falta de educadores. Foi recordada a importância do diaconato permanente.
Os migrantes não são números
Os padres sinodais voltaram a falar ainda das migrações: a Amazônia, de fato, está entre as regiões da América Latina com maior mobilização nacional e internacional. É central, portanto, o chamado a não considerar o migrante como um mero dado sociológico ou político, mas como local teológico para reiterar o empenho da Igreja em favor da justiça e do respeito dos direitos humanos, em busca de um sistema econômico justo e solidário. É necessária uma Pastoral atenta a este tema, destacou-se na Sala, uma Pastoral que seja uma obra não somente social, mas também e sobretudo espiritual, capaz de levar esperança e de promover a verdadeira integração dos migrantes.
A tarefa missionária da Igreja e o desafio ecumênico
Além disso, na Sala do Sínodo se fez referência à tarefa missionária da Igreja, numa região como aquela Amazônica, em que vivem cerca de 38 milhões de pessoas, inclusive grupos de indígenas voluntariamente isolados: também a eles, foi dito, deve ser levada a Palavra de Deus através da linguagem do amor e da oração. É necessário um testemunho coerente, belo, capaz de atrair; a Igreja deve ser “em saída”, kerygmatica, educadora à fé; coloque-se em diálogo, aprecie e valorize os povos, fecundando as culturas com a riqueza evangélica, porque dela não se espera somente projetos, mas uma Pessoa, isto é, Jesus Cristo. A missão da Igreja comporta também um âmbito ecumênico, destacou-se, para promover juntos a proteção do meio ambiente, a defesa dos direitos dos povos indígenas e o diálogo.
Os auditores: a Amazônia não é uma mercadoria. Não ao colonialismo
No encerramento da Congregação, a Sala ouviu alguns auditores e auditoras: entre os temas apresentados, a delimitação e a proteção dos territórios indígenas, para que não sejam expropriados e depredados em nome das atividades extrativistas minerárias ou por centrais hidrelétricas. A defesa da terra equivale à defesa da vida: os governos locais devem acabar com as injustiças contra os povos nativos, muitas vezes discriminados ou não considerados com uma cultura viva, com costumes, línguas e tradições próprias. Também a comunidade internacional deve intervir concretamente para acabar com os delitos perpetrados contra os nativos da Amazônia, porque esta região não pode ser tratada como mercadoria. O cuidado da casa comum não deve ser objeto de propaganda ou de lucro, mas verdadeira proteção da Criação, distante do “colonialismo” econômico, social e cultural que quer modernizar o território impondo modelos de desenvolvimento estranhos às culturas locais. Foi feita a sugestão de criar, nas Igrejas locais, um fundo de subsistência para iniciativas de etnoecologia ou de agroecologia e de segurança alimentar, partindo de lógicas amazônicas.
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