Coletiva S¨ªnodo: defesa dos povos ind¨ªgenas e diaconato permanente
Alessandro Di Bussolo / Raimundo de Lima - Cidade do Vaticano
¡°Com este Sínodo, o Papa Francisco quer despertar a consciência de toda a Igreja sobre o destino dos povos indígenas da Amazônia, que há 500 anos vivem sob ameaça de extinção. Os missionários serviram a essas populações, mas a situação permanece dramática.¡±
O arcebispo de Viena, na Áustria, cardeal Christoph Schönborn, na coletiva na Sala de Imprensa da Santa Sé esta segunda-feira (21/10) sobre o Sínodo para a Amazônia, admitiu que jamais esteve na região, mas como padre sinodal ¡°aprendeu muito sobre a coragem dos povos indígenas¡±.
¡°Nós como herdeiros das potências coloniais devemos estar muito atentos e conscientes do que significa para estes povos encontrar-se em risco de extinção. O Papa nos pede para prestar atenção a quem não tem voz, aos povos e aos pobres esquecidos¡±, ressaltou.
Em Viena 180 diáconos permanentes
O ex-aluno do teólogo Joseph Ratzinger, depois Papa Bento XVI, e colaborador de São João Paulo II, recordou aos jornalistas ter falado na Sala do Sínodo sobre a experiência da diocese que guia há 21 anos.
¡°Em Viena temos 180 diáconos permanentes, em sua maioria casados. Uma experiência nascida graças à intuição de meu predecessor cardeal König, que colocou em prática uma das novidades trazidas pelo Concílio Vaticano II¡±, destacou.
¡°Hoje nossos diáconos permanentes prestam serviço em paróquias, nas comunidades, nas Caritas e também nos cárceres. O diaconato permanente pode ajudar realmente a pastoral na Amazônia¡±, observou o purpurado.
Schönborn: toda a Igreja é corresponsável pela Amazônia
Para o cardeal Schönborn, outra ajuda à Igreja na Amazônia pode vir de uma mais equânime ¡°distribuição do clero¡±. A Colômbia ¨C foi o exemplo que deu ¨C ¡°tem mais de 1200 padres nos EUA, no Canadá e na Espanha. Se ao menos uma parte pudesse transferir-se para a Amazônia seria uma grande ajuda¡±.
A Europa, em relação aos outros continentes, acrescentou o presidente dos bispos austríacos, ¡°tem uma superabundância de sacerdotes, mesmo porque, devemos admitir, a remuneração é melhor do que em zonas pobres¡±.
Em suma, para o purpurado, ¡°toda a América Latina, aliás, toda a Igreja católica é corresponsável pela Amazônia. Se há uma necessidade de ajuda, a Igreja deve esforçar-se para enviar missionários, como já fez no passado¡±. E deve fazer autocrítica: ¡°Tivemos a confiança de buscar, de confiar realmente nas vocações dos indígenas?¡±, perguntou-se Schönborn.
¡°A Amazônia é decisiva para o clima do mundo ¨C concluiu o cardeal, tocando o tema da ecologia integral ¨C e nós devemos perguntar-nos qual é a nossa contribuição para aumentar os perigos para a Amazônia. Por exemplo, usando celulares construídos com os minerais extraídos da floresta amazônica.¡±
Pompili: a questão ecológica é "a questão"
Suas palavras foram ressoadas nas do bispo da diocese italiana de Rieti, dom Domenico Pompili: ¡°Agora a questão ecológica é a questão. A Laudato si¡¯ demonstrou que não há desenvolvimento no médio-longo prazo, se este não é sustentável¡±.
¡°Não precisamos nem dos negacionistas, que negam a evidência do problema, nem dos terroristas que veem o fim do mundo cada vez mais próximo, mas ninguém hoje pode evitar refletir seriamente, como nós estamos fazendo no Sínodo¡±, observou.
Justamente para ajudar os padres sinodais nesta reflexão, informou o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, o diretor emérito do Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático, o climatologista alemão Hans J. Schellnhuber interveio esta segunda-feira na Sala do Sínodo.
A tragédia do terremoto de 2016 no centro da Índia ¨C foi o testemunho de dom Pompili ¨C ¡°é a amostra de um difícil e não resolvido problema na relação homem-ambiente. E hoje a reconstrução, aliás, a ¡®regeneração¡¯ deve ser feita seguindo rigorosos critérios eco-sustentáveis. Infelizmente, ainda há dezenas de milhares de deslocados¡±.
Pe. Bossi: não ao ouro nas liturgias, extração causa poluição
O superior provincial dos missionários combonianos no Brasil ¨C que são membros da Repam e da rede Igreja e Mineração, Pe. Dario Bossi, há 15 anos na Amazônia, falou na coletiva sobre os danos ao ambiente e às populações da Amazônia provocados pelas indústrias da extração minerária.
¡°Seria um sinal muito forte se a Igreja conseguisse eliminar o uso do ouro em suas liturgias e sacramentos¡±, disse respondendo a uma pergunta. Os garimpeiros, denunciou o comboniano, ¡°para o equivalente a um anel de ouro reviram centenas de quilos de terras e poluem os rios com mercúrio e cianeto¡±. Somente 10% do ouro é usado para processos efetivamente úteis, como a utilização na medicina, o restante é armazenado ou utilizado para joalheria¡±.
¡°Em nosso território de Piquiá de Baixo, no distrito industrial de Açailândia (MA) ¨C contou o missionário ¨C encontra-se a maior mineradora a céu aberto de extração de ferro do mundo, com um processo de exportação ao longo de 900Km, que atravessa mais de 100 comunidades.¡±
Os frutos deste ¡°modelo extrativista predatório¡±, esclareceu, são o desmatamento e a poluição. Para não falar das tragédias ocorridas com a ruptura das barragens minerárias, como as de Mariana em 2015 e de Brumadinho este ano.
A extração minerária é o mal comum da Amazônia
¡°A associação entre governo e grandes empresas é muito perigosa ¨C denunciou o provincial dos combonianos ¨C, modificam-se as leis e se reduz a fiscalização.¡± A Igreja encontra-se ao lado das comunidades atingidas, com a rede ecumênica Igrejas e Mineração, e uma comissão ad hoc do episcopado brasileiro.
¡°Ninguém mais suporta esse sistema¡±, denunciou Pe. Bossi. A extração minerária é um mal comum da Amazônia, e em 25% do território amazônico já foram identificados novos pontos apropriados para a extração.¡±
Felizmente, as comunidades indígenas reagem: ¡°há 10 anos a comunidade de Piquiá de Baixo está se organizado para pedir ressarcimentos integrais pelos danos sofridos, e agora estão conseguindo construir um novo bairro distante das áreas poluídas¡±.
Paiva: pedido de apoio a quem se torna "invisível" na cidade
¡°Para os indígenas que chegam às cidades o maior perigo é a invisibilidade: quando se é invisível, não se tem direitos.¡± Quem explicou isso foi a brasileira Marcivana Rodrigues Paiva, representante do grupo étnico Sateré Mawé, que falou da questão da ¡°urbanização¡±, fenômeno sempre crescente para os povos indígenas, que obrigados a deixar suas terras migram para os grandes centros urbanos.
Somente em Manaus, por exemplo, ¡°há 45 populações indígenas, 35 mil habitantes ao todo, que falam 16 línguas¡±. ¡°Sem território, não têm direito à nossa identidade¡±, denunciou Marcivana, lançando um apelo ¡°em favor das populações indígenas que chegam às cidades¡± mediante uma ¡°pastoral indígena¡± endereçada a eles.
Ruffini: o precesso de escuta no Sínodo não terminou
O prefeito do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé, Paolo Ruffini, informou que o relator geral do Sínodo, o cardeal Claudio Hummes ¨C arcebispo emérito de São Paulo e presidente da Rede eclesial pan-amazônica (Repam), apresentou na manhã desta segunda-feira na Sala do Sínodo o esboço do documento final da Assembleia especial.
Quatro temas principais: ¡°O caminho do povo da Amazônia, a conversão integral à plenitude e à vida, a conversão pastoral, sinodal e missionária, e, por fim, a conversão cultural e ecológica, portanto, a questão da inculturação¡±. Mas, concluiu Ruffini, ¡°o cardeal esclareceu que o processo de escuta não terminou¡±.
Estátuas roubadas: "furto que se comenta por si mesmo"
Por fim, o prefeito Ruffini interveio, respondendo a um jornalista, para comentar o gesto na manhã desta segunda-feira, praticado por desconhecidos que roubaram da igreja de Santa Maria in Traspontina ¨C nas adjacências do Vaticano ¨C e jogaram no rio Tibre as estátuas de madeira representando mulheres indígenas grávidas utilizadas durante a cerimônia no Vaticano, em 4 de outubro, na presença do Papa Francisco. O gesto foi filmado pelos autores que depois publicaram em redes sociais.
¡°Já dissemos nesta sede mais vezes que essas estátuas representavam a vida, a fertilidade, a mãe terra. É um gesto, parece-me, que contradiz o espírito de diálogo que deveria sempre animar todos. Não sei o que mais poderia dizer a não ser que se trata de um furto, e que talvez se comente inclusive por si mesmo¡±, esclareceu Ruffini.
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