Gregoriana: reflexão sobre o documento de Abu Dhabi sobre a fraternidade
Eugenio Murrali, Silvonei José - Cidade do Vaticano
"A fé leva o crente a ver no outro um irmão para apoiar e amar." Assim começa o "Documento sobre a fraternidade humana para a paz mundial e a convivência comum", sobre o qual o Grupo de Pesquisa "Centro de Estudos Inter-religiosos - Pisai" iniciou seus trabalhos com um fórum de aprofundamento, realizado na noite de segunda-feira (08/04) na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma. Estiveram presentes o teólogo muçulmano Adnane Mokrani e o diretor do Centro de Estudos Padre Laurent Basanese: o moderador do evento foi o padre Valentino Cottini.
O direito de sonhar
O "Documento sobre a fraternidade humana" marca um novo horizonte para o diálogo islâmico-cristão e para além dele. Não é um documento idealista, mas oferece uma oportunidade e restabelece o "direito de sonhar", especialmente para os jovens, que, sublinha Adnane Mokrani, "são o motor da mudança, a esperança para o futuro e têm uma grande sede de liberdade, democracia, direitos humanos, cidadania plena".
Uma responsabilidade comum
Da análise do teólogo emerge que o Documento se centraliza na fraternidade cósmica de todas as criaturas. É evidente que o nosso planeta não pode sobreviver sem uma ideia de responsabilidade comum perante Deus e perante a humanidade e a criação. A falta de amor e de solidariedade fere a fé e não permite o que é indicado no texto como "um encontro cheio de esperança para um futuro brilhante para todos os homens". Por outro lado, o teólogo observou durante o encontro que "este documento nasceu em estado de emergência, no qual existem muitos conflitos. Nós não temos um destino separado, mas um destino único para toda a humanidade. E somos todos responsáveis”.
Liberdade e pluralismo
Mokrani, neste primeiro fórum de reflexão, se detém também sobre um parágrafo do documento no qual se lê que "o pluralismo e a diversidade de religião, cor, sexo, raça e língua são uma sábia vontade divina" e também recorda, a este respeito, as clarificações feitas pelo Papa Francisco durante a audiência geral de 3 de abril, quando o Papa recordou a voluntas permissiva mencionada pelos teólogos da escolástica. O Padre Laurent Basanese assinala também que, pela primeira vez, num documento deste tipo, se fala de "liberdade de crença".
Um novo documento
O Padre Basanese destaca, mais genericamente, a originalidade do texto assinado pelo Papa e por Al-Tayyeb. Não se trata, de fato, de um documento sobre "diálogo inter-religioso" em sentido estrito, uma expressão que não aparece, "mas se fala - explica o estudioso - de diálogo de culturas, é um convite a encontrar-se com todos: crentes e não crentes, pessoas de boa vontade".
O diálogo da amizade
Desde Paulo VI, passando por João Paulo II, Bento XVI até hoje, padre Basanese vê um caminho: do diálogo com o mundo, com as civilizações, ao diálogo na verdade e na caridade, até o diálogo do encontro e da amizade. Para o teólogo esta linha é evidente também nos documentos cujos ecos ele percebeu: "Encontrei a Nostra aetate, mas também a Gaudium et Spes, onde se fala de fraternidade, de alegria e de tristeza, como neste documento".
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