Francisco, construtor de pontes a caminho das pessoas
Giada Aquilino, Andressa Collet – Cidade do Vaticano
A serenidade, a atenção às pessoas e ao próximo, a escuta e a sinodalidade são algumas das palavras-chave do Pontificado do Papa Francisco, através da reflexão do diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé, Alessandro Gisotti. Há 6 anos da eleição de Francisco, naquele 13 de março de 2013 ao saudar os fiéis da Praça São Pedro e de todo o mundo da sacada central da Basílica Vaticana, o Pontífice começou aquele que ele mesmo definiu logo como “um caminho de fraternidade, de amor, de confiança”.
O testemunho das suas palavras veio já alguns meses depois com a visita aos migrantes em Lampedusa (Itália): uma viagem, aquela de 8 de julho de 2013, que “não era programada”, sentindo simplesmente que deveria “ir”, como ele mesmo teve a oportunidade de explicar depois. Uma solicitude que prossegue inalterada 6 anos depois, como explica o porta-voz vaticano.
Gisotti – O Papa mostra que os migrantes são pessoas e não cifras. E o faz porque tem uma atenção constante sobre eles, enquanto vemos que, infelizmente e frequentemente, a mídia se ocupa de migrantes quando tem uma crise grave, o naufrágio de um navio ou situações de emergência por causa de uma guerra. Além da sua primeira viagem a Lampedusa (Itália), seguiram muitíssimos gestos de proximidade aos migrantes. Inclusive, precisamente nas viagens, pensemos no campo de refugiados de Lesbos (Grécia) até chegar à atualidade, ao Marrocos: o Papa, daqui a poucas semanas na sua viagem apostólica, vai se dirigir também a um centro da Caritas para os migrantes. Depois, inclusive na viagem sucessiva, aquela à Bulgária e República da Macedônia do Norte, será realizado um momento de proximidade aos migrantes, pois vai visitar um campo de refugiados.
Francisco honra o nome que leva
A abertura da Porta Santa em Banghi (República Centro-Africana), a reconciliação na Colômbia, os Rohingya na Ásia: são faces diversas do empenho do Papa pela paz?
Gisotti – Absolutamente. Francisco, sem dúvida, honra o nome que leva. Obviamente quando, 6 anos atrás teve a eleição, todos fomos surpreendidos por este nome “Francisco”, Francisco de Assis, o homem da paz, o Pobrezinho que tentou com a esperança contra a esperança sempre a forma do diálogo. Pensemos também no encontro com o sultão Al-Kamil Al-Malek que foi evocado ultimamente na viagem aos Emirados Árabes. Então, Francisco honra o seu nome, mas depois também o seu ministério: Pontífice, construtor de pontes. Às vezes, nos esquecemos dessa dimensão própria dos Papas.
Homilias da Santa Marta: coração do Pontificado
O que representam as homilias das missas matinais na Casa Santa Marta neste Pontificado?
Gisotti – Para mim, são o coração do Pontificado porque ali o Papa encontra o Povo de Deus no momento fundamental para um sacerdote, para um bispo – o Papa é o bispo da diocese de Roma. Através do encontro com a Eucaristia e com os fiéis nascem essas homilias que são um campo extraordinário, porque se vamos ver depois os grandes documentos do Pontificado, nota-se como frequentemente invocam ou são diretamente inspirados nas homilias de Santa Marta. Penso que, realmente, depois de 6 anos, se possa dizer que essa é uma das coisas mais bonitas, mais novas: é exatamente o coração do Pontificado!
Binômio diálogo-amizade
A amizade do Papa com o Grande Imame de Al-Azhar Ahmad Al-Tayyib e aquela com o Patriarca de Constantinopla, Bartolomeu I, demonstra como o diálogo esteja caracterizando o empenho de Francisco?
Gisotti – O Papa Francisco, desde os primeiros passos do seu Pontificado, nos falou da “cultura do encontro” que coloca em prática, antes de tudo, o tema da amizade. Eu vi, por exemplo, com grande emoção, a amizade com o Grande Imame Al-Tayyib, já que eu estava presente em Abu Dhabi.
Por isso, certamente o tema do diálogo é algo que está no coração do Papa e o vê sempre com este binômio diálogo-amizade. Nunca é um diálogo como uma finalidade específica, mas é um diálogo que nasce do encontro, e isso podemos dizer certamente sobre Al-Tayyeb, mas também sobre tantos outros líderes religiosos e não somente.
Conversão dos corações e proteção aos menores
O empenho pela proteção dos menores também marca este Pontificado: sobre o encontro realizado há pouco no Vaticano, foram feitas críticas em relação à falta de frutos concretos. Quais os resultados efetivos?
Gisotti – Esse foi um encontro necessário. Eram em muitos a ter dúvidas que fosse o caso oportuno de manter esse encontro, enquanto o Papa, a esse respeito, deu demonstração de coragem e, inclusive, na minha opinião, de uma coragem profética porque, pela primeira vez – diante de um escândalo terrível que coloca em risco não somente a credibilidade, mas, por alguns aspectos, a própria missão da Igreja – quis convocar todos os presidentes dos episcopados. Então, o Papa quis, antes de tudo, dizer que para um problema global é necessário dar uma resposta global. Depois, obviamente, tem o tema da concretude, das medidas concretas. Nesse sentido, bem ao final do Encontro sobre a Proteção dos Menores, foi anunciado o, assim chamado, follow-up, isto é, os passos que devem seguir. Então, a publicação de um Motu Proprio, a publicação de um manual da Congregação para a Doutrina da Fé e toda uma série de regulamentos e, ainda, a iniciativa das “forças-tarefa”, isto é, especialistas que possam ajudar as Conferências Episcopais a atuar em atividades de proteção dos menores.
O caminhar da Igreja, segundo o Papa Francisco
O Papa convocou três Sínodos e mudou o funcionamento: com essas escolhas, em que direção está conduzindo a Igreja?
Gisotti – Ele tem esta visão de uma Igreja “em saída” e de uma Igreja “hospital de campanha”. A Igreja em saída pressupõe que se caminhe, toda. E “sinodal” quer dizer caminhar juntos. Esse é o espírito com que Francisco está vivendo esta sua dimensão também de pastor, como disse logo no início do seu Pontificado, 6 anos atrás, com o povo, diante do povo, mas, também, em meio ao povo, atrás do povo, como no fundo um bom pastor deveria sempre fazer com o seu rebanho! E, depois, a Igreja “hospital de campanha”. A gente viu com o Encontro sobre a Proteção dos Menores, uma Igreja que tem a coragem de se inclinar sobre as feridas das mulheres e dos homens do nosso tempo.
Um homem em paz
Uma recordação, uma imagem, uma reflexão do Papa que te marcou nestes anos, mas também nestes dois meses e meio como diretor interino da Sala de Imprensa da Santa Sé:
Gisotti – É a sua serenidade. Nós, obviamente, vivemos e não podemos esconder – o próprio Papa não esconde – um momento muito delicado, em especial, justamente pelo escândalo terrível dos abusos. Todavia, mesmo com essa grande consciência e também com essa coragem em enfrentar tal situação, Francisco não perde a calma, a serenidade. E realmente - vendo-o inclusive nos momentos privados, me tocou, por exemplo, vê-lo bem próximo rezando – se vê realmente um homem em paz. É uma paz que obviamente não vem do mundo, mas que provém de Deus. Inclusive em relação a mim, num momento de muitas dificuldades objetivas diárias, o Papa pessoalmente me disse e em mais de uma oportunidade: “Não te deixe dominar pelo desânimo, fica sereno”. Ele diz como pai, em modo muito paterno, e me dá também a força e a coragem para seguir adiante, com um espírito de esperança, sabendo exatamente que o Santo Padre vive com tão grande força e serenidade este momento e acaba doando-as também a nós.
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