Prof?. Ghisoni: agir em conjunto, esse ¨¦ o caminho
Jane Nogara - Cidade do Vaticano
A doutora Linda Ghisoni, iniciou recordando o testemunho de uma vítima. Vítima de um pastor, ¡°Pastor da Igreja que deveria cuidar dos pequenos e protegê-los¡±. Em seguida afirma de modo incisivo: ¡°Escutar testemunhos como este, não é um serviço de comiseração, é um encontro com a Carne de Cristo, na qual são infligidas feridas que talvez nunca se curem, imprescritíveis¡±.
Deveríamos nos ajoelhar
¡°Como podemos falar de proteção de menores na Igreja, sem considerar as vítimas e suas famílias, sem falar dos abusadores, dos cúmplices, dos negacionistas, dos acusados injustamente, dos negligentes, dos que desviaram os casos, dos que tentaram falar e agir mas foram calados?¡± e concluiu dizendo: ¡°Ajoelhados: essa seria a postura adequada para tratar os assuntos destes dias¡±. E disse:
Depois a doutora Ghisoni prosseguiu sua conferência falando em situar e fundar oportunamente a prestação de contas: ¡°Diante abnormidade intrínseca de todos os tipos de abusos contra menores, impõe-se principalmente, um dever de consciência do que aconteceu, juntamente com uma tomada de consciência do seu significado, do dever de verdade, de justiça, de reparação e prevenção para que se consiga a não reiteração destas abominações¡±, e para conseguir as exigências citadas é necessário ¡°assumir a devida responsabilidade¡± para com os que sofreram e o consequente dever de prestar contas.
Prestar contas: natureza comunional da Igreja
Todavia, continua Ghisoni ¡°a prestação de contas na Igreja, ao contrário do que possa parecer, não responde a exigências de caráter social e organizativo ou necessidade de transparência. Tais exigências - completa ¨C não devem ser minimizadas ou esquecidas, mas o fundamento da prestação de contas deve ser procurado na natureza própria da Igreja como mistério de comunhão¡±. Apoiada na natureza comunional toda a ação da Igreja faz sentido: mesmo uma ação marcada claramente por exigências de caráter social como pode parecer a prestação de contas, é preciso que seja reconduzida à própria natureza da Igreja, ou seja, à sua dimensão comunional¡±. ¡°E o que isso pode significar no nosso âmbito?¡±, pergunta-se a doutora Ghisoni. ¡°Significa falar abertamente dos abusos¡±.
¡°Tomar consciência do fenômeno e assumir a própria responsabilidade não é uma fixação não é uma ação inquisitória para satisfazer simples exigências sociais. Mas uma exigência que nasce da própria natureza da Igreja como mistério de comunhão, fundado na Trindade, como Povo de Deus a caminho, que não evita, mas enfrenta, sempre com renovada consciência comunional, também os desafios ligados aos abusos ocorridos dentro da Igreja contra os menores que ameaçam e dividem esta comunhão¡±.
Questões eclesiológicas
Em seguida a doutora Ghisoni detém-se sobre algumas questões eclesiológicas consequentes: ¡°Somente a partir da visão da Igreja como sacramento que manifesta o mistério da comunhão trinitária, é possível compreender corretamente a variedade dos carismas, dos dons e ministérios da Igreja, a variedade dos papéis e das funções dentro do Povo de Deus¡±. Seguindo esta temática, a professora fala sobre a relação entre o Bispo e o presbítero:
Communio que constitui a Igreja
Ainda na visão de Igreja comunhão, Povo de Deus a caminho, uma nota a ser mencionada é a exigência de ¡°interação entre os vários carismas e ministérios¡±, evidencia-se a partir desta communio, ¡°uma necessária contribuição diversificada de todos, não para reclamar o protagonismo de alguém, mas para tornar visível a riqueza multiforme da Igreja no respeito da individualidade de cada um, com a pretensão de que o carisma da síntese seja a síntese dos carismas¡±.
A professora afirma: ¡°É o fundamento comunional da Igreja que nos indica o caminho e o método, neste caso de um dinamismo de envolvimento de todo o Povo de Deus que comporta: viver, caminhar juntos, a sinodalidade como processo partilhado, na qual cada um tem sua parte, responsabilidades diversificadas, mas onde todos continuem a ser uma única Igreja¡±.
¡°Voltar à natureza comunional da Igreja , onde se realizam as diversidades de carismas e ministérios não significa redução mas comporta riqueza e força, ajuda a encontrar as razões para evitar slogans extremos e improdutivos¡±.
Pontos práticos
Ao falar sobre os pontos concretos a serem sugeridos, a professora inicia recordando a importância de conhecer e estudar práticas já aplicadas e eficazes promovidas em alguns contextos eclesiais.
Sobre as diretrizes nacionais a serem seguidas sugere ¡°um capítulo específico que determine motivos e procedimentos para prestação de contas, para que os Bispos e os Superiores religiosos estabeleçam um procedimento de verificação ordinária¡±. Em seguida apresenta as possibilidades de prestação de contas entre todos os envolvidos nos casos que possam ocorrer, ¡°mas quanto ao Bispo¡±, pergunta-se a professora, ¡°a quem deve prestar contas?¡± e continua ¡°Determinar uma realidade de responsabilização não o enfraquece na sua autoridade, ao contrário, o valoriza como pastor de um rebanho, que dentro de sua própria função não está separado do povo para o qual foi chamado a dar a vida¡±.
Depois a doutora, sugere que no território de cada Conferência Episcopal sejam criadas comissões consultivas independentes para aconselhar e assistir os Bispos e Superiores religiosos e promover um nível uniformizado de responsabilidade nas várias dioceses.
Também foram sugeridas a consideração de criar uma sede central para promover a formação destes organismos com uma identidade propriamente eclesial; a revisão da atual normativa sobre o segredo pontifício, evitando a ideia de que o segredo seja utilizado para esconder problemas ao invés de proteger os bens que estão em jogo; e por fim a importância de afinar critérios para uma correta comunicação combinada com a confidencialidade.
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