Editorial: Acordo com a China, in¨ªcio de um processo
Silvonei José - Cidade do Vaticano
O anúncio há muito esperado chegou no primeiro dia da viagem do Papa Francisco aos países bálticos, Lituânia, Letônia e Estônia. A Santa Sé e o governo chinês assinaram no último dia 22 de setembro um ¡°Acordo Provisório sobre o nomeação dos Bispos¡±. Esse acordo, explicou uma declaração divulgada pelo Vaticano, é "o resultado de uma gradual e recíproca aproximação, e é estipulado após um longo processo de ponderada negociação e prevê avaliações periódicas sobre sua implementação". O Acordo "trata da nomeação de Bispos, um assunto de grande importância para a vida da Igreja, e cria as condições para uma colaboração bilateral mais ampla".
O histórico acordo foi assinado na capital chinesa por Mons. Antoine Camilleri, subsecretário para as relações com os Estados, e Wang Chao, vice-ministro das Relações Estrangeiros da República Popular da China, respectivamente chefes das duas delegações. E é esperança compartilhada que este acordo favoreça um fecundo caminho do diálogo institucional e contribua positivamente ¡°para a vida da Igreja Católica na China, para o bem do povo chinês e para a paz no mundo".
Como ato contextual para alcançar o acordo sobre uma questão que há décadas criou divisões e atritos, com a divisão da Igreja chinesa entre "patriótica", fiel ao governo, e "clandestina" como tal perseguida, o Papa "decidiu readmitir à plena comunhão eclesial os restantes Bispos "oficiais" ordenados sem Mandato Pontifício.
Francisco "espera que, com as decisões tomadas, se possa iniciar um novo caminho, que permita superar as feridas do passado realizando a plena comunhão de todos os católicos chineses. Entre as decisões o Papa também constituiu na China continental, na província de Hebei, a nova Diocese de Chengde, sufragânea de Pequim, a primeira há 70 anos.
"Este não é o fim de um processo." É o começo. Tratou-se de diálogo, escuta paciente de ambos os lados mesmo quando as pessoas vêm de pontos de vista muito diferentes", comentou o diretor da Sala de Imprensa vaticana Greg Burke. Afirmou ainda que "o objetivo do acordo não é político, mas pastoral, permitindo que os fiéis tenham bispos em comunhão com Roma, mas ao mesmo tempo reconhecidos pelas autoridades chinesas".
Para o cardeal secretário de Estado Pietro Parolin, a assinatura do Acordo "se reveste de grande importância, especialmente para a vida da Igreja Católica na China e para o diálogo entre a Santa Sé e as Autoridades civis daquele país, mas também para a consolidação de um horizonte internacional de paz, neste momento em que estamos experimentando tantas tensões em todo o mundo".
O Papa Francisco no seu retorno da viagem aos países bálticos, conversando com os jornalistas respondeu calmamente às críticas sobre a reviravolta amadurecida sábado último, como o Acordo que levou dez anos para ser assinado: o Vaticano teria "vendido" a Igreja a Pequim. O Papa disse textualmente, ¡°o Acordo Eu mesmo assinei", "eu sou o responsável", e pedi para "rezar" por aqueles que, "tendo muitos anos nas costas de clandestinidade", hoje não entendem o seu alcance. Em todos os acordos de paz, recordou, ambos os lados perdem algo e todavia agora, afirma, é o Papa quem nomeia os bispos chineses.
O texto do Acordo não foi divulgado porque tem a característica de ser um texto, sim em vigor e normativo, mas provisório e, em certo sentido, também experimental. Futuras revisões e futuras melhorias são possíveis e desejáveis.
Na última quarta-feira o Papa Francisco dirigiu uma mensagem aos católicos chineses e a todos os fiéis depois da divulgação do Acordo.
Francisco convidou todos os católicos do país a fazerem-se artífices de reconciliação. Assim, escreveu, é possível dar início a um percurso inédito, que ajudará a curar as feridas do passado, restabelecer a plena comunhão de todos os católicos chineses e abrir uma fase de colaboração mais fraterna, para assumir com renovado empenho a missão do anúncio do Evangelho.
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