Editorial: O caminho do testemunho
Silvonei José – Cidade do Vaticano
“Não se contentem com o passo cauteloso daqueles que se colocam no fim da fila. É preciso a coragem de arriscar um salto à frente, um salto audaz e temerário para sonhar e realizar como Jesus o Reino de Deus, e trabalhar por uma humanidade mais fraterna. Nós precisamos de fraternidade. Corram o risco, vão em frenteâ€: pensamentos fortes do discurso dirigido pelo Papa Francisco aos jovens italianos na noite do último dia 11 de agosto, na conclusão do intenso encontro e da vigília de oração no Circo Máximo de Roma.
Havia mais de 70 mil jovens, com camisetas coloridas e escritas "Estamos aqui!". Eram provenientes de toda a Itália - de 195 dioceses das 226 - neste evento pré-sinodal "Por mil estradas, em direção a Roma" desejada pela Conferência Episcopal Italiana, CEI. Foi um duplo encontro com Francisco; na noite de sábado (11/08) no Circo Máximo e no domingo de manhã na Praça São Pedro. E o Pontífice, em um evento que também foi uma grande festa – que continuou noite a dentro com o concerto e depois com a Noite Branca nas igrejas de Roma - não fugiu das perguntas de jovens sobre as questões que estão nos seus corações.
Caminhar juntos
“A Igreja tem necessidade do seu ímpeto, das suas intuições, da sua féâ€, disse Francisco. Caminhando juntos, nestes dias, vocês experimentaram o quão difícil é acolher o irmão ou o
irmã que está ao lado, mas também quanta alegria pode dar a sua presença se eu o recebo na minha vida sem preconceitos e fechamentos. Caminhar sozinho permite que você se liberte de tudo, mas caminhando juntos faz com que nos tornemos um povo, o povo de Deus. E isso dá segurança: segurança – disse Francisco - de pertencer ao povo de Deus e com o povo de Deus você se sente seguro, você tem identidade. Um provérbio africano, recordou o Papa, diz: 'Se você quiser andar rápido, corra sozinho. Se você quiser ir longe, vá junto com alguém", acrescentou em meio a aplausos estrondosos.
Francisco voltou a falar dos sonhos dos jovens e que seus sonhos são um pouco assustadores para os adultos, “talvez porque eles pararam de sonhar e de arriscar, talvez porque o sonho de vocês – disse -, colocam em crise suas escolhas de vidaâ€. Mas vocês não deixem roubar seus sonhosâ€, exortou Francisco com voz juvenil em meio à multidão de jovens. “Porque um jovem que não sabe sonhar é um jovem anestesiado". Pior ainda, voltou a levantar o tom Francisco, são "os jovens de sofá", ou aqueles "sem sonhos que se aposentam a 20-22 anos". E para fazer um exemplo de um jovem que "sonhava grande", o Papa usou o exemplo do santo do qual ele tomou o nome: "Seu nome era Francisco, ele mudou a história da Itália.
Amor: tudo ou nada
E ainda, e desta vez num tom duro, um 'não' absoluto, uma forte admoestação: 'Padre, onde posso comprar as pílulas que me fazem sonhar? Não, essas não, disse Francisco! Essas pílulas adormecem o coração, queimam os neurônios, arruínam a sua vida". O Papa então, entrando nas escolhas de vida, sempre instigado pelas perguntas dos jovens disse: "o amor não tolera meias medidas. Ou tudo ou nada. E o amor, para fazê-lo crescer, não quer brechas: o amor deve ser sincero, aberto, corajoso. E no amor você deve colocar toda a carne na grelha, disse recordando a sua Argentina.
Palavras também, como não poderia ser, para a Igreja. "A Igreja sem testemunho é só fumaça", advertiu com palavras duras. Onde não há testemunho, não há o Espírito Santo. "O escândalo é uma Igreja formal, que não testemunha. O escândalo é uma igreja fechada", disse novamente Francisco, voltando a condenar o jeito de ser clerical. “Isso diz respeito a todos nós. O clericalismo é uma perversão da Igreja".
Sínodo dos jovens
Certamente os jovens presentes em Roma nestes dias saíram de Roma com o coração inflamado pelas palavras de Francisco, que mais uma vez colocou lenha na fogueira de sua existência, eles jovens, presente e futuro da Igreja e da sociedade. Uma prova do que será o Sínodo dos jovens no mês de outubro. Serão os bispos provenientes de todas as partes do mundo que debaterão, refletirão e ajudarão Francisco nas respostas aos questionamentos dos jovens. Uma Igreja jovem, com espírito de doação, que quer ser protagonista como tanto deseja Francisco.
Francisco disse aos jovens que Jesus bate à porta, mas de dentro, para que o deixemos sair, porque nós, muitas vezes, sem testemunho, o mantemos prisioneiro das nossas formalidades, dos nossos fechamentos, dos nossos egoísmos, do nosso modo de viverâ€.
O Papa deu o tom aos jovens, ensinando o caminho de saída de nós mesmos, o caminho do testemunho. Agora toca a eles realizarem esse caminho.
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