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Editorial: Escravidão moderna

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Silvonei José - Cidade do Vaticano

No início desta semana o Papa Francisco voltou a tocar a tecla da escravidão moderna, e o fez através de uma mensagem vídeo enviada ao 2º Fórum Internacional sobre as formas modernas de escravidão intitulado “Velhos problemas no novo mundo”. O encontro foi organizado em Buenos Aires, pela arquidiocese ortodoxa local e pelo Instituto Ortodoxo “Patriarca Atenágoras” de Berkley, EUA. O fórum se concluiu na terça-feira, dia 08 de maio. 

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Compromisso comum

Contra as formas modernas de escravidão, devemos “rasgar o véu da indiferença que cobre o destino” das vítimas, criar para elas, através de “uma educação de qualidade, novas oportunidades de crescimento através do trabalho”. E as igrejas – disse o Papa -, são chamadas a um compromisso comum neste desafio, “para a construção de uma sociedade renovada”.

Já no início de sua mensagem, em espanhol, Bergoglio recorda que a escravidão não é algo de outros tempos, mas tem profundas raízes e se manifesta ainda hoje de várias formas: “tráfico de seres humanos, exploração do trabalho por meio de dívidas, exploração de crianças, exploração sexual e trabalho doméstico forçado são algumas das muitas formas”. Cada uma delas – volta a reafirmar Francisco -, “é mais grave e desumana que a outra”.

Crime contra a humanidade

De acordo com estatísticas recentes, atualmente existem mais de 40 milhões de pessoas, homens, mas principalmente mulheres e crianças, em situação de escravidão e para o Papa a primeira grande tarefa, é conhecer o tema, pois “ninguém pode ficar indiferente e, de modo algum, ser cúmplice desse crime contra a humanidade”.

Nas suas palavras Francisco evidencia que muitas pessoas que estão envolvidas com organizações criminosas, não desejam que se fale sobre o assunto, simplesmente pelo fato de que ganham muito dinheiro graças “às novas formas de escravidão”. Mas também, e essa é a outra constatação do Santo Padre, há aqueles que, apesar de conhecerem o problema, não querem falar porque estão no fim da “rede de consumo”, como consumidores dos “serviços”; serviços oferecidos por homens, mulheres e crianças que se tornaram escravos.

Não podemos nos distrair 

Somos todos chamados a deixar as formas de hipocrisia. Não podemos nos distrair - afirma o Papa -, devemos enfrentar a realidade pois o problema não está nas calçadas diante de nós: o problema nos envolve. “Não podemos olhar para outro lado e declarar a nossa ignorância ou nossa inocência”.

Mas Francisco não para por aqui, vai mais longe. Pede para agir em favor dos que se tornaram escravos. É preciso defender seus direitos, impedir que os corruptos e os criminosos escapem da justiça e mantenham o controle sobre as pessoas escravizadas. Não são suficientes políticas de Governos e Organismos Internacionais para o combate da exploração de seres humanos, se as causas não forem enfrentadas, ou seja, “as raízes mais profundas do problema”.

Quando os países vivem a pobreza extrema, a violência e a corrupção, nem a economia, nem o quadro legislativo e nem as infraestruturas de base são eficazes. Assim não conseguem garantir a segurança, os bens e os direitos essenciais. Deste modo, é mais fácil que os autores desses crimes continuem agindo na mais total impunidade.

O crime organizado e o tráfico ilegal de seres humanos escolhem as vítimas entre as pessoas que hoje possuem meios escassos de subsistência e menos esperança de futuro. Elas estão “entre os mais pobres, marginalizados e descartados”. A resposta, diz Francisco é criar oportunidades para um desenvolvimento humano integral, iniciando pela educação de qualidade: este é o ponto chave, “educação e trabalho”.

Liberdade, justiça e paz

É necessário então um grande trabalho, um esforço comum e global por parte de toda a sociedade. E a Igreja – enfatiza o Papa – “deve se comprometer nessa tarefa. Devemos construir juntos uma sociedade renovada e orientada à liberdade, à justiça e à paz.

Enquanto indivíduos e grupos especulam vergonhosamente sobre a escravidão de pessoas, nós cristãos, todos juntos, somos chamados a desenvolver sempre mais uma maior colaboração para superar todo tipo de desigualdade, todo tipo de discriminação, que são precisamente o que torna possível o fato de um homem se tornar escravo de outro homem.

É um exército de deserdados do qual o Papa Francisco é rosto e voz.

 

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12 maio 2018, 08:00