Cardeal Tauran na Arábia Saudita: a religião é o que uma pessoa tem de mais precioso
Cidade do Vaticano
“O que nos ameaça não é o choque de civilizações, mas o choque de ignorâncias e radicalismos. Conhecer-se é reconhecer-seâ€. São palavras do cardeal Jean-Louis Tauran, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso, durante o encontro com o xeque Muhammad Abdul Karim Al-Issa, Secretário-geral da Liga Muçulmana Mundial (LMM).
Ao chegar a Riad na última sexta-feira (13/04), o cardeal foi recebido pelo príncipe Mohammed bin Abdurrahman bin Abdulaziz, vice-governador da capital e pelo próprio secretário da LMM. Também estava presente o bispo secretário do dicastério, o comboniano dom Miguel Ángel Ayuso Guixot, vindo de Nairóbi. A delegação vaticana, da qual faz parte também mons. Khaled Akasheh, do departamento do Islã, ficará até a próxima sexta-feira 20, no reino saudita, terra natal do Islã e onde estão os dois mais importantes lugares sagrados dos muçulmanos, a Meca e a Medina. Durante a sua permanência o card. Tauran encontrou também um grande número de cristãos que aqui se encontram a trabalho, dirigindo-lhes palavras de encorajamento.
A hospitalidade espiritual promove a amizade e contrasta os preconceitos
Durante a reunião com o secretário-geral da LMM falou-se de encontros anteriores em Roma, em 21 de setembro de 2017, com o Papa Francisco e com o próprio Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso. O cardeal Tauran, por sua vez, recordou que os lugares sagrados cristãos, “na Terra Santa, em Roma ou em outros lugares, assim como os numerosos santuários em várias partes do mundoâ€, estão “sempre abertos a todos nossos irmãos e irmãs muçulmanos, para os fiéis de outras religiões e também a todas as pessoas de boa vontade que não professam qualquer religiãoâ€.
Também acrescentou, “em muitos países, as mesquitas estão abertas a visitantes†e “isto é o tipo de hospitalidade espiritual que ajuda a promover o conhecimento mútuo e a amizade, contrastando os preconceitosâ€. Falando disso o cardeal recordou que “a religião é o que uma pessoa tem de mais precioso. É por isso que alguns, quando são chamados a escolher entre conservar a fé e manter a vida, preferem pagar o alto preço da vida: são os mártires de todas as religiões e de todos os temposâ€.
O cardeal falou sobre fundamentalismo
“Em todas as religiões – afirmou – há radicalismos. Talvez os fundamentalistas e os extremistas sejam pessoas zelosas, que porém, infelizmente, se desviaram de uma compreensão sólida e sábia da religião. Além disso, consideram todos os que não compartilham de sua visão como infiéisâ€, que “devem se converter ou ser eliminados, para assim manter a purezaâ€. São pessoas confusas que “podem passar facilmente à violência em nome da religião, incluindo o terrorismo. São convencidas, pela lavagem cerebral, de que estão servindo a Deus. A verdade é que estão somente fazendo mal a si mesmas, destruindo os outros, destruindo a imagem da sua religião e dos seus correligionáriosâ€. Por isso, “precisam da nossa oração e da nossa ajudaâ€.
Regras comuns para a construção de lugares de culto
Depois de esclarecer que “a religião pode ser proposta, jamais imposta, e também aceita ou recusadaâ€, o cardeal Tauran falou que “um dos campos em que cristãos e muçulmanos devem estar de acordo já que no passado houve muita competição entre as duas comunidadesâ€, é o “das regras comuns para a construção de lugares de cultoâ€. De fato, “todas as religiões devem ser tratadas do mesmo modo, sem discriminações, porque seus seguidores, assim como os cidadãos que não professam nenhuma religião devem ser tratados do mesmo modoâ€, evidenciou aludindo ao tema sempre atual da “plena cidadania†para todos. Mesmo porque “se não eliminarmos medidas desiguais do nosso comportamento como crentes, instituições religiosas e organizações, alimentaremos a islamofobia e o anticristianismoâ€. Neste contexto, relevou o cardeal Tauran, “os líderes espirituais têm um dever: evitar que as religiões estejam a serviço de uma ideologiaâ€, e saber “reconhecer que alguns nossos correligionários, como os terroristas, não estão se comportando corretamente. O terrorismo é uma ameaça constante, por isso temos que ser claros e não justificá-lo jamais. Os terrorismos querem demonstrar a impossibilidade de convivência. Nós acreditamos no exato contrário. Devemos evitar a agressão e a difamaçõesâ€.
Deus, que nos criou, não seja motivo de divisão, mas de unidade
O pluralismo religioso “é um convite a refletir sobre a nossa fé, porque todo o diálogo inter-religioso autêntico inicia com a proclamação da própria fé. Não podemos dizer que todas as religiões são iguais, mas que todos os crentes, os que buscam Deus e todas as pessoas de boa vontade sem uma filiação religiosa, têm a mesma dignidade. Cada um deve ser deixado livre para abraçar a religião que quiserâ€. Destas palavras a exortação conclusiva a unir o empenho “para que Deus, que nos criou, não seja motivo de divisão, mas de unidadeâ€.
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